Debaixo do holofote, pronto para mais um episódio do RESET, está António Zambujo, ele que se diz fã assumido de Mariana Cabral (Bumba na Fofinha), a quem cabe conduzir a conversa. O elogio é retribuído e o rosto fica corado, devido à timidez que lhe é natural. O cantor afirma não ter muito jeito para “esta troca de galhardetes” e confessa odiar dar entrevistas porque isso é sinónimo de falar de si mesmo. No entanto, o RESET, cujo objetivo é falar do fracasso, é uma exceção, até porque antes de ser entrevistado no programa já era ouvinte.

Habituámo-nos a ouvir António Zambujo cantar músicas de amor. Mas, por causa desta timidez que conta ter sido sempre uma característica marcante ao longo da vida, já teve muitos desgostos amorosos. Não que fosse rejeitado, mas porque tinha “pavor da rejeição”, o que por sua vez fazia com que não tivesse coragem de abordar as mulheres por quem se interessava. Em adolescente, só teve uma namorada. Foi ela que tomou a iniciativa, assim como todas as outras mulheres com quem acabou por ter alguma relação, pois nunca teve coragem de dar o primeiro passo.

Zambujo não é tímido a cantar, mas o mesmo não se pode dizer de outro tipo de proezas em palco. No começo da carreira, sentia as pernas a tremer de cada vez que tinha de dar um concerto, mas começou a encontrar defesas porque isso afetava a sua parte criativa. Uma das estratégias para domar o nervosismo foi começar a atuar com a guitarra “porque funcionava como um escudo e ainda hoje pede para cantar sempre sentado.

Nada disto tem a ver nem com talento, nem com a confiança que tem no que faz. António Zambujo confia no seu talento e garante que uma das coisas a que se propõe sempre é a ser melhor “ouvindo os outros”. Explica também que muito do que conseguiu se deveu a felizes acasos. Por exemplo, quando esteve no Clube do Fado e acabou por conhecer a pessoa que o meteu a fazer o “Amália”, o musical de Filipa La Féria. À época, Zambujo pensava que ia apenas cantar, mas acabou por ter de representar e sentia-se “ridículo” porque nunca tinha feito aquilo na vida.

O cantor já foi nomeado três vezes para um Grammy Latino, mas nunca conseguiu vencer. Contudo, confessa não dar importância a prémios. “Acho que a arte não é para concorrer”, remata. Apesar disso, já ganhou dois Globos de Ouro e, quando conseguiu esse feito, perguntou-se: “Porque é que aquilo que eu fiz é melhor do que os outros fizeram?”

Hoje diz-se bem preparado para cantar em auditórios, mas, no começo do seu percurso profissional, cantar ao ar livre nem sempre corria bem. E lembra o espetáculo no festival Sol da Caparica em que os fãs do Anselmo Ralph, que atuava no mesmo dia, o insultaram durante o concerto.

Passo a passo, foi construindo algo que gosta de ver crescer. Quando se lançou no mundo da música houve quem lhe dissesse que já era tarde demais. O seu primeiro concerto em Lisboa, no Teatro da Trindade, em 2008, tinha apenas 8 pessoas a assistir. Dois anos depois, esgotou o Teatro São Luís.

António Zambujo diz que o seu maior defeito é ser “muito arrumadinho”. Não tem mais de 15 camisas e, quando compra uma nova, há outra que tem de sair do seu armário. No palco, também reina a ordem e cada músico ocupa um lugar muito específico. Mas a música, essa deve construir-se mais ao sabor do vento. “Lido muito mal com o caos, mas na música sinto a necessidade de causar um bocadinho de caos”, afirma.

Marcar na agenda:

António Zambujo foi o terceiro de oito convidados da segunda temporada do RESET. Os episódios estão disponíveis no Spotify e no Youtube, onde poderá ver ou rever as entrevistas de outros nomes que estiveram à conversa com Mariana Cabral.

De relembrar ainda que este podcast têm também um cariz solidário, uma vez que a Delta Q doa 500 euros a cada uma das causas escolhidas pelos entrevistados. António Zambujo escolheu o Centro de Paralisia Cerebral de Beja, do qual é embaixador.

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