Ora, se a mente que criou todo este mundo ainda se encontra a escrever num computador ancestral (num processador de texto com mais de 20 anos do sistema MS-DOS, o WordStar 4.0) os dois livros que faltam para completar a saga literária, o resto do planeta esperou e desesperou pela oitava e última temporada da série nela baseada. Só que a espera, finalmente, terminou. (Ou está a horas de terminar, vá, que ainda temos que esperar pelas 02h00 da madrugada de 15 de abril para que o episódio comece. Poderá assistir através do site da HBO Portugal via streaming ou na televisão através do SyFy Portugal.)
Pois bem, os fogachos do que aí vem têm surgido maioritariamente através das redes sociais daqueles que estão ligados ao projeto, nomeadamente executivos, produtores e atores. Já informação oficial ou confirmada... não há muito que se possa dizer. Isto é, além daquele teaser em que a Arya mostrou sentir coisas que ainda não tínhamos visto que a rapariga podia sentir, pouco ou nada se sabe. Certezas? Apenas que Inverno chegou, vai haver uma batalha de proporções épicas e que oitava e última temporada não terá nem 10 (como as seis primeiras) nem 7 episódios (como a sétima): terá "apenas" seis.
- Episódio 1 (14 abril): 54 minutos
- Episódio 2 (21 abril): 58 minutos
- Episódio 3 (28 abril): 1 hora e 22 minutos
- Episódio 4 (5 maio): 1 hora e 18 minutos
- Episódio 5 (12 maio): 1 hora e 20 minutos
- Episódio 6 (19 maio): 1 hora e 20 minutos
E sobre estes Richard Plepler, CEO da HBO, afirmou numa entrevista à revista especializada Variety que, tendo em conta aquilo que tinha visto (relembrando que se tratou apenas de uma versão preliminar sem efeitos especiais) o sentimento com que ficou é de que viu "seis filmes" e não seis episódios de uma série de televisão. Claro que é uma afirmação que tem o seu quê de suspeição, ou não tivesse sido proferida por alguém que está a (ou a dar luz verde para) pagar os ditos. No entanto, tendo sido reportado que custaram qualquer coisa como 90 milhões de dólares — o que coloca o custo de cada um deles a rondar os 15 milhões — vou arriscar e acreditar que não se trata de nenhuma bajulice da sua parte e que a coisa está só bem maneirinha.
Porém, toda esta conversa parece acarretar um sentimento agridoce. Por um lado, a expetativa e ânsia são enormes para os milhões de espetadores da Guerra dos Tronos com o regresso da série; por outro, esse mesmo regresso faz-se acompanhar de um vento de tristeza porque sabemos que estamos a assistir ao fim de algo que nos acompanhou durante quase 10 anos. No fundo, é pensar que 1996 marca o lançamento do primeiro livro sobre Westeros (A Guerra dos Tronos: As Crónicas de Gelo e Fogo), e 2019 marca a conclusão da série que o adaptou.
Mas toda esta lengalenga para se dizer o seguinte: se ainda não viu nada da Guerra dos Tronos e sente que o clímax é o momento ideal para pegar na série mais premiada de sempre dos Emmy (47!), não ceda à curiosidade alheia e não avance na leitura deste artigo — spoiler alert! Se por outro lado é daqueles que já dispensou 9 dias de trabalho (de 8 horas) para estar a par de toda a história sobre os Sete Reinos e viu na totalidade os 67 episódios (com 2.995 mortes pelo meio) que a compõem, então está são e salvo para seguir destemidamente em frente.
Pouco se sabe, mas há um sortudo que já viu tudo antes do resto do mundo
O trailer oficial lançado (em cima) deixou até ao mais careca dos fãs com os cabelos em franja. Mas a verdade é que grande parte do que se sabe (ou se pensa saber) sobre a nova temporada vem de uma reportagem da Entertainment Weekly (EW) — que teve acesso aos bastidores durante a rodagem da última temporada. E de acordo com a EW, o arranque dá-se em Winterfell com a chegada de Daeneyrs (interpretada pela atriz britânica Emilia Clarke, que revelou em março à New Yorker ter sido operada, aos 24 anos, a dois aneurismas, em 2011) sob o olhar atento de Jon Snow, Ser Jorah Mormont e Brienne de Tarth.
De resto, os detalhes sobre aquilo que a última temporada vai abordar pecam por escassos. E pouco ou nada se consegue tirar daquilo que atores têm revelado em entrevistas nas últimas semanas. Kit Harington (que dá vida a Jon Snow) aguçou a curiosidade alheia ao dizer que o final vai ser "terrível" para os nossos corações e Nikolaj Coster-Waldau (interpreta Jamie Lannister) revelou que não consegue "imaginar um fim melhor para terminar a série". No entanto, nenhum se descaiu ou mandou aquele tórrido spoiler ao estilo Mark Ruffalo quando este estava a promover o filme Vingadores: Guerra do Infinito (2018) da Marvel.
Ainda assim, ainda que o dinamarquês não tivesse revelado o final ou qualquer detalhe, poderá ter deixado algumas pistas, apesar de não ter tido nada em concreto. Segundo o ator algumas teorias dos fãs estão corretas e vão ao encontro com o final da série. O que nos deixa a ruminar e a conspirar sobre aquilo a que Nikolaj Coster-Waldau se estaria a referir.
Será que quis dizer que Bron Stark é na verdade Night King, o vilão? Irá Jaime trair Cersei? Os "Caminhantes Brancos" ganham a batalha e todos morrem no fim? Tyrion, o anão, é afinal um membro da família dos dragões, os Targaryen, e não um membro da aristocracia Lannister? E por falar em Tyrion... acabará ele com a Sansa? Bom, dia 19 de maio já teremos a respostas para estas questões. Mas, até lá, nada nos resta a não ser ficar a vasculhar fóruns e teorias e ver quem no final acerta.
Contudo, enquanto uns esperam, há um sortudo que tem certos privilégios que nem os atores parecem ter. Ramin Djawadi, compositor e homem por detrás do genérico inicial que teimamos em ouvir na totalidade sempre que se inicia um novo o episódio, está relutante em partilhar demasiado sobre o seu trabalho na última temporada — fazendo jus à entrevista que deu à INSIDER. No entanto, garantiu que foi um trabalho emocionalmente desgastante.
"Obviamente que é super excitante, mas escrever esta temporada final foi definitivamente muito emocional para mim. Passei pelos altos e baixos sozinho... Naturalmente, é tão secreto que até a minha equipa não tem acesso ao meu estúdio. Era eu e mais ninguém; as portas estavam fechadas. Foi deveras emocional", revelou Djawadi.
O compositor viu os seis episódios da temporada "de forma consecutiva" antes de escrever qualquer música. Para depois voltar a revê-los "vezes sem conta". E voltar a ver. "Tipo, centenas e centenas de vezes", disse.
E nós aqui sem ver nenhuma.
Uma espécie de Batalha dos Bastardos, mas maior. Muito maior
Uma das sequências de ação que ficará para os anais da história da televisão. Assim será a conclusão desta série que começou em Winterfell, no Norte, na casa dos Stark, a 17 de abril de 2011. E o episódio número 1, aquele que começou todo um fenómeno à escala global, dava pelo nome de "Winter is Coming" (O Inverno está a chegar, em tradução livre).
Agora, volvidos 8 anos, o Inverno está aí. Não está próximo, não está quase aí; chegou. E vai insinuar o desfecho de 7 temporadas, ramificadas em 67 episódios, que culminarão num clímax que promete ser maior que o do episódio da Batalha dos Bastardos (o nono episódio da sexta temporada da série).
Para se ter a noção da magnitude do que aí vem, vale a pena relembrar que para filmar a batalha que colocou Jon Snow e Ramsay Bolton frente a frente por Winterfell (um dos grandes marcos da série e, quiçá, da história televisão) houve um planeamento tremendo. Porque para chegarmos àqueles minutos de incrível violência (crua e tangível) foram necessários 25 dias de rodagem, 500 figurantes, 70 cavalos, quatro equipas de filmagem e 10 milhões de dólares. (Está tudo ali no vídeo abaixo.)
Foi uma cena incrivelmente ambiciosa. A câmara tanto alternava entre um close-up no rosto do herói (em que a sua agonia, agilidade e medo eram palpáveis), como o ângulo mudava para um campo aberto, caótico e ofegante — sem perder um centímetro da ação.
Tanto assim é que, na opinião deste espetador, não só a batalha, mas todo o episódio em si, merece destaque em qualquer exercício de memória sobre a série. Essencialmente é muito difícil imaginar algo melhor, maior e mais megalómano do que aquilo… Ou assim se pensava até surgir um tweet — agora apagado — com uma mensagem da produção da série, em abril de 2018.
Um tweet do tipo caloroso, amável e sentido, mas que se supõe ter origem porque algo doloroso, espinhoso e complicado se passou. Escreveu então assim um dos assistentes realização, numa mensagem enviada a todos os que colaboraram na produção daquela que se espera ser uma das mais épicas sequências de Guerra dos Tronos.
"Isto é para os Dragões da Noite. Pelas 55 noites seguidas. Por suportarem o frio, a neve, a chuva, a lama, a merda de ovelha de Toome [pequena vila na Irlanda do Norte onde decorreram as filmagens] e os ventos de Magheramorne [local também na Irlanda do Norte onde se passam as cenas de Castle Black da série]. Quando dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo assistirem a este episódio daqui a um ano, elas não saberão o quanto trabalharam. Elas não se vão importar quão cansados estavam e com a vossa dificuldade em trabalhar em temperaturas negativas. Só vão entender que estão a ver algo que nunca tinha sido feito. E que isso aconteceu graças a vocês [tradução livre]".
A história, de acordo com um conhecido site de fãs (Watchers On The Wall), reza que se tratava de uma fotografia com um agradecimento a todos aqueles que participaram na batalha que está para vir — penso ser escusado dizer que este tweet se tornou viral. Tanto assim foi que a HBO confirmou a informação de que a cena foi rodada "durante 55 noites em três localizações diferentes". No entanto, de acordo com a EW, os 55 dias foram apenas para as filmagens que decorreram no exterior. O realizador Miguel Sapochnik (que também já tinha realizado o episódio da Batalha dos Bastardos) terá continuado a rodagem depois disso, em estúdio, durante semanas.
Peter Dinklage, ator que interpreta Tyrion Lannister (o anão) e que já ganhou 3 Emmy's (esteve nomeado em todas temporadas) e 1 Globo de Ouro pelo papel (2012), é curto nas palavras, embora extremamente assertivo sobre a cena: "É brutal. Faz parecer a Batalha dos Bastardos uma brincadeira".
Realizadores e expectativas
E por falar em realizadores. Há regressos. E de gente responsável por um momento ou outro que fica difícil esquecer durante a série. Se não, vejamos: O primeiro, segundo e quarto episódios ficaram a cargo de David Nutter; Miguel Sapochnik, assinou o terceiro e quinto; D.B. Weiss e David Benioff, os criadores, assumem as rédeas da conclusão.
Escrito desta forma pode parecer que é pouco relevante, uma vez que David Nutter pode muito bem ser um nome que não acusa a recepção do sinal de familiaridade para a maior parte das pessoas — e assina logo três episódios. Mas se se escrever que é o homem responsável pelo "Red Wedding", a "Caminhada da Vergonha" de Cersei ou a morte de Jon Snow, o cenário já muda de figura.
(Ah, também é o homem que mentiu a Barack Obama quando o ex-presidente norte-americano fez a questão todos queriam saber em 2015: "Ele morreu?". A resposta de Nutter foi uma fria, dura e cruel mentira: "Está mais morto do que morto". Mais tarde, no entanto, explicaria o motivo: o seu envolvimento com a produção, naquela data, terminava com o último episódio da quinta temporada. Quer isto dizer que nem o próprio, que o realizou, sabia do futuro de Jon Snow.)
O que nos leva à questão: que podemos esperar dos novos episódios? Avaliando por aquilo que respondeu aos fãs num AMA (acrónimo de Ask Me Anything, que se pode traduzir de forma livre por Pergunta-me Qualquer Coisa) do Reddit, acredita-se que muito.
"Naquilo que diz respeito à 8ª Temporada, comparada com o Red Wedding, eu só tenho que dizer — não saiam dos vossos lugares porque vai ser especial".
"Só existe uma Guerra que importa: a Grande Guerra. E está aí" — Jon Snow
"A última temporada dos Tronos parece que foi desenhada para nos quebrar", revelou o britânico Kit Harington à GQ australiana, ele que dá vida a Jon Snow, uma das mais que prováveis figuras centrais daquela que será a batalha que vai ditar o desfecho de toda uma série.
Filmar os últimos seis episódios da série foi brutal e exigente. Uma vez que a estreia estava apontada para 2019, o calendário confinado à rodagem era muito curto. Os últimos noves meses de filmagens — especialmente para aqueles que estiveram desde o número um, como Harington — foram muito pouco terapêuticos.
"No final estavam todos desfeitos. Não sei se estávamos a chorar porque estávamos tristes porque [a série] terminava ou se estávamos a chorar porque estávamos cansados para caraças. Estávamos com privação de sono. Parece que foi pensado para que pensássemos ‘Certo, estou farto disto’. Lembro-me de praticamente toda a gente a caminhar para o fim, já chega. Adoro isto, tem sido a melhor coisa da minha vida, vou sentir fala dela um dia, mas não dá mais", disse.
As filmagens começaram oficialmente no dia 23 outubro de 2017 e ficaram concluídas em julho de 2018.
Mas antes do fim. Quão grande é a popularidade da Guerra dos Tronos? Aos mil milhões
O relatório é de 2017, mas como não existem mais episódios... vamos trabalhar com os números da sétima temporada. De acordo com um análise da MUSO, uma empresa anti-pirataria, a maioria das pessoas consumiu estes episódios de forma ilegal. No entanto, a verdade é que a última temporada bateu recordes até entre os que optaram por fazê-lo de forma legal. Mas os números são ainda muito díspares.
Segundo o The Washington Post, o último episódio da última temporada foi o mais visto de sempre da série com 16,5 milhões de subscritores da HBO acompanhar o desfecho. Porém, cerca de 143 milhões viram online qualquer coisa acontecer a Viserion (um dos três dragões).
No total, a 7ª temporada foi pirateara mais de mil milhões de vezes, quer fosse via streaming ou fosse "sacada" via torrent. Este número inclui as pessoas que piratearam episódios individualmente e aqueles que copiaram ilegalmente toda a temporada. De acordo com o relatório da MUSO, foram 1,03 mil milhões de visualizações que são vastamente superiores à média registada de 31 milhões de espectadores por episódio que visionaram de forma legal. Só o primeiro episódio foi pirateado 91,74 milhões de vezes.
"A Guerra dos Tronos tornou-se num dos maiores fenómenos de entretenimento da atualidade e a atividade das plataformas piratas tem sido sem precedentes", revelou em comunicado o CEO da MUSO, Andy Chatterley. "A somar à escala de pirataria no que a séries populares diz respeito, estes números demonstram que o streaming sem licenciamento pode ser bem mais significante que o tipo de pirataria que acontece no download via torrent", pode ler-se.
"Não penso que devesse ser a última temporada"
A opinião podia ser de qualquer fã que segue a série ou dos produtores da HBO. Mas não. É do próprio George R.R Martin em entrevista ao The Hollywood Reporter.
"Não penso que devesse ser a última temporada", disse. "Mas aqui estamos. A mim dá-me a sensação que começámos na semana passada. É há mais tempo que isso? O tempo tem passado num ápice. Mas é excitante. Eu sei que é um final, mas não é muito um fim para mim. Eu ainda estou empenhado em escrever os livros. Nós vimos cinco sequelas de séries em desenvolvimento. Penso que estarei a visitar Westeros enquanto o resto já se foi embora", revelou entre risos.
A Forbes recorda que este é o mesmo Martin que sugeriu em tempos que a série fizesse hiatos enquanto escrevia os livros. Portanto, não é de estranhar ou, pelo menos, não é difícil de acreditar que esteja a dizer a verdade. Porque os executivos da HBO disseram no passado que estiveram em cima da mesa — enquanto as audiências o justificassem — cerca de 10 temporadas.
A Guerra dos Tronos trouxe-nos dragões, nudez, mortes e até um casamento sangrento. Mas na verdade também trouxe novos hábitos de consumo e trilhou uma nova forma de contar histórias. Especialistas, de acordo com o The Guardian, afirmam que as pessoas "veem a série em conjunto para evitar spoilers" e que devido à complexidade das personagens — e a quantidade — se relacionam de uma maneira diferente relativamente a outras. A Porta dos Fundos brincou com o assunto, fazendo um sketch em que um casal discute porque um viu um episódio sem a companhia do outro. Traição, portanto.
No entanto, se é factual que a série vai efetivamente conhecer o seu fim num futuro próximo, não se pode dizer que o mundo vá ficar órfão das histórias saídas do imaginário de George R.R. Martin — antes pelo contrário. Isto porque a HBO já deu luz verde para que se avançasse com uma prequela da Guerra dos Tronos, onde a narrativa recua 1.000 anos antes da ação que agora se prepara para chegar ao fim.
Porém, não deverá ser esse ainda o fim do fim. O pleonasmo não é engano ou gralha. É bem intencional porque para além da prequela — que ainda não tem nome — estão na calha cinco outros projetos. Ou seja, se os fãs e a audiência assim o entenderem, segundo a Variety, podemos viver dentro do mundo de Guerra dos Tronos nos próximos 20 a 30 anos.
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