Os painéis de São Vicente de Fora, que estão no terceiro piso do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), foram a razão principal para Nuno Gama ter escolhido o local para ali apresentar uma coleção.
“Não vos sei explicar muito bem, mas há uma descarga energética genial quando eu aqui chego. Já os vi tantas vezes, já os namorei tantas vezes”, partilhou com os jornalistas, enquanto dezenas de pessoas percorriam as salas do museu dedicadas à pintura e escultura portuguesas, onde os manequins estavam como se fossem estátuas.
Além dos painéis, Nuno Gama quis também levar a imprensa e os convidados “àquilo que de registo cultural melhor existe em Portugal”. “Nosso, da nossa cultura, acho que isso também era importante, chamar a atenção para o museu e para as obras, de alguma forma”, referiu.
O desafio ao MNAA para acolher a apresentação da coleção foi encarado “muito bem” pelo diretor, António Filipe Pimentel.
Aos jornalistas, o responsável lembrou que a moda “é hoje uma área muito especial da criação, é um ponto de junção do desenho, da luz, da performance, de uma série de vertentes que têm que ver com a criação contemporânea e que hoje se concentram nos desfiles de moda”.
Ao longo do tempo, já vários museus acolheram desfiles de moda, incluindo o MNAA, mas a António Filipe Pimentel interessava “que houvesse uma lógica no uso do espaço, e o Nuno Gama trouxe exatamente isso”.
“A coleção dele é fortemente identitária, tem muito essa ligação plástica e estética à identidade portuguesa e fez sentido que aqui no terceiro piso do MNAA, dos tesouros da pintura e da escultura portuguesa, a plasticidade dos modelos estivesse presente e fizéssemos esta forma de contactar vários públicos”, referiu.
Para Nuno Gama, esta apresentação da coleção, em vez do tradicional desfile, permite também que se dê “mais atenção às peças”.
“Fiz uma coisa que sempre quis fazer: vocês poderem ver as coisas a 360 graus, poderem abrir a peça e encontrar um pavão lindo e maravilhoso lá dentro, ou ver que as costas têm um detalhe, que às vezes durante o desfile não há tempo, porque é tanta informação a acontecer que às vezes tenho a sensação que as pessoas não veem metade daquilo que nós fazemos”, disse.
Para verem melhor as peças, as pessoas podiam aproximar-se dos manequins, parados junto a quadros e estátuas.
Para precaver alguma eventualidade, o MNAA concentrou a vigilância no terceiro piso, enquanto decorria o desfile.
“Eu próprio andei a vigiar”, confessou o diretor do museu, salientando que “o risco de uma obra pode acontecer com uma pessoa só, mas o facto de as pessoas estarem em circulação é importante”.
Os vigilantes estiveram “atentos a se alguém se aproximasse demasiado” dos quadros e das esculturas, “mas isso é todos os dias”.
António Filipe Pimentel salientou que “é fundamental usar-se o património”, embora “com toda prudência e cautela”.
“O património serve para nós, para ser transmitido às gerações futuras e amado e só ama quem conhece”, defendeu.
Na coleção para a próxima primavera, “Porto Graal”, Nuno Gama partilhou que conseguiu, “de alguma forma”, desligar-se da “estrutura de coleção normal”. “Fui muito pelo cliente, estou cada vez mais focado nos meus clientes. E tentar dar resposta àquilo que tenho procura. E isso acabou por prever um pouco o estilo, os conteúdos, fórmulas. Eu sou 100% casaco, sou um homem do casaco, vou morrer de casaco de certeza”, disse.
O criador de moda salientou haver na coleção “muitas coisas que às vezes não são percetíveis a nível exterior, mas que a nível de construção é extremamente complicado, é fácil fazer uma carapaça dura com imensas coisas lá dentro, é difícil destruir tudo isso e manter a beleza da peça de alguma forma”, disse.
A 51.ª edição da ModaLisboa prossegue até domingo, com desfiles no Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII.
Comentários