A versão de palco de “O Convidador de Pirilampos”, editado em fevereiro de 2017, estreou-se no início de abril no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e está no Teatro São Luiz até ao dia 09.
Embora se trate de um livro que “aponta para o início da leitura autónoma, dependendo das crianças, por volta dos 5, 6, 7 anos”, quando passou por Guimarães, o espetáculo foi visto por crianças “dos 3, 4 anos até aos 12″.
“Eu diria que é um espetáculo para todos, de alguma maneira”, afirmou António Jorge Gonçalves, responsável pela encenação, correalização plástica e manipulação ao vivo de objetos, em declarações à Lusa.
O artista acredita que, “por haver quatro vozes diferentes, dois artistas plásticos [António Jorge Gonçalves e Paula Delecave], uma atriz [Cláudia Semedo na narração] e um músico [José Conde no clarinete], as pessoas podem escolher concentrar-se em qualquer coisa que lhes seja mais próxima”.
“Se calhar uma criança de 4 anos não consegue seguir a trama da história em toda a sua complexidade, mas vai poder estar a ouvir a música e a seguir os desenhos e as imagens, e um adulto vai estar extremamente atento àquilo que se está a passar em cena, mas à possibilidade de nos ver a todos e de ver como aquela magia cénica toda está a ser feita pelas pessoas que estão em palco”, referiu.
No percurso do artista tem sido “relativamente normal este trânsito entre livro e espetáculo teatral, no caso da criação para a infância”.
“As primeiras experiências que tive foram histórias que começaram por ser contadas, depois passaram a peças de teatro e depois a livros, mas a verdade é que, entrando neste mundo da criação para a infância e para os jovens, para mim tornou-se muito claro que as histórias têm muitas dimensões, ou seja, o que existe é a história e a maneira como ela é contada pode ser muito diversa”, adiantou António Jorge Gonçalves.
No caso de “O Convidador de Pirilampos”, a adaptação a palco não foi ideia do artista nem do escritor Ondjaki.
“Há um miúdo que conhece as minhas peças e os livros que gostou bastante de ‘O Convidador de Pirilampos’ e eu soube que ele um dia tinha sonhado que eu fazia um espetáculo de teatro desse livro”, partilhou.
Neste livro, que faz parte de uma série batizada por Ondjaki de “Estórias sem luz elétrica”, existe um menino que vive com o avô, perto da Floresta Grande, onde há pirilampos cintilantes. Nela, o rapaz experimenta os engenhos que inventou para apanhar pirilampos e assim iluminar as noites escuras.
António Jorge Gonçalves lembrou que “a ideia do escuro é uma ideia muito próxima do teatro, porque os teatros são caixas pretas”.
“Portanto, a ideia de uma história sem luz elétrica, passada no escuro, fazia todo sentido vir para um teatro”, afirmou.
Na adaptação para palco, o artista decidiu que “fazia sentido” juntar à história “um elemento que não existe no livro, que é música”.
“Em termos visuais, achava que era preciso uma complexidade maior nas imagens projetadas e, por isso, desafiei a Paula Delecave para desenhadora também, para vir fazer comigo”, contou, explicando que juntos criaram “um trabalho de articulação entre aquilo que ela manipula no retroprojetor de transparências, imagens já preparadas e outros efeitos que vai processando, sobrepostos aos desenhos” que o artista vai “fazendo na altura”.
O passo seguinte, depois de escolher a atriz Cláudia Semedo para narrar a história e o clarinetista José Conde para tocá-la, “foi desenvolver uma espécie de filigrana de trabalho entre a voz e o clarinete, porque a música não aparece só para fazer um som de fundo, é um elemento de narração da própria história”.
“Há muitas alturas em que a música pinta as situações, leva-nos para um determinado sítio e até trabalha sobreposta às próprias palavras da Cláudia”, descreveu, contando que, como “esse trabalho entre a voz e o clarinete já dava uma peça artística”, no sábado será apresentado, às 17:00 na Sala Bernardo Sassetti do Teatro São Luiz, o audiolivro do espetáculo.
No meio de tudo isto, Ondjaki deu a António Jorge Gonçalves “luz verde para fazer o que quisesse”.
“Somos bastante próximos e amigos e o Ondjaki também é uma pessoa muito aberta nessa ideia de que um artista quando faz qualquer coisa e a publica lança-a para o mundo, portanto está perfeitamente disponível para que essa história voe e seja adaptada para outras situações”, disse.
“O Convidador de Pirilampos” terá apresentações para escolas entre terça e sexta-feira, às 10:30, com uma sessão extra na quarta-feira às 14:30, e para famílias no sábado às 16:00 e no dia 09 de junho às 11:00 e às 16:00.
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