Com encenação de Bruno Bravo, “Lear” tem uma nova tradução de João Paulo Esteves da Silva e a encabeçar o elenco está Paula Só no papel do monarca Lear, alvo de conspirações e traições na família na altura de repartir o reino pelas filhas.
“Desde o início o que me entusiasmou foi trabalhar com uma atriz a interpretar o Lear, porque eu acho que o género aqui não seria tão determinante para o que queríamos fazer. O Lear pode ser entendido como uma espécie de signo, maior do que o homem ou a mulher”, afirmou hoje Bruno Bravo num encontro com jornalistas, entre ensaios.
O teatro nacional volta a ter em cena esta peça de Shakespeare – em 1998 foi protagonizada por Ruy de Carvalho -, e inicialmente foi pensada para Eunice Muñoz, que chegou a fazer as leituras iniciais, mas acabou por sair do projeto por razões de saúde.
O papel ficou, assim, para Paula Só, atriz que integra há mais de 30 anos o grupo O Bando. Do elenco fazem ainda parte Ana Brandão, António Mortágua, Carla Galvão, Carolina Salles, Joana Campos, João Pedro Dantas, José Redondo e Miguel Sopas.
“Podemos ver o Lear à luz de uma certa masculinidade, como o primeiro homem branco e é interessante ver uma atriz a dizer palavras e frases que até podem ser entendidas como misóginas ou de algum machismo. Essa complexidade interessou-nos”, sublinhou o encenador a propósito da escolha de uma mulher.
Perante um texto “muitíssimo complexo”, Bruno Bravo explicou que a ideia foi centrar a peça em duas narrativas paralelas que acabam por se fundir, sempre em torno da ideia de poder e família: A relação de Lear com as três filhas e ainda a família Gloucester.
Sendo um texto com várias leituras, o encenador focou-se nessa ideia de que “de um momento para o outro se pode perder tudo”, na família como “núcleo de grande violência” e na questão política “sobre a ideia de verdade”.
Com música de Sérgio Delgado e cenários de Stéphane Alberto, Bruno Bravo quis ainda evidenciar o despojamento do palco, com uma presença parca de elementos, como um trono de pedra ou um cavalo.
“Lear”, uma produção da companhia Primeiros Sintomas em parceria com Teatro Nacional D. Maria II, estará em cena até 15 de outubro. As sessões deste fim de semana de estreia – sábado e domingo – serão gratuitas.
A nova temporada do teatro nacional contempla 35 espetáculos dos quais 21 são estreias absolutas, com um orçamento total de 1,1 milhões de euros.
Na apresentação da temporada, em junho passado, Tiago Rodrigues – reconduzido como diretor artístico por mais três anos – explicou que a programação é abrangente e visa consolidar o trabalho iniciado quando tomou posse no cargo.
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