Com tradução, prefácio e notas do jornalista Viriato Teles, o livro, que demorou sete anos a ser escrito, conta a história do dia-a-dia enfastiado de um burocrata numa cidade e numa ilha onde tudo se repete, como num disco riscado.
A cidade cenário desta novela é Havana dos anos 1990, embora o seu nome nunca seja referido, e o tédio, a frustração e o desencanto do protagonista pudessem acontecer noutros lugares do mundo.
“33 Revoluções” tem uma escrita ritmada e seca e apresenta uma visão crua e desencantada da vida em Cuba, mas recusa o dualismo das paixões extremas em que, como escreveu Canek, “parece haver só duas opiniões em confronto, quando na verdade são muitas mais as vozes participantes, abafadas pela gritaria de ambos os lados”, descreve a editora.
“O país inteiro é um disco riscado, tudo se repete: cada dia é uma repetição do anterior, cada semana, mês, ano; e de repetição em repetição, o som degrada-se até que resta apenas uma vaga e irreconhecível lembrança do áudio original – a música desaparece, substituída por um arenoso murmúrio incompreensível”, lê-se na contracapa do livro.
O próprio título, aliás, visa fazer um trocadilho com as 33 rotações, dos discos de vinil.
A obra, que estará nas livrarias portuguesas a partir de sexta-feira, começou a ser escrita em Sadirac, uma aldeia dos arredores de Bordéus, em França, em finais de 2007, e foi definitivamente terminada em 2014, na Cidade do México, poucos anos antes da morte do autor.
Segundo a Ponto de Fuga, “trata-se do mais depurado dos textos que escreveu (novelas e contos, alguns poemas, ensaios, crónicas de viagem), a sua obra mais definitiva e a primeira publicada em Portugal”.
O livro contém ainda várias fotografias legendadas do autor, desde a infância à idade adulta, da sua família e de amigos.
Canek Sánchez Guevara, neto de 'Che', nasceu em Cuba, em 1974, tendo começado a chamar a atenção, não apenas por ser neto do famoso guerrilheiro argentino, mas pela sua visão “muito crítica” do regime de Fidel Castro, que Canek nunca escamoteou, embora recusasse fazer disso um modo de vida.
Politicamente definia-se como “anarquista, libertário, liberal ultrarradical, democrata subterrâneo, comunista-individualista, ego-socialista". "Enfim, qualquer coisa que não me seja imposta e que eu não possa impor aos demais”, escreveu.
Com uma infância repartida por vários países e a adolescência vivida em Cuba, Canek saiu definitivamente da ilha em 1996, um ano após a morte da mãe.
“Andarilho, anarquista, músico com passagens por bandas punk e heavy metal, Canek também morreu prematuramente (aos 40 anos, em janeiro de 2015), deixando inédita uma obra que prometia fazer dele, por mérito próprio, uma das vozes mais estimulantes da nova literatura latino-americana”, escreve a editora.
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