O protocolo entre a Câmara de Cascais e a Presidência da República vai ser “assinado em breve”, adiantou o presidente da Fundação, Salvato Teles de Menezes, que fala igualmente à Lusa do edifício Cruzeiro, no Monte Estoril, cujas obras deverão estar concluídas em 2022, para passar a ser o espaço central da “Vila das Artes”, agregando diferentes valências.
Quanto à Cidadela de Cascais é a residência oficial de verão do Chefe de Estado, tendo sido habitada, sazonalmente, pelos reis D. Luís e D. Carlos. O Museu da Presidência está aqui instalado, na Cidadela, complexo fortificado que já foi quartel do Regimento de Artilharia de Costa.
A programação vai ser gerida pela Fundação, “integrando de forma mais efetiva este espaço no Bairro dos Museus” do concelho, que, desde o ano passado até este mês recebeu 400.000 visitantes, disse à Lusa Salvato Teles de Menezes.
O bairro dos Museus, numa área próxima, inclui o Museu do Mar Rei D. Carlos, o Centro Cultural de Cascais (CCC), nas Casas do Gandarinha, o Museu Condes de Castro Guimarães, a Casa das Histórias – Paula Rego, o Museu da Vila, a Casa de Santa Maria, o Farol de Santa Marta, o Forte S. Jorge dos Oitavos, a Casa Duarte Pinto, o Arquivo Histórico de Cascais – Casa Sommer, a Fortaleza de N. S. da Luz e o Parque Carmona.
A Fundação gere ainda o auditório Fernando Lopes-Graça, no Parque Palmela, e, na área da música, tem assumido projetos com a Casa Verdades de Faria – Museu da Música Portuguesa.
“Na área das artes performativas iremos ter novidades no próximo ano, com a requalificação do Edifício Cruzeiro [no Monte Estoril], que será um espaço para o Teatro Experimental de Cascais [desde 1979 instalado num antigo picadeiro], para a Sinfónica de Cascais e a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras”, ambas sob a direção artística do maestro Nikolay Lalov.
O edifício Cruzeiro, no Monte Estoril, que remonta ao início dos anos de 1950 e foi o primeiro centro comercial do país, irá ter novas funções como um conservatório de teatro e de dança, um auditório, uma galeria, pisos de estacionamento e vai ser o espaço central do projeto “Vila das Artes”.
O centro de Artes receberá também o acervo da filmoteca de José de Matos-Cruz, cuja bedeteca está na Biblioteca de S. Domingos de Rana, e ciclos de cinema dedicados a autores e géneros menos conhecidos do público.
“As obras estão em bom ritmo e, em 2022, devemos inaugurar este novo espaço de arte e cultura”, disse à Lusa Teles de Menezes, cujo mandato à frente da Fundação termina nesse ano.
Salvato Teles de Menezes está à frente da Fundação D. Luís I desde 2009. Foi professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em 1973, em Filologia Românica.
Teles de Menezes, tradutor e gestor cultural, muito ligado ao cinema, foi presidente do Instituto Português da Arte Cinematográfica e Audiovisual (IPACA, 1995), tendo desempenhado outros cargos públicos, nomeadamente como adjunto, entre 2003 e 2004, do secretário de Estado da Cultura do XV Governo, chefiado por José Durão Barroso. De 2007 a 2009, presidiu ao festival de cinema Lisbon Village.
A Fundação D. Luís I foi uma iniciativa da Câmara de Cascais, que detém mais de metade do seu capital social, lançada em 1995, quando a autarquia era presidida por José Luís Judas, estando Salvato Teles de Menezes ligado à instituição, desde a sua criação.
À Lusa Teles de Menezes realçou o “sentido apartidário da Cultura” em Cascais, garantido pela Fundação D. Luís I, e referiu como “a cultura tem sido importante na identidade de Cascais como destino turístico”.
Segundo Teles de Menezes, num inquérito recente, registou-se “uma assinalável escolha da Cultura como motivo de atração” pela vila.
No concelho de Cascais, a fundação gere ainda a Casa Reynaldo dos Santos, na freguesia da Parede, que alberga os espólios de Reynaldo dos Santos, Maria de Sousa, Irene Quilhó dos Santos e Luís Alberto Quilhó Jacobetty, e o Espaço Memória dos Exílios, no Estoril, que inclui documentação e objetos relacionados à história dos refugiados que permaneceram na Costa do Estoril, de 1936 a 1955.
A 06 de abril vão ser inauguradas, nas Casas do Gandarinha – Centro Cultural de Cascais – Casas do Gandarinha, três exposições, uma de fotografia, de Vivian Maier, já anunciada antes do confinamento, que ficará patente até 18 de maio, outra do pintor Manuel Valente Alves, patente até 20 de junho, “Stimmung – O Sentimento da Paisagem” e, no espaço da antiga capela, ficará um projeto de Isabel Barahona com duas outras artistas plásticas, que permanecerá até 06 de junho.
Vivian Maier (1926-2009) trabalhou como ama desde a década de 1950, durante mais de 40 anos. Uma vida que passou despercebida no turbilhão quotidiano de Nova Iorque até que, em 2007, foi descoberta a sua obra: “um trabalho colossal composto por mais de 120.000 negativos, filmes em Super 08 e 16 mm, várias gravações, fotografias diversas e uma multitude de filmes”, refere a Fundação.
Esta primeira apresentação das fotografias de Vivian Maier, em Portugal, “oferece um vislumbre da visão requintada e da subtileza com que se apropriou da linguagem visual da sua época”, adianta a fundação.
A exposição ” Stimmung – O Sentimento da Paisagem” marca o regresso de Valente Alves à pintura, associando-a ao vídeo, à fotografia e ao desenho.
A instalação organiza-se em três salas, que representam três núcleos, sendo o ponto de partida, uma tela sua de 1989.
Na primeira sala são expostas paisagens imaginárias e céus com nuvens, sem lugar nem tempo definidos, pintadas com acrílico sobre tela, numa estratégia de representação atemporal, pré-romântica. Na segunda sala, será exposta uma paisagem pintada, também imaginária, e projetado o vídeo “My Ocean”, que revela a experiência vivida pelo artista de um lugar concreto, o Parque Natural Sintra – Cascais, durante seis meses, de outubro do ano passado a março deste ano.
Na terceira sala, expõem-se fotografias antigas e recentes e uma série de desenhos e pinturas recentes. “Neste núcleo, o sentimento da paisagem complexifica-se. Surge o jardim. A arquitetura impõe-se, a cultura tenta domesticar a natureza. Emerge então o conceito de Arcádia, um modelo de paraíso terrestre idealizado por Virgílio [autor latino que viveu entre 70 e 19 antes de Cristo, autor de ‘Eneida’]”.
Outra exposição prevista para final de maio é a da coleção de escultura espanhola ICO, que inclui, entre outros, Salvador Picasso (1881-1973), realçou Teles de Menezes à Lusa.
No início de 2022, a Fundação conta apresentar uma exposição de fotografia de Stanley Kubrik (1928-1999), realizador de “Laranja Mecânica” (1971), que foi um dos jovens repórteres fotográficos da revista Look (1937-1971) rival da Life, no seu apogeu, e para a qual trabalhou a partir dos 17 anos, até à realização dos primeiros filmes, no início da década de 1950.
Foi ao serviço da revista Look que Stanley Kubrick esteve em Portugal, em 1948, num périplo pela Europa do pós-Guerra, tendo fotografado Lisboa e a Nazaré.
“Esta exposição inicia em Cascais o seu percurso pela Europa”, disse Teles de Menezes.
A Fundação organiza outras iniciativas como a Cátedra Cascais InterArtes, uma parceria com a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que tem como objeto de estudo autores ligados ao Município de Cascais, entre os quais Ana Hatherly, Bartolomeu dos Santos, Branquinho da Fonseca, David Mourão-Ferreira, Fernando Lopes-Graça, Herberto Helder, João Abel Manta, João Gaspar Simões, Maria Archer, Maria de Lourdes Martins, Mário-Henrique Leiria, Michel Giacometti, e Ruben A..
Recentemente, a Fundação, no âmbito do seu “roteiro poético”, aumentou, de nove para doze, o número de equipamentos culturais que o compõem.
Em 2017, a Fundação criou, com outras entidades, o Centro de Arte e Cultura Russa, coordenado pela embaixatriz Irina Marcelo Curto, instalado no Museu dos Condes de Castro Guimarães.
Este Centro estuda e desenvolve a conservação de peças russas existentes em coleções públicas ou privadas portuguesas. A Fundação organiza ainda, as residências literárias internacionais, coordenadas por Filipa Melo,
Estas residências permitem que, durante dois meses, escritores estrangeiros se fixem Cascais para trabalharem. Os próximos escritores serão o espanhol Javier Cercas e o cabo-verdiano Germano de Almeida.
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