“É um texto escrito à beira do abismo, com duas forças em conflito e que me apaixonou logo que o li pela primeira vez”, disse à agência Lusa Tiago Torres da Silva, responsável pela dramaturgia e encenação.
“Pela água” é o texto inédito com que Tiago Correia venceu o Grande Prémio de Teatro da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) 2016, uma parceria com o Teatro Aberto, e que agora sobe ao palco da sala Vermelha deste teatro, à Praça de Espanha.
Um velho, um Jovem e uma Mulher são as três personagens do triângulo amoroso de “Pela água”, cuja ação gira em torno dos dois homens e da descoberta que fazem de que a mulher que ambos amaram em simultâneo no tempo se suicidara.
Após a morte da mulher, o marido convoca o amante da mulher para ir a sua casa numa tentativa de se livrar da culpa da morte da mulher, disse Tiago Torres da Silva.
“O que acaba por acontecer é um jogo de forças entre estes dois homens, pois ambos pretendem sair ilesos de culpa do suicídio da mulher que amavam”, acrescentou o encenador que também é poeta.
Nesta dramaturgia dominada pela paixão, pelo rancor e pela ausência, o espectador pode ainda refletir sobre as realidades políticas e sociais que moldam as personagens e a sua história e questionar-se a quanto nos obriga o amor ou a quanto o sacrificamos.
O autor da peça foi de uma “mestria imensa” na forma como geriu o conflito de forças entre os dois homens acabando por fazer com que o público se aperceba muito desse confronto “mais pelo que não é dito”, disse o responsável da dramaturgia e encenação e que também é poeta.
“Porque há um lugar muito forte para o silêncio neste texto do Tiago Correia”, sublinhou Tiago Torres da Silva, que regressa ao Teatro Aberto onde há muitos anos iniciou carreira como assistente de encenação de João Lourenço.
À semelhança do que fizera com o Grande Prémio de Teatro SPA-Teatro Aberto 2010 – “Álbum de família”, de Rui Herbon -, o diretor do teatro, João Lourenço, voltou agora a convidar o seu antigo assistente para encenar.
Na dramaturgia desta peça, Tiago Torres da Silva optou por incluir a personagem feminina, que não constava do texto original.
“Mas como ela estava sempre na cabeça deles, optei por criá-la como personagem real”, disse, sublinhando tê-la construído com base nos quadros do pintor Luís Noronha da Costa em que as figuras femininas estão sempre desfocadas.
“Como uma existência que continua a estar na cabeça do Velho e do Jovem”, enfatizou.
“Para que as pessoas se sintam dentro de um sonho, imersas naquele ambiente mágico e para o qual muito contribuíram a música de José Peixoto e o cenário de Rui Francisco”, frisou.
A interpretar “Pela Água” estão Fernando Luís (Velho), Miguel Nunes (Jovem) e Teresa Sobral (Mulher).
Com figurino de José António Tenente, a peça vai estar em cena de quarta-feira a sábado, às 21:30, e, aos domingos, às 16:00.
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