'A fábrica de nada' teve a primeira exibição na Quinzena dos Realizadores, secção paralela do Festival de Cannes, na quinta-feira, e o anúncio foi feito hoje, pelo júri, presidido pela crítica norte-americana Alissa Simon, da Variety.
O filme, interpretado por atores e não atores, segue a vida de um grupo de operários que tentam segurar os postos de trabalho, através de uma solução de auto-gestão coletiva, e evitar, assim, o encerramento de uma fábrica.
Pedro Pinho assina a realização, mas o filme de ficção foi construído em conjunto com Luísa Homem, Leonor Noivo, Tiago Hespanha, a partir de uma ideia de Jorge Silva Melo e da peça de teatro 'A fábrica de nada', de Judith Herzberg e por ele encenada.
Aquando a partida para Cannes, Pedro Pinho explicou à agência Lusa que o filme não tem uma linha narrativa simples sobre os operários que veem a fábrica fechar. Houve uma intenção coletiva de criar várias camadas de leitura que dão outra profundidade ao filme e que espelham a realidade, a crise económica, o papel da Europa e a importância do trabalho.
"Essencialmente esta questão, esta espécie de perdição que todos sentimos ao longo destes anos em relação ao que se estava a passar no mundo, a incapacidade que tínhamos de encontrar um discurso válido para lidar com esta situação, alternativas, perspetivas, explicações, teorias. A partir desse sentimento de impotência de desnorte quisemos construir o filme", explicou o realizador.
Em Cannes, o director artístico da Quinzena dos Realizadores, Edouard Waintrop, destacou 'A fábrica de nada', pelo "uso de uma variedade incrível de géneros cinematográficos: é praticamente um 'thriller' no início, tornando-se íntimo, político, social, fazendo um breve desvio para a comédia musical."
Responsáveis da Portugal Film, que acompanharam a exibição do filme, em Cannes, destacaram à agência Lusa a "ovação de sete minutos", após a estreia. Os jornais Liberation e Le Monde, assim como a revista Les Inrocks assinalaram a obra do realizador português, nas edições de sexta-feira, como uma das revelações da Quinzena dos Realizadores.
'A fábrica de nada' tem três horas, é uma ficção embebida na realidade e conta com um momento musical encenado e com um outro momento de reflexão, protagonizado por vários intelectuais em redor de uma mesa de jantar.
"O que eu acho que o filme conseguiu fazer foi reunir um conjunto de visões antagónicas e contraditórias sobre o que se está a passar", disse o realizador à Lusa, antes da partida.
Pedro Pinho é realizador e cofundador da produtora Terratreme. Da filmografia fazem parte, por exemplo, o documentário 'Bab Sebta', correalizado com Frederico Lobo, e 'Um fim do mundo', primeira média-metragem de ficção.
Com a selecção para a Quinzena dos Realizadores, Pedro Pinho conseguiu um distribuidor francês e outro internacional para 'A fábrica de nada'.
Constituíram o júri, além de Alissa Simon, que presidiu, os críticos Thomas Aïdan (França), Rodrigo Fonseca (Brasil), Barbara Lorey de Lacharrière (França), Pierre Pageau (Canadá), Eva Peydró (Espanha), Silvana Silvestri (Itália), Mode Steinkjer (Noruega) e Vidyashankar Jois (Índia).
O Júri FIPRESCI de Cannes atribui três prémios: dois na Selecção Oficial - um para a Competição e outro para Un Certain Regard - e um terceiro para a Semana da Crítica ou para a Quinzena dos Realizadores.
Os prémios da competição oficial do Festival de Cannes serão conhecidos no domingo, no encerramento do festival.
O 70.ª edição do Festival de Cannes encerra no domingo.
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