Exibido de sexta-feira a domingo, o espetáculo apresenta-se como uma forma de “celebrar a liberdade do corpo e do pensamento na sociedade contemporânea”, refletindo a sexualidade frente ao conservadorismo e moralidade católica do texto de Marquês de Sade, publicado em 1795.
A peça, para maiores de 18 anos, adapta o texto de Sade que estava “sempre na gaveta” de Martim Pedroso, contou à Lusa o ator e encenador, e marca o crescimento do lisboeta.
Num livro “muito complexo”, principalmente por um trabalho visual de pormenor que descreve contactos sexuais entre as personagens, o híbrido entre o romance e o lado filosófico, além de diálogos quase teatrais, é levantada a questão sexual “contra tabus” mas também “um discurso sobre a liberdade em vários níveis”.
“Seja no corpo, na liberdade de expressão ou na liberdade de escolha sexual, até dos gostos dentro do sexo, e apela à diversidade a todos os níveis na sociedade, o que é altamente pioneiro para a altura, em que se vivia na monarquia”, refletiu.
A “convicção de que a religião católica era a causadora de muita repressão e hipocrisia”, ligada ao poder instalado, está bem patente na obra, que se revela ainda bastante atual “por causa de todas estas viragens assustadoras para uma direita fascista”.
Martim Pedroso lembrou a eleição de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil como uma questão que transformou os “Diálogos” “quase numa campanha antifascismo, porque nunca estamos livres de também ter de viver com isso”.
“Este texto, para mim, é quase um ‘ex-libris’ dessa vontade de continuar a fazer e continuar a ter voz, e de alguma maneira lutar contra a opressão e tudo aquilo que nos impede de continuar a fazer arte”, acrescentou.
Além da libertação sexual e de ultrapassar barreiras societais que atentam à liberdade, “Filosofia na Alcova” reflete também sobre a questão feminista “e a condição da mulher”.
Entre fantasias sexuais e um questionamento dos limites libertinos frente à aristocracia francesa, Sade “propõe uma nova ordem mundial indo ao limite da libertinagem”, refere a apresentação do espetáculo, a partir de uma família de libertinos que compõem as personagens da peça.
O trabalho mais prático de encenação da obra reflete também a “questão muito interessante do pudor, porque todos temos pudor e somos moldados por uma ideia do que é ou não aceitável”, e para os atores parte de “muita disponibilidade”, tanto física como intelectual, além de uma procura de autoconhecimento.
Na relação com o público, fica o desafio de "fazer com que o público pense e excite o cérebro, mas também o sexo, e procurar esse lado mais físico", apontou o encenador.
Apresentado no café-teatro do Campo Alegre na sexta-feira pelas 21:00, no sábado pelas 19:00 e no domingo pelas 17:00, o elenco conta com Maria João Abreu, Margarida Bakker, Flávia Gusmão, João Gaspar, João Telmo, Pedro Monteiro, Statt Miller e o próprio encenador, Martim Pedroso.
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