Exibido na noite de quarta-feira na competição nacional do festival Curtas de Vila de Conde, a sinopse de “O Verde do Jardim” conta como o filme “segue um conjunto de personagens solitárias, à procura de um afeto que lhes escapa. A ligação entre Diana, uma transexual, e um motociclista acidentado permite uma luz de ternura entre duas pessoas distantes”.
Em declarações à Lusa, em Vila do Conde, o realizador do premiado “Cidade Pequena” explicou que foi viver para o Bairro da Fontinha, no Porto, para trabalhar na sua primeira longa-metragem (cujas filmagens se deverão iniciar ainda este ano), tendo nesse contexto tomado conhecimento de Diana Neves Silva, que vai também participar no novo filme, e percebido que havia uma vontade de lhe dedicar uma curta-metragem ficcional, para representar a forma como os dois se conheceram.
“Na altura, para ter um meio de transporte, comprei uma Scooter e lembro-me de perguntar onde é que podia deixar a Scooter durante a noite. Toda a gente no bairro me recomendara ‘ah, se calhar junto da Diana’, o que imediatamente me suscitou uma curiosidade. E depois fui percebendo que há muitos anos - cerca de 20 ou 30 - que a Diana está ali naquela esquina e de alguma forma há uma relação daquele bairro com ela, de uma espécie de Santa Protetora”, disse Diogo Costa Amarante.
O argumento foi escrito antes sequer de falar com Diana, numa conversa que se travou em moldes assim relatados pelo cineasta: “Olha, não só escrevi uma longa em que tu és uma personagem e que estive sempre a pensar em ti, como gostava muito de fazer uma curta só contigo”. Resposta: “Nada me espanta nessa tua conversa porque, das duas uma, ou tinhas um problema mental porque há um ano que eu te vejo aí sentado na mota à noite a olhar para mim ou então teria que haver outra coisa qualquer”.
“No fundo, acho que é isso: uma vontade minha muito grande de tentar capturar esta ideia de uma figura que, para mim, é uma espécie de uma estátua que pertence à cidade do Porto. E fez-me pensar em outras coisas: porque é que numa cidade e no Porto todas as estátuas são sempre homens em cavalos, guerreiros conquistadores e de repente há aqui uma figura que toda a gente conhece, que está sempre no mesmo sítio, e que de alguma forma toda a gente a conhece porque vê ali uma espécie de disponibilidade de amor a que todos podem aceder de alguma forma, e isso para mim sempre foi algo que me toca muito”, explicou o cineasta.
“O Verde do Jardim” parte, como nos filmes anteriores, do conflito entre a ficção e a realidade, sublinhou o realizador, para quem a curta-metragem se trata de “uma espécie de retrato lírico” que nasce da ficção para tentar dirigir "uma carta" àquela personagem que é a “guardiã do portal de acesso ao bairro”.
Apoiado pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual, “O Verde do Jardim” tem realização, produção, argumento e edição de Diogo Costa Amarante.
A curta-metragem volta a ser exibida hoje, em Vila do Conde.
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