Será possível estar mais de 28 horas consecutivas a jogar "flippers"? A resposta será dada no próximo dia 8 de Setembro, após o canadiano Eden Stamm tentar bater o anterior recorde na Lamplighter Public House, em Vancouver (Canadá).
Stamm, de 43 anos, poderá parar cinco minutos em cada hora. Ele ocupa actualmente a 54ª posição no "ranking" mundial de jogadores de "pinball" (ou "flippers", como o jogo de máquina é conhecido em Portugal), segundo a International Flipper Pinball Association (IFPA).
O anterior recorde validado data de Janeiro de 2007 e foi conseguido por Alessandro Parisi, também na Austrália, em Whyalla. Mas, no ano passado, Lonnie Mihin esteve a jogar 50 horas na Pinball Expo, em Chicago (EUA), e Ronald Mowry manteve-se 72 horas e 8 minutos a jogar em 1974, em Hallendale Beach, na Flórida (EUA), no âmbito da promoção do filme "Tommy", com os The Who.
No entanto, estes dois últimos recordes não ficaram registados por não cumprirem as regras do Guinness World Records, recorda a Pinball News.
Da proibição aos jogos electrónicos
As máquinas mecânicas de "pinball" foram uma melhoria, patenteada em 1871 pelo inglês Montegue Redgrave, ao antigo jogo de mesa Bagatelle.
As máquinas tiveram o seu apogeu nos anos 30, quando lhes adicionaram pernas, o que tornou o jogo mais fácil.
As grandes fabricantes de "flippers" eram de Chicago: ABT Manufacturing (fundada em 1924), Gottlieb (1927), Bally (1932), Williams (1943) ou Midway, em 1958. Eram os mesmo fabricantes de máquinas de música ("jukebox") ou de máquinas de entrega de produtos, como refrigerantes ou pastilhas elásticas.
Mas, no início dos anos 40, o presidente da câmara de Nova Iorque, Fiorello LaGuardia, mandou destruí-las. No primeiro dia da decisão, a 21 de Janeiro de 1942, foram confiscadas mais de 2.000 máquinas, destruídas e enviadas para as fábricas de armamento. Outras cidades norte-americanas fizeram o mesmo.
Elas só foram re-legalizadas na Califórnia, por decisão do Supremo Tribunal, em 1974, e dois anos depois pela cidade nova-iorquina, com as declarações de Roger Sharpe, então considerado o melhor jogador mundial de "flippers" e que fez uma demonstração da sua perícia. Mas era demasiado tarde, porque essa década de 70 viu o aparecimento das máquinas electrónicas de jogos.
O mesmo sucedeu em Portugal, nos anos 80 (ou mesmo na antiga União Soviética), quando as chamadas "casas de jogos" substituíram as máquinas de "flippers" pelos jogos electrónicos, do Pong ao Pac-Man, e se passou das casas de jogos aos videojogos em casa. A disseminação dos "flippers" como jogo electrónico nos computadores pessoais eliminou o seu potencial de regresso.
Nessa época, em Portugal, as casas de jogos encerraram, as máquinas mecânicas atiradas para armazéns ou destruídas, algumas compradas em segunda mão mas rapidamente colocadas na garagem, devido à falta de peças ou de lâmpadas substitutas.
"Pinball" em Portugal
Portugal tem quatro jogadores reconhecidos pela IFPA, mas apenas dois registados e no activo - todos aparentemente a jogar fora do país.
O primeiro é Federico Barbato, de 36 anos, que ocupa a 2.246ª posição no ranking mundial, com a melhor classificação em terceiro no Torneo Madrileño de Pinballs, realizado em Maio de 2014 em Madrid. No mesmo Torneo, este ano, ficou em sexto.
Hugo Inácio, com 33 anos, está na 4.994ª posição mundial, com o melhor resultado de sétimo nos Pinball HQ Tournament, na Austrália, realizados nos passados dias 5 e 26 de Agosto.
Em terceiro está Luís Féraille, na 7.827ª posição da IFPA. O seu melhor resultado ocorreu a 19 de Maio de 2013 no Airport Tournament, em Les Mureaux (França), onde ficou em quinto lugar. Por último, e na posição 24.166 da IFPA, Stéphane Leroy conseguiu o melhor resultado a 28 de Julho de 2013 no Dylan Pinball Day, em Dornecy (França), onde se classificou em 22º.
O interesse neste tipo de jogo mecânico não passa ao lado de Portugal, mas é discreto. Em Junho passado, a PinballPT organizou o torneio Cascais Pinball Cup 2015, onde conseguiu nove participantes "e alguns espectadores". Das 12 máquinas disponíveis, havia que escolher sete, com a semi-final e a final a serem jogadas numa única e diferente máquina. A organização promete voltar em 2016.
30 mil jogadores
Apesar de Portugal não ter nenhum "Às dos flippers", como cantavam os Táxi em 1981 - ou os Who em "Pinball Wizard" em 1969 -, a verdade é que o "Pinball is back", como anunciava o jornal britânico The Guardian no início de Agosto.
Nos Estados Unidos, um evento no início de Agosto teve um número recorde de 700 máquinas de "flippers" e de arcada no centro de congressos de Pittsburgh. A "prova definitiva" do revivalismo contou com 650 jogadores internacionais, embora a IFPA contabilize 30 mil jogadores registados.
Um dos finalistas foi Zach Sharpe, vice-presidente da IFPA e filho de Roger Sharpe, um personagem lendário por ter testemunhado em 1976 perante a câmara de Nova Iorque que os "flippers" eram "um jogo de talento, não de sorte", tentando a re-legalização das máquinas que então eram associadas ao jogo ilícito.
Um novo recorde mundial pode dinamizar o revivalismo sobre estas máquinas mecânicas. Mas conseguirá Stamm jogar mais de 28 horas seguidas?
Pedro Fonseca é jornalista, especializado no impacto social das novas tecnologias mas gosta de ciências. Colaborou em diferentes diários, semanários, revistas, projectos na Web, programas televisivos e radiofónicos. É “blogger”, tuítador, facebookiano e até pinstagrama. Conseguiu escrever um razoável livro, ter excelentes filhos e ainda tratar de umas pobres árvores.
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