“Tabucchi et le Portugal” é o mote da exposição inaugurada hoje na delegação da Fundação Calouste Gulbenkiam em Paris, e que reúne livros, fotografias, cadernos pessoais e apontamentos de Antonio Tabucchi, autor italiano falecido em 2012 e que fez de Portugal a sua casa, assim como inspiração para a sua obra. A exposição fica patente até ao dia 28 de abril.
Paris foi também um dos locais onde Tabucchi viveu e estabeleceu laços, criando assim um eixo entre Itália, Lisboa e Paris.
“Foi através de Paris que ele chegou a Portugal. Ele foi estudante aqui [em Paris] durante um ano, antes de ir embora comprou aqui um livrinho, esse livrinho era poesia de Fernando Pessoa. Ele quis aprender a língua em que foi escrita essa poesia, conhecer Portugal e conheceu-me a mim. E agora temos uma neta”, disse Maria José de Lencastre, mulher de Tabucchi e comissária desta exposição, em declarações à agência Lusa.
Para assinalar a inauguração da exposição, amigos e admiradores da sua obra reuniram-se esta quarta-feira numa conferência na delegação da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, para lembrar o escritor, juntando oradores de Itália, França e Portugal.
Para Anna Dolfi, professora de literatura italiana na Universidade de Florença, e oradora nesta conferência, a autodefinição da condição de Tabucchi, que ele apelidava de “estrangeirado”, era a mais correta.
“Ele era um estrangeirado da Itália e pela Itália, um país de que nunca se afastou porque levou sempre com ele o mais importante, a língua italiana. Ele pertenceu aos três países, e quando estava em cada um deles era como se também não pertencesse realmente. Foi um estrangeirado em todo o lado, mesmo se, em todas as suas escritas e escolhas, ele fosse completamente italiano, francês e português”, afirmou a académica.
Mas sem nenhuma divisão, segundo recordou o amigo José Sasportes, ex-ministro português da Cultura. “É um escritor italo-português, mas essa etiqueta não chega para explicar o que a descoberta de Portugal significou para o desenvolvimento da sua obra. Não há uma crise de identidade em Tabucchi, ele não estava dividido. Ele era múltiplo, como Pessoa”, afirmou Sasportes durante a conferência.
As palavras escritas e ditas por Tabucchi também foram lembradas. “Como ele escreveu, a combinação de palavras é suficiente, muitas vezes, para criar uma vida. Ele tinha uma crença profunda e não decorativa nem poética nas palavras. Elas abrem o horizonte e levam-nos a todo o lado”, indicou Adrien Bosc, autor do livro “Constellation”, sobre a queda de um avião francês nos Açores, que também foi orador nesta conferência.
Já as próprias palavras de Tabucchi foram ditas por Maria de Medeiros, que leu à plateia o conto “Os Voláteis de Fra Angelico”, em vários momentos da homenagem.
“Para mim é só felicidade ler estes textos. Identifico-me completamente com Antonio Tabucchi. Eu sou completamente estrangeirada e ainda bem. Estamos na origem da ideia da Europa, de que o Mundo é nosso e de que as fronteiras não são tão importantes assim”, disse a atriz à agência Lusa.
Tabucchi continuará a ser recordado em Paris, já no dia 6 de abril na Maison de la Poésie, com o lançamento do livro “Tabucchi par lui même”, publicado pelo Instituto Cultural Italiano, no âmbito do festival “Italissimo”.
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