Em entrevista à agência Lusa, Helena Sarmento afirmou que José Afonso (1929-1987) é para si uma “referência incontornável, enquanto artista e cidadão comprometido”, e que nunca deixou de estar presente nos seus discos, mas “foi chegado o momento para elaborar um projeto” dentro do universo do autor de “Grândola, Vila Morena”.
“Já tenho este desafio desde que comecei a cantar, profissionalmente, há dez anos, e faço parte da Associação José Afonso [AJA], onde esta questão era recorrentemente colocada”, disse Helena Sarmento, que referiu a parceria que fez com Ana Ribeiro e Ana Afonso, sobre o repertório de José Afonso, “Vozes ao Alto”, nascido em 2012, influenciado pelo movimento social "Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!", que teve várias intervenções.
No seu disco de estreia, “Fado Azul” (2011), de José Afonso, Helena Sarmento incluiu “Canção do Desterro”, no álbum seguinte, “Fado dos Dias Assim” (2013), a “Canção de Embalar”, e, no álbum editado no ano passado, “Lonjura”, incluiu “Era um Redondo Vocábulo”.
“Não querendo parecer pretensiosa, para mim é muito natural cantar Zeca Afonso”, disse Helena Sarmento à agência Lusa.
Neste projeto, a iniciar na primavera, e que a cantora perspetiva levar “ao maior número de palcos possíveis”, Helena Sarmento inclui todas as canções de José Afonso que gravou, e ainda “Por trás daquela Janela”, “Vejam Bem”, "Epígrafe para a Arte de Furtar”, “Traz Outro Amigo Também”, entre outras, e de Adriano Correia de Oliveira, que partilharam percursos, “Canção com Lágrimas”, um poema de autoria de Manuel Alegre.
Sobre o critério de escolha das canções, Helena Sarmento explicou: “Escolhi as que me ficaram debaixo da pele ao primeiro instante, que me arrepiam. Aquelas por que de imediato me apaixonei. A partir daí, foi mais simples não escolher outras músicas igualmente lindas”.
Quanto à inclusão de Adriano Correia de Oliveira, a cantora afirmou: “As carreiras dos dois, do Zeca e de Adriano, intercetam-se e é impossível falar de um sem falar de outro”.
“Curiosamente eu chego à AJA através do Adriano Correia de Oliveira”, disse Helena Sarmento, que foi convidada a fazer parte da associação por um seu dirigente, Paulo Esperança, que a ouviu cantar numa homenagem ao intérprete de “Trova do Vento que Passa”.
No alinhamento do projeto "Liberdade, Liberdade", Helena Sarmento afirmou ir incluir um fado de João Gigante-Ferreira e estar “inclinada” a escolher “Fado Azul”, que apontou como “o mais emblemático, neste contexto de liberdade”.
“O ‘Fado Azul’ faz uma síntese de mim própria, está nele o meu compromisso solidário com os outros, a minha raiz de combate, e reflete toda a minha aprendizagem com estes nomes, o Zeca, o Adriano, entre outros”.
“Fado Azul (se azul se atreve)”, é um poema de João Gigante-Ferreira, que Helena Sarmento interpreta no Fado Vianinha, de Francisco Viana, que gravou no seu mais recente álbum, "Lonjura" (2018).
Os músicos que acompanham Helena Sarmento neste projeto são Samuel Cabral, na guitarra portuguesa, André Teixeira, na viola, e autor dos arranjos musicais, e Sérgio Marques, na viola baixo.
"Uma das singularidades do espetáculo será o facto de a guitarra portuguesa fazer parte dele, de forma consistente; se é verdade que não é a primeira vez que tal acontece, é igualmente verdade que não é nada comum tal acontecer", realçou a criadora de "Fado Não-Valentim".
Sobre José Afonso, Helena Sarmento afirmou que a sua composição musical aborda "um universo de luta e resistência, com palavras fortes e audazes, numa busca permanente da utopia assente em melodias bem construídas e que continuam na nossa memória".
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