O CD “Fado Women. Sublime voice”, da Seven Muses, reúne gravações de Amália Rodrigues (1920-1999), Maria Teresa de Noronha (1918-1993), Hermínia Silva (1907-1993), Berta Cardoso (1911-1997) e Fernanda Maria, nascida há 80 anos no bairro lisboeta da Mouraria.
“Estas são, talvez, as vozes femininas que melhor souberam dignificar o fado, indiscutivelmente, sendo tão diferentes e tendo pugnado sempre por essa diferença, que é a sua autenticidade, a sua marca de água, inimitáveis”, disse à agência Lusa Julieta Estrela de Castro, que iniciou carreia de fadista na década de 1950.
De Amália Rodrigues, foram escolhidos os temas “Dura Memória”, de Luís de Camões, musicado por Alain Oulman, que compôs para “Vagamundo”, de Luís Macedo, também incluído neste CD, e ainda “Acho Inúteis as Palavras”, de António Sousa Freitas, no Fado Menor do Porto, e “Vamos os Dois para a Farra”, de João Linhares Barbosa, musicado por Domingos Camarinha.
“Amália deixou uma escola enorme, e tinha as capacidades para tornar qualquer coisa que cantasse algo único, inimitável, ninguém ainda hoje o consegue, tem uma cor de voz e extensão únicas, sem gritos, e com grande musicalidade”, realçou Julieta de Castro.
“Fez tudo o que tinha para fazer, não há nada que se possa fazer melhor, acho até que é um exagero as pessoas atualmente quererem cantar como a Amália, ou tentarem dar as voltas que ela dava. Até os temas que não foi ela que criou, como ‘Casa Portuguesa’, acabou por ser a interpretação de Amália que prevaleceu até hoje, e é referencial”, sentenciou.
Julieta Estrela referiu que “Amália aliava as capacidades únicas a uma inteligência arguta e a forma de estar que a fez rodear de outros grandes criadores, como David Mourão-Ferreira, Frederico Valério ou Alain Oulman, para citar alguns”.
“Começou a cantar Linhares Barbosa e, quando se deu por ela, estava a cantar Camões, e foi aceite por todos”, afirmou, realçando ainda “as portas que Amália abriu, não só em termos de palcos, como de respirações poéticas e musicais”.
Julieta Estrela recordou a “versatilidade das intérpretes que não se deixam confundir, algo extraordinário que marcou o fado”. “Hoje dificilmente encontramos tanta diversidade”.
A fadista deu como exemplo a melodia tradicional do Fado Triplicado, de José Marques, que neste CD é interpretado por Hermínia Silva, com “O Bom Fado”, de Guilherme Pereira da Rosa, e por Maria Teresa de Noronha, com “Desengano”, de Mário Piçarra.
“Como é tão diferente a forma como cada uma delas escolheu para abordar a melodia, como a entendem, e a transmitem, não se confundindo, e cada uma criando uma linha melódica inédita”, sublinhou.
Maria Teresa de Noronha “é o que consideramos uma estilista, completamente, pegava nos temas e ‘estilizava-os’ à sua maneira, basta citar o Fado das Horas, que ela deixou, e que o cantou em vários estilos”, referiu Julieta de Castro, coautora do livro/CD “Manuel Fernandes, uma História por Contar” (2015).
Hermínia Silva é “um caso único, irrepetível, que se destacou muito especialmente no fado-canção”. Desta fadista, o CD inclui também “História do fado”, “Maldito Fado” e “Fado do Cavaleiro Tauromáquico”.
Berta Cardoso “tinha uma dição impecável, o que é essencial para transmitir a mensagem, e uma história que ela contasse, quando a cantava, compreendia-se lindamente”. Entre outros temas, neste CD, por Berta Cardoso, surge “Tia Macheta”, um dos seus maiores êxitos, e “Perna de Pau”.
Referindo a atitude “‘fadistona’, como dizemos na gíria fadista, e até reguila, a Fernanda Maria começou a cantar muito cedo, e raras são as pessoas que cantam como [ela] canta, é genuína, é uma característica sua, é inato, que a diferencia das demais”.
Desta intérprete, o CD inclui, entre outros, “Saudade Vai-te Embora”, de Júlio de Sousa.
“Todas elas são inimitáveis, não há hipótese para ninguém, sequer tentar aproximar-se, são únicas e irrepetíveis”, argumentou Julieta de Castro, que realçou o interesse de edições deste tipo que permitem “comparar vozes diferentes e estilos distintos, todos tão excelentes, dando-nos diferentes perspetivas do fado, principalmente para os jovens”.
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