A atriz Inês Pereira deu o mote para várias intervenções que se viriam a seguir, quando, ao receber o prémio para melhor espetáculo teatral por “A vertigem dos animais antes do abate”, dos Artistas Unidos, leu o comunicado, subscrito “por 650 atores em menos de 24 horas”, de protesto contra os atrasos na Direção-Geral das Artes.
Perante uma plateia que incluía o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado, Inês Pereira declarou que aguardaram “com esperança esta nova Secretaria de Estado da Cultura” e aguardaram que “o ano de 2017 servisse para uma remodelação efetiva dos apoios às artes”, tendo continuado em 2017 com “a mesma situação de miséria que se instalou no quadriénio anterior”, deparando-se agora com "atrasos incompreensíveis na avaliação, e consequentemente, na disponibilização das verbas da DGArtes".
Logo de seguida, João Pedro Mamede, vencedor pelo melhor texto português representado, leu uma publicação do encenador Jorge Silva Melo, ausente da cerimónia, que saudava o anúncio feito, na terça-feira, pelo primeiro-ministro, António Costa, de um reforço nos apoios às artes, mas realçava que “o tremendo disparate começou com o tão anunciado ‘Novo Modelo de Apoio’ (um ano de ‘estudos’ para uma coisa daquelas?), com a confusão entre iniciativas de Estado e iniciativas fora do Estado, entre criação e programação, entre companhias e salas, entre salas e teatros”.
A galardoada com o prémio de melhor atriz em teatro, Rita Cabaço, agradeceu o galardão, mas disse não se sentir com “grande alento para o festejar”.
“É desconsolador e perigoso a desconsideração que é dada à comunidade artística, quando é na minha profissão que encontro a forma para me expressar contra aquilo que não só não acredito como repudio”, afirmou.
Minutos depois, o escritor e jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho, que venceu o prémio de melhor livro de ficção narrativa por “O pianista do hotel”, iniciou o seu discurso de agradecimento dizendo assinar por baixo e reafirmar tudo o que foi dito antes sobre os apoios às artes.
Noutro contexto, a também jornalista Sandra Felgueiras, a receber o prémio de melhor programa de informação televisiva pelo “Sexta às Nove”, salientou perante uma plateia onde também se encontrava o presidente da RTP, Gonçalo Reis, que num programa de investigação, ainda continuam a trabalhar três pessoas a 'recibos verdes', apelando para que a sua situação fosse corrigida.
O realizador e argumentista Marco Martins, por seu lado, enalteceu o ano que o cinema português teve em 2017, classificando-o como “fantástico” e um “ano feito de autores, (…) que urge continuar a proteger”.
Assim, 2017 foi um ano “feito de filmes sem compromissos, sem cedências, fieis à visão dos seus próprios autores. E ela não pode ser condicionada de nenhuma forma, quer por falta de apoio, quer nas formas como esses apoios são dados aos filmes”.
A gala da SPA decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e foi apresentada por Ana Zanatti e por Virgílio Castelo, sendo o prémio anual para a programação autárquica entregue à Câmara Municipal do Seixal.
Os prémios Autores procuram distinguir “os mais importantes autores e obras que marcaram intensamente a vida cultural e artística portuguesa” no ano que passou, segundo a SPA, que distinguiu este ano o neurocientista António Damásio com o prémio Vida e Obra.
As categorias abrangidas são as de Televisão, Dança, Rádio, Artes Visuais, Literatura, Teatro, Cinema e Música, contando todas elas com júris especializados de três elementos.
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