“Precisamos da Academia de Amadores de Música no centro da cidade, porque retirá-la do espaço onde está é comprometer a sua missão, é desrespeitar o seu passado e comprometer o seu futuro”, afirmou Joana Bagulho, professora na Escola Superior de Música de Lisboa, que concluiu parte da formação musical na Academia de Amadores de Música (AAM).

A intervenção foi feita na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, no período aberto ao público, em que intervieram outros quatro cidadãos em defesa da AAM, num grupo de cerca de uma dezena de pessoas, vestidas com ‘t-shirts’ pretas com uma mensagem escrita a branco: “Eu defendo a Academia de Amadores de Música”.

Com 141 anos de história, a AAM tem de abandonar as atuais instalações no Chiado "até ao final do mês de agosto deste ano", por incapacidade para pagar a nova renda, que passou de 542 euros para 3.728, pondo em causa o ensino de música de 320 alunos e o emprego de 40 professores.

Em março, a Câmara de Lisboa disse que a solução para que a AAM continue no centro da cidade passa pelo antigo centro de recrutamento militar na Avenida de Berna, junto à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, indicando que estava a negociar “o valor da renda” do imóvel, que é propriedade da Estamo (empresa pública responsável pela gestão e valorização de imóveis públicos).

“A situação dramática que vive, neste momento, a Academia de Amadores de Música faz-me vir até aqui e dizer nesta assembleia que, de facto, tenho muito medo. Tenho medo do futuro da minha cidade, esta cidade onde nasceram e viveram tantos artistas, poetas, músicos e pintores, que criaram o património cultural que faz desta cidade única”, declarou a música Joana Bagulho, reforçando que a AAM é importante para a cidade e para o país.

Joana Bagulho considerou ainda que Lisboa “está à venda, sem controlo, sem o cuidado de preservar e proteger as estruturas” que enriquecem a identidade cultural da cidade.

“Este património cultural não se vende na [imobiliária] Remax”, acrescentou, defendendo que a câmara tem o dever de salvar a AAM.

Músico amador e membro do Coro Lopes Graça da AAM, José Carlos Silva afirmou que “a Academia não é apenas uma escola de música, é um espaço de cultura, de liberdade e de memória democrática”, e que “há mais de 20 anos” que a instituição procura uma solução definitiva para a sua sede, acusando a câmara de “empurrar com a barriga” e apresentar “soluções vagas e impraticáveis”.

“Uma cidade que deixa ao abandono a sua segunda escola de música mais antiga, uma escola com 141 anos, com um papel único na formação musical e na história democrática do país, não pode dizer que valoriza a cultura. Não temos tempo. Ou se encontra uma solução concreta e imediata, ou Lisboa perderá um dos seus maiores patrimónios imateriais”, salientou.

Mãe de dois músicos que estudaram na AAM, Manuela Ferrer interveio na assembleia municipal para dizer o que o presidente da Câmara de Lisboa “parece não querer ouvir”.

“A cidade está a falhar. Carlos Moedas está a falhar. E o que está em causa não é apenas um edifício, é uma escola centenária, é um pedaço vivo da história de Lisboa, é um projeto educativo, artístico e democrático, que formou milhares de pessoas”, disse.

Outras das intervenções foi de Madalena Lopes, que alertou para os despejos na cidade, afirmando que “sem cultura não há liberdade” e questionando “onde habita a liberdade quando a Zona Franca dos Anjos, a Sirigaita, a associação desportiva e recreativa O Relâmpago, a Casa Independente, o Disgraça, o Arroz Estúdios, a SMOP ou a Academia de Amadores de Música são ameaçados de despejos sem alternativa de realojamento”.