A sala no Pavilhão Carlos Lopes que nos últimos dias tem acolhido desfiles foi hoje à tarde, em simultâneo, palco do concerto de apresentação do novo álbum do pianista Hélder Bruno e da coleção para o próximo outono/inverno de Nuno Gama.
O público ia circulando pela sala, onde os manequins estavam espalhados, mas não estáticos, ao som, tocado ao vivo, do piano de Hélder Bruno.
O músico é “um amigo, uma fonte de inspiração e uma grande companhia” nas viagens de Nuno Gama, contou o próprio à Lusa no final do desfile. “Relaxa-me, inspira-me e faz-me viajar a bordo do mundo dele e fazemos um intercâmbio quase cultural, às vezes, de alguma forma”, referiu o designer de moda.
A ideia de juntarem a apresentação do disco com a da coleção surgiu numa conversa casual. “Resolvemos que fazia sentido fazê-lo uma vez, e porque não agora? E fazia todo o sentido uma vez que não é uma banda sonora feita para, mas o trabalho dele que serve de suporte musical ao meu trabalho”, disse.
Nuno Gama considera que o seu trabalho e o do músico “tem muitas coisas em comum”, nomeadamente o azul do mar. “Por mais voltas que eu dê vou sempre parar àqueles azuis. E que azul é aquele? É o azul do mar que eu vou ver imensas vezes. Quando estou triste quero ver o mar, quando estou feliz quero ver o mar, quero ver o mar todos os dias”, partilhou.
E como ver o mar é algo que funciona bem com ele, tenta “procurar essa energia e revertê-la de alguma forma” para o público.
Além disso, lembrou, o mar está ligado à História de Portugal. “E para mim é a minha base energética. É quase como passado, presente e futuro de alguma forma, e vai ser eternamente”, afirmou o designer de moda, cujo trabalho se caracteriza bastante pelo uso de símbolos tipicamente portugueses.
Para Nuno Gama, a coleção que hoje apresentou é, “talvez”, a sua “melhor coleção”. “Em termos de viagem sobre mim próprio e de reconhecimento e reconstrução daquilo que tem sido o meu trabalho”, explicou.
“Mutantes” é uma coleção sobre “as mudanças” que todos vivemos. “De onde venho não havia telemóvel, internet, não havia 90% das coisas que temos hoje e nem nos apercebemos. E isto causa alterações gigantescas a todos os níveis. Sem nos apercebermos a vida muda, às vezes fico na dúvida se é bom, se é mau, mas é andar para a frente”, afirmou.
O título da coleção tem que ver com isso, “com esta capacidade de adaptação ou não a estas novas realidades”.
Numa coleção onde predominam os casacos, as calças e os sobretudos, Nuno Gama destaca “as mochilas que podem ou não fazer parte das peças, que podem servir para transportar as próprias peças”, bem como “as tiras que são tiracolos e podem puxar e repuxar as peças”.
Já na coleção anterior, cuja apresentação decorreu no Museu Nacional de Arte Antiga, Nuno Gama tinha descartado o formato desfile.
“Fez sentido da outra vez e desta, se calhar da próxima não, não sei. Mas estou curioso de ver o que é que aí vem”, afirmou.
Lembrando que “as pessoas gostam da estética do desfile, mas mais do que isso serem surpreendidas”, reforçou que uma das suas “grandes intenções” é “privilegiar o público no contacto de toda esta situação”.
“As pessoas ao sentirem isso sentem-se muito mais próximo das coisas. É sentir que são parte integrante das coisas. É vital para mim fazer isto”, disse.
A 52.ª edição da ModaLisboa termina hoje. Além de Nuno Gama, hoje apresentam coleções: Andrew Coimbra, Gonçalo Peixoto, Olga Noronha, Nycole, Ricardo Andrez, Aleksandar Protic e Dino Alves.
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