O estudo exploratório, que contou com 471 participantes que tinham um bebé com quatro a 40 semanas de idade aquando do inquérito, conclui que as mães que cantam frequentemente, em comparação às que cantam de forma fortuita ou episódica, apresentam uma ligação mãe-bebé "mais forte" e os níveis de autoestima e bem-estar são também superiores, disse à agência Lusa o autor principal do estudo, o psicólogo e diretor do BabyLab, Eduardo Sá.
Das participantes, 96% cantam canções de embalar aos seus filhos, sendo que apenas 6% cantam frequentemente, cerca de 54% às vezes e 40% de forma muito esporádica, refere o artigo científico, publicado no Journal of Behavioural Science & Psychology.
Dos tipos de canções cantadas, o estudo identifica que o mais comum é as mães cantarem músicas inventadas por elas (69%), músicas tradicionais (68%) e apenas melodias sem letra (59%).
A grande maioria das participantes no estudo (83%) canta para acalmar os bebés ou para os pôr a dormir, sendo que metade ainda usa as canções para brincar com os seus filhos e um quarto enquanto os alimentam.
Segundo o estudo, metade dos bebés, durante as canções de embalar, ficam mais calmos, 12% adormecem e 29% mantêm-se despertos ou surpresos.
Em declarações à Lusa, Eduardo Sá salientou a equipa do BabyLab quis explorar a função e manifestações das canções de embalar, expressões da ligação entre mãe e bebé que estão presentes "nas mais diversas latitudes e culturas".
Segundo o psicólogo, há muito por explorar na área das canções de embalar, nomeadamente a análise dos ritmos, melodias e conteúdo lírico das músicas usadas pelas mães.
"Estas canções acabam por ser um vínculo que abre as portas para que se aceda à língua materna", uma espécie de precursor do "português das mães - o maternalês", notou o psicólogo, referindo que não se surpreendeu com o facto de o hábito de cantar para os bebés se mantenha na atualidade.
Nesse sentido, a equipa pretende aprofundar este campo e abrir uma linha de investigação nesta área, querendo analisar a melodia das canções e o seu ritmo, que normalmente assume um compasso binário, "que, de facto sossega os bebés, ao reproduzir a frequência cardíaca", sublinha o diretor do BabyLab.
Outra vertente será o trabalho linguístico em torno das canções de embalar e do "maternalês", assim como do próprio conteúdo das músicas, em que normalmente são sempre evocados um "bicho papão - uma entidade assustadora sem rosto que pode danificar o bebé" - e um anjo da guarda que assume a posição contrária, acrescenta.
As canções de embalar, frisa Eduardo Sá, mais do que acalmar os bebés, servem para "exorcizar os fantasmas das mães".
"As canções de embalar usam a música como uma verdadeira Torre de Babel, prévia à Língua, que prepara o bebé para assumir, aprender e usar a língua maternal", conclui o artigo científico.
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