Livro: O Ano do Pensamento Mágico e A Única História
Autor: Joan Didion e Julian Barnes
Convidada: Inês Maria Meneses, escritora, cronista e radialista
Moderadora: Elisa Baltazar, anfitriã do "É Desta Que Leio Isto"
Data: 25 de fevereiro de 2021
Ouça aqui a conversa sobre os livros O Ano do Pensamento Mágico e A Única História.
Se não teve oportunidade de participar na última sessão do É Desta Que Leio Isto, não se preocupe. O nosso clube de leitura chega até si com este resumo do que foi falado com a radialista e escritora Maria Inês Meneses. A conversa onde o amor e a perda foram tema central foi moderado pela anfitriã e promotora do clube, Elisa Baltazar. Se o amor e o sofrimento andam de braço dado, os dois livros de que falámos na última sessão são prova disso, já que se interligam por uma característica tão devastadora quanto o sentimento de perda, seja pela morte ou pela separação.
Sobre o livro O Ano do Pensamento Mágico, de Joan Didion:
- Fala sobre a história verídica da morte do marido da escritora, enquanto a sua filha está hospitalizada.
- Aborda temas como o luto e a perda, de uma forma metódica, com uma "honestidade devastadora", segundo o New York Times.
- É uma viagem entre memórias do casamento Joan Didion, numa tentativa de lidar com a perda de forma muito lúcida.
- Foi finalista do Prémio Pulitzer e vencedor do National Book Award.
A organização do luto como sobrevivência
- Apesar de esta ser uma obra "pesada", Inês Maria Meneses não hesita em recomendá-la. "Nós passámos a conviver muito mal com a morte", afirma. A autora vê o livro como "a nossa convivência perante o facto e não há forma de adoçar isto, não há outro desfecho possível".
- A autora considera que este livro é símbolo da "organização" ou do "calendário" do luto, e da solidão de Joan Didion, que terá lidado com a morte do marido de forma muito metódica e analítica.
- "Quase que conseguimos imaginar Joan Didion a fazer listas e a sobreviver com isso", diz Inês Maria Meneses.
O pragmatismo pela lucidez
- A radialista vê a escrita de Joan Didion como uma "prova de sanidade" com "momentos muito luminosos".
- Inês Maria Meneses considera a autora desta obra "uma romancista e ensaísta intelectual e com uma visão muito prática e pragmática".
- "Esta é uma história incrível de uma mulher com um ar débil e frágil, mas que continua a contar histórias", frisa a cronista.
O cliché que acontece mesmo
- "Não sei se este é livro é de amor ou de perda", refere Inês Maria Meneses, perante o livro sobre "uma mulher que perde o chão", que "vive o teste da sua vida" e que olha para os sapatos do marido que morreu, "sempre à espera que ele vá calçá-los".
- De notar que a filha de Joan Didion também acabou por morrer, um episódio da vida da escritora que deu origem a outro livro, Noites Azuis.
- "Perante uma dor muito forte achamos antecipadamente que nunca vamos sobreviver, mas na hora que somos postos à prova temos capacidade. Aquele cliché de que vamos arranjar forças acontece como uma espécie de magia e nós acabamos por saber lidar com o luto e a perda. Isso acontece com a Joan Didion, apesar de ela ser mais metódica do que a maioria de nós". Esta foi uma das reflexões de Inês Maria Meneses sobre o desafio de enfrentar a dor.
Sobre o livro A Única História, de Julian Barnes:
- Conta a história de um romance "tabu", entre um rapaz de 19 anos e uma mulher de 48 anos.
- Aborda a dicotomia entre o amor e a dor e o seu nível de intensidade.
- Tem como premissa-base a questão "Preferiam amar mais e sofrer mais; ou amar menos e sofrer menos?".
- Toca ainda em temas como o sentimento de perda e as consequências de um primeiro amor.
O colete à prova de bala
- A autora Inês Maria Meneses considera "é preciso de ter uma espécie de colete à prova de bala para ler este livro e continuar à superfície".
- "Esta é uma história que me fez chorar como não me lembrava de chorar por um livro", com "uma escrita torrencial e febril", acrescenta.
- Inês Maria Meneses confessa: "neste livro não há nada mais do que um amor e eu fui engolida por este amor", "é uma história que mexe muito connosco".
A erosão do amor
- A cronista considera que esta é também "uma história de perda". Inês Maria Meneses destaca "uma ideia da erosão do amor, um amor que se vive e que se vai apagando" e afirma que "o pior que que pode acontecer é ir-se perdendo à perda gradual de alguma coisa".
- Deste modo, a escritora e radialista traça um paralelismo entre o amor e a morte, já que "no amor e na morte ninguém está a salvo". Mas relembra a ideia de Julian Barnes assente na filosofia "mil vezes sofrer do que não viver".
- Inês Maria Meneses deixa ainda uma questão neste "Será que as coisas nos marcam mais quando temos 19 ou quando temos 40 e tal anos?".
O tabu que escolhe idades
- A cronista Inês Maria Meneses lembra que este livro "fala de um tema muito tabu": o romance entre um rapaz muito jovem e uma mulher de meia idade.
- A escritora refere que, por um lado, existe "um rapaz que quer descobrir o mundo" e, por outro, existe "uma mulher meio desencantada com o mundo".
- Inês Maria Meneses considera ainda que estas personagens são "duas pessoas que chocam uma na outra e acabam por se salvar" e que este é o primeiro amor que este rapaz de 19 anos vive, um amor que o marca para sempre.
Outros livros de que se falou:
- Caderno de Encargos Sentimentais – Inês Maria Meneses
- Misteriosamente Feliz – Joan Margarit
- Apenas Miúdos – Patti Smith
- Paula – Isabel Allende
- As 24 Horas na Vida de Uma Mulher – Stefan Zweig
- Doida Não e Não! – Maria Manuela Gonzaga
- Os Dados Estão Lançados – Jean-Paul Sartre
- O Problema de Ser Norte – Filipa Leal
- Meia-noite Todo o Dia – Hanif Kureishi
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