Mega Ferreira argumentou ainda que a influência da Expo'98 se notou em todo país, que passou a estar dotado de vários pavilhões multiusos, "e no mobiliário urbano descobriu-se o ‘design’".
"Os bancos que eram de toros pintados de verde e com pernas de ferro, passam a ser pensados por arquitetos como Carrilho da Graça e Siza Vieira", disse o também escritor e ex-jornalista.
“Quem tivesse saído de Lisboa, a 30 de setembro de 1998, dia do encerramento, inesquecível, da Expo’98, e voltasse 20 anos depois, teria muita dificuldade em perceber que cidade é esta”, afirmou Mega Ferreira, acrescentando que, nestes últimos 20 anos, aconteceu uma “transformação importantíssima na vida na cidade de Lisboa, no aspeto da cidade, e, sobretudo, nos hábitos e nos comportamentos dos seus habitantes”.
Referindo-se aos hábitos e comportamentos na cidade, Mega Ferreira contou como há 20 anos era difícil encontrar lugar numa esplanada em Lisboa, que eram poucas, e, atualmente, “a baixa [pombalina] é toda uma gigantesca esplanada”, e tal não se deve ao “boom turístico dos últimos anos, mas a um movimento que começou antes”.
Esse movimento começou com a Expo’98 que trouxe um conceito inovador, a noção de usufruto do espaço público. “A pessoas descobriram não só a fruição da zona ribeirinha, e do rio Tejo, mas também do espaço aberto onde se pode andar e circular, olhar as vistas, os edifícios, e as outras pessoas, e os jardins onde se podem rebolar”.
“Uma experiência que marcou gerações de portugueses; os que foram à Expo e os que depois dela frequentam o Parque das Nações", disse.
“Este aspeto do espaço público contaminou o país inteiro, e de repente pulularam os projetos multiusos”, acrescentou.
Referindo-se às imediações do atual Parque das Nações, núcleo urbano em que se transformou o recinto da Expo’98, que visitou recentemente, Mega Ferreira afirmou que “aquilo está tudo a mexer” e teve “o grato prazer” de ver construir o projeto urbanístico para a zona da Matinha.
“Tudo aquilo está a mexer, os ateliês dos artistas, as boutiques, as galerias, as lojas, etc., etc., e esse foi sempre o objetivo: o exemplo da Expo tinha de contaminar o resto da cidade, e o que eu vi é que a contaminação naquela zona envolvente é positiva”, sentenciou.
Outra referência da Expo’98, na atualidade, são os novos traçados de avenidas da capital, “e não pretendendo tornar-se modelo, foi assumindo como tal”, disse.
O atual diretor executivo da Associação Música, Educação e Cultura/Metropolitana foi hoje o convidado especial do almoço-debate promovido pelo International Club of Portugal, onde foi “uma surpresa grata ter reencontrado tantos antigos colaboradores da Expo’98”, como disse ao abrir a sua alocução.
“O grande ausente deste almoço” foi António Cardoso e Cunha que foi comissário da Expo’98, disse Mega Ferreira, que aproveitou a presença do filho, Miguel Cardoso e Cunha, para lhe transmitir “a gratidão de todos os que trabalharam ma Expo’98, pelo extraordinário trabalho que ele fez”, e enfatizou em seguida: “Sem ele, a Expo não teria sido possível”.
Mega Ferreira afirmou que “a Expo sobreviveu à sua própria vida efémera”, que era o evento internacional, subordinado aos oceanos. "A Expo envelheceu bem, é hoje uma rapariga de 20 anos que não está nada passada no tempo”.
O escritor, autor do livro de contos “A expressão dos afetos”, terminou a sua alocução com uma picardia, como referiu.
Na imprensa, aquando da Expo’98, foi vaticinado que “passados dez anos a zona seria um deserto e o Dr. Mega Ferreira apareceria esfaqueado por um bando de meliantes que ali andavam à solta”.
“Vinte anos depois, ainda cá estou e a Expo também”, disse Mega Ferreira reconhecendo que, na época, “andava bem”, e agora usa bengala.
[Notícia atualizada às 19:02]
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