Livros: Almoço de Domingo
Convidado: José Luís Peixoto, autor da obra
Moderadores: Elisa Baltazar e João Dinis, anfitriões do “É Desta Que Leio Isto”
Data: 28 de outubro de 2021
Ouça aqui a conversa com José Luís Peixoto
Se não teve oportunidade de estar presente na última sessão do clube de leitura, este artigo dá-lhe algumas pistas sobre aquilo de que se falou numa das sessões com mais participantes de sempre. O autor do livro Almoço de Domingo, José Luís Peixoto, juntou-se aos leitores para partilhar os desafios da sua última criação. Aquele que é um dos escritores portugueses de maior reconhecimento falou-nos diretamente de uma residência para escritores na Roménia, mas nem as duas horas a mais de fuso horário impediram uma boa conversa.
Sobre o convidado, escritor José Luís Peixoto:
- Nasceu a 4 de setembro de 1974 em Ponto de Sor, no Alentejo.
- É escritor, poeta e dramaturgo.
- Estudou Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
- Foi professor em várias escolas em Portugal e também em Cabo Verde.
- Além da escrita, é conhecido pelas viagens que faz aos locais mais remotos do mundo, tal como a Coreia do Norte, tendo até um podcast na Antena 1, Tanto Mundo, no qual fala sobre as mesmas.
- Foi o mais jovem vencedor de sempre do Prémio José Saramago, com apenas 27 anos, tendo depois sido galardoado com outros tantos prémios de relevo.
Sobre o livro Almoço de Domingo:
- Retrata a vida de Rui Nabeiro desde a sua infância humilde, em Campo Maior, no Alentejo. Deste modo, resume 90 anos de história, desde 1931.
- Acompanha a carreira do fundador do Grupo Nabeiro-Delta Cafés enquanto empresário de sucesso.
- Além do percurso empresarial, a obra aborda as vivências de Rui Nabeiro no seio familiar, ou não fosse o título deste livro Almoço de Domingo, um momento tipicamente associado à família.
- O livro fala ainda de Portugal e da evolução do país ao longo de várias décadas, do contrabando na raia portuguesa, à pobreza, à Guerra Civil Espanhola, ao Estado Novo e ao 25 de Abril.
O desafio da biografia
- A biografia que Rui Nabeiro deixou nas mãos de José Luís Peixoto poderá ser considerada um romance.
- Para que a obra acontecesse, aquele que inspira a personagem principal e o escritor tiveram vários encontros, e Rui Nabeiro fez três revisões do texto para garantir a precisão factual da narrativa.
- Apesar de a obra se tratar de um romance, “uma biografia séria não permite ficção”, diz José Luís Peixoto. “As únicas biografias que permitem ficção são as dos ditadores da Coreia do Norte”, remata.
A pessoa e a personagem
- Segundo o escritor, a questão mais desafiante na escrita de Almoço de Domingo foi mesmo “retratar aquela vida [a de Rui Nabeiro] de uma forma que fosse pertinente”.
- O desafio adensa-se tendo em conta “a quantidade de pessoas que conhecem Rui Nabeiro, que têm uma ideia de Rui Nabeiro”, já que “todas essas pessoas são potenciais leitores”.
- “As informações que nós podemos recolher de uma pessoa são infinitas, já as que recolhemos de uma personagem são limitadas”, explica o autor. “A relação que uma personagem como esta estabelece com a pessoa é metafórica, é uma metáfora da pessoa”, acrescenta.
O que fica por dizer
- José Luís Peixoto confessa ter pena de ter deixado alguns detalhes de fora. Mas reconhece que teve de “fazer escolhas” e de ter “uma certa nitidez no olhar para saber qual é a ordem e as proporções dos ingredientes”.
- De acordo com o autor, “o livro não é exaustivo em relação à vida desta pessoa, nem pretende ser”, uma vez que “um romance segue uma série de regras que não são necessariamente as regras de uma vida”.
- Um dos temas que José Luís Peixoto lamenta não ter explorado foi a questão do contrabando de café entre Portugal e Espanha. Segundo o escritor, o tema é “tão rico”, que explorá-lo devidamente “tombaria o romance”.
A autoconfiança da escrita
- José Luís Peixoto fala numa necessidade de autoconfiança na hora de escrever.
- “Quando se escreve sabendo que se vai publicar é inevitável que essas vozes nos viajem pela cabeça, vozes críticas, medos”, conta. Sendo que os críticos não são aqueles que o fazem profissionalmente, porque “todas as pessoas que leem são críticas” e “ler e interpretar é sinónimo de crítica”.
- Assim, o escritor considera que “publicar e lidar com isso tem de ser um equilíbrio entre responsabilidade de irresponsabilidade”, porque implica ter “intenções” e criar um “objeto verbal”.
- Diz José Luís Peixoto que a aleatoriedade do leitor que se dedica ao livro se compara ao lançamento de uma garrafa no oceano, pois “não sabemos a que mãos é que ela vai parar”.
Outros livros de que se falou
De José Luís Peixoto:
- Morreste-me
- Galveias
- Dentro do Segredo: Uma Viagem na Coreia do Norte
- Em Teu Ventre
- Autobiografia
De outros autores:
- Catch The Rabbit – Lana Bastasic
- A Anomalia – Hervé Le Tellier
- Zona – Mathias Énard
- Bússola – Mathias Énard
- O Reino – Emmanuel Carrère
- A Sétima Função da Linguagem – Laurent Binet
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