A partir de uma coleção de poemas e de excertos de poemas do livro “Jogo sensual no chão do peito”, no qual Graça Pires imagina palavras que Isadora Duncan (1877-1927) lhe teria dito caso ela as pudesse ouvir, Rita Lello criou um espetáculo ficcionado não apenas sobre a criadora da dança contemporânea, mas também sobre a revolucionária, a aventureira e a defensora dos direitos de liberdade da mulher, disse a atriz e encenadora à agência Lusa.
Através da mistura de duas fontes e com a orientação dramatúrgica de Eugénia Vasques, que deu a conhecer o livro de Graça Pires a Rita Lello, surgiu um espetáculo que não pretender ser biográfico, mas antes uma ficção sobre “a grande pioneira da dança contemporânea”, acrescentou.
Embora assente em grande parte em fontes “biográficas e autobiográficas”, "Isadora, fala!" “é um encontro entre aquilo que inspirou Graça Pires nalguns poemas e aquilo que inspirou [Rita Lello] nas palavras da Isadora”.
Em “Isadora, fala!” estão muitas palavras que tocam temas ainda atuais apesar de a bailarina e coreógrafa norte-americana ter morrido há quase cem anos, acrescentou a atriz que também veste a pele da artista nascida na Califórnia em 26 de maio de 1877 e põe na sua boca algumas palavras daquela.
Entre essas palavras contam-se termos relativos aos direitos da mulher, como o direito da liberdade da mulher enquanto algo por alcançar em muitos locais do mundo.
“Um espaço de liberdade e expressão que ela conquistou e viveu, mas não só”, frisou.
O "discurso de solidariedade, compaixão, amor, o discurso revolucionário no sentido da obtenção de um caminho para a paz que passe pelo amor e pela liberdade, aliada a uma filosofia que vê no amor a solução para a paz e que não veremos mais”, frisou.
E o que é “mais engraçado” é que todo este discurso de Isadora Duncan, aliado a uma ideologia “marxista-leninista, sobretudo leninista, já que tinha uma grande admiração por Lenine, que ela misturava com uma linguagem de amor cristão”, acrescentou.
Um espetáculo que, segundo a criadora, segue as palavras da retratada, que afirmava: “Uso o meu corpo como um meio, tal como o escritor usa as suas palavras. Não me chamem bailarina.”
E é na Língua Gestual Portuguesa que Rita Lello e a coreógrafa, intérprete e professora de dança contemporânea Amélia Bentes se inspiram para acompanhar a palavra dita em cena com sequências da palavra em movimento, “da palavra impressa no espaço através do corpo da intérprete acompanhado por uma sonorização imersiva que envolve a palavra que se move”.
“Isadora, fala!” vai estar em cena na sala Mário Viegas até 9 de junho, com sessões de quarta-feira a sábado, às 19:30, e, ao domingo, às 16:00. Dias 4 e 9 de junho, as sessões terão interpretação em Língua Gestual Portuguesa.
Criada e interpretada por Rita Lello, “Isadora, fala!” tem como assistentes de encenação Rute Miranda e Vitória Nogueira da Silva. O texto é de Rita Lello, a partir de “Jogo sensual no chão do peito” de Graça Pires e de palavras de Isadora Duncan.
O espetáculo tem dramaturgia de Eugénia Vasques, movimento de Amélia Bentes, figurino de Dino Alves, desenho de luz de Vasco Letria e vídeo de David Medeiros.
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