“Fizemos isso com ‘Noite de reis’, em que Malvólio é sujeito a um engano cruel, com ‘Sonho de uma noite de verão’, em que umas personagens místicas enganam os humanos, e fazemo-lo aqui, onde os enganos são entre humanos”, frisou Luís Moreira.
Nesta peça de Shakespeare, cuja ação gira em torno de Cláudio, um jovem fidalgo de Florença, e Hero, filha do governador de Messina, a crueldade humana “passa-se dentro de casa e do que as personagens fazem umas com as outras para provocar o amor melancólico, que causa dor física”, disse o encenador.
Luís Moreira ressalvou que tal não significa que as personagens sejam cruéis ou que “tenham motivações ulteriores”, mas antes “para se armarem em Cupido e fazerem o trabalho deste”.
“E isto é motivo de comédia, porque nós ainda nos rimos da desgraça alheia”, acrescenta Luís Moreira.
A comédia de Shakespeare é a terceira que Luís Moreira encena no Teatro do Bairro, integrada no projeto “Três comédias, três tragédias”, iniciada com “Noite de reis” (2017) a que se seguiu “Sonho de uma noite de verão” (2018).
Questionado sobre quando iniciará o ciclo das três tragédias – sem que tenha referido quais as que irá encenar do poeta inglês -, Luís Moreira disse que provavelmente só em janeiro de 2020.
“Eu gostava que fosse ainda este ano”, mas não vai ser “porque não há dinheiro, nem financiamento”.
“Não há dinheiro, não há financiamento, não há tempo, não há espaço de ensaios”, refere Luís Moreira, acrescentando terem convidado “diretores de teatro e programadores” sem que tenham obtido resposta.
“Isto é muito difícil, é continuar a remar”, acrescenta, sublinhando que já criaram a “tradição” de fazer um Shakespeare em janeiro no Teatro do Bairro e terem público.
O que não é, de todo, despiciendo, já que estas produções da associação cultural Filho do Meio vivem apenas da receita de bilheteira, frisou.
“Mas gostava de dobrar a produção. Começar a fazer duas peças por ano”, admite o encenador, acrescentando que à escala a que estão a trabalhar – com temporadas grandes, mais de dez atores em cena, cenário construído e sem qualquer financiamento – é impossível.
Apenas a bilheteira e “alguns espetadores emancipados que com muito boa vontade decidiram fazer contribuições” viabilizaram esta encenação, sublinhou.
Luís Moreira não compreende, contudo, que pela terceira vez consecutiva a Filho do Meio leve à cena “um texto clássico de qualidade, com dez atores em cena, com uma equipa de mais de 20 pessoas, tudo sem financiamento”.
“O que é que está errado?”, questionou, acrescentando que a Filho do Meio está a fazer “serviço público”.
Em cena até 3 de fevereiro, com espetáculos de quarta-feira a sábado, às 21:30, e, aos domingos, às 17:00, “Muito barulho por nada” tem tradução de Fernando Villas-Boas.
Interpretam Alice Medeiros, Ana Baptista, Frederico Coutinho, João Vicente, José Redondo, Luís Lobão, Luís Moreira, Paula Neves, Paulo Duarte Ribeiro, Sandra Pereira e Valter Teixeira.
A cenografia e figurinos são de Maria Gonzaga e o movimento de Joana Chandelier.
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