I
Durante muitos anos, pensei que «atropelar» quisesse dizer passar por cima, não apenas dar uma pancada, um encontrão. No meu imaginário, um atropelamento significava ser-se passado a ferro por um carro, primeiro as rodas da frente, depois as de trás. Quando a minha mãe foi atropelada, julguei que tivesse ficado esmigalhada por dentro, bolacha de água e sal. Perdeu uns dentes, partiu o nariz, o queixo, um pulso, mas es- migalhada, por sorte, só uma perna, onde ainda mora uma trave metálica que o osso, com o tempo, adotou. Já não a pode tirar, agora. Pirata perna de ferro, com cicatriz ao longo da canela, apitando para sempre nos aeroportos.
A ideia do atropelamento da minha mãe baralhava-me. Envolvia um camião. Pareceu-me espantoso que um ser humano sobrevivesse ao ser atropelado por um camião. Supu-lo TIR, várias rodas, zumba, zumba, e a minha mãe sempre lá debaixo, cada vez mais esborrachada. Mas não, não foi um camião a atropelá-la, foi um camião a tapar a vista, que não deixou que ela visse a estrada, assim é que a história está certa. Só que não, também não foi bem assim, o que lhe obstruiu a visão foi o álcool. A minha mãe estava bêbada e atravessou sem olhar. Não viu o carro, e o carro não a viu porque era de noite. A minha mãe estava bêbada, a atravessar uma estrada, de noite. Assim é que é. Só não sei porquê. Eu tinha cinco anos e não se dava satisfações às crianças. Embora tenha sido eu a acordar de manhã e a ver que não estava ninguém em casa, a ver que havia fósforos espalhados no chão da sala, a pegar na minha irmã bebé e a ir com ela até casa da porteira, perguntar se tinha visto a minha mãe.
Não me lembro de mais nada. Os fósforos espalhados e a porteira no rés-do-chão são tudo o que sei do desastre. Chamava-se-lhe «o desastre», como quem diz «o terramoto», uma coisa que aconteceu à minha mãe. A palavra tinha um peso trágico e, mais tarde, vali-me da sua ambiguidade. Presume-se que um desastre tenha sido «de automóvel», que, quando digo «o desastre da minha mãe», a vítima estivesse ao volante. Nós não tínhamos carro. Falar em desastre dava a entender que havia um, ou, pelo menos, que houvera em tempos, omissão que, em conversa, nos assegurava um lugar na classe média.
O meu pai zangou-se muito com a minha mãe. Durante anos, falou no assunto dizendo «Eu bem lhe pedi que não vos deixasse sozinhas em casa. Foi a única coisa que lhe pedi.» A sua deceção, cheia de lógica e autoridade, não me parecia incompatível com o facto de ele nos deixar às três frequentemente sozinhas. Nem com, tempos antes do desastre, ter saído de casa definitivamente, deixando-nos naquele subúrbio longínquo onde não conhecíamos ninguém.
Foi através do meu pai que compus um pouco melhor o retrato do acidente. Segundo ele, a minha mãe devia ter saído para nos ir comprar Cerelac. Ele dava sempre essa explicação e nunca me lembrei de perguntar porquê a meio da noite e porque não apanhar primeiro os fósforos espalhados no chão. Ocorreu-lhe falar em Cerelac, talvez, por ser esse o seu próprio álibi. A explicação que dava para estar vários dias e noites sem aparecer, na altura em que vivíamos todos juntos, era estar a fazer dinheiro. Segundo ele, depois chegava a casa com um maço de notas assim — e punha as mãos em paralelo de modo que dentro delas coubesse um pacote, ora de natas, ora de leite, dependendo do ânimo —, para comprar fraldas e Cerelac. As ausências dos adultos deviam-se à Cerelac. Por eu e a minha irmã precisarmos de comer. A culpa era nossa.
Se foi realmente por causa disso que a minha mãe foi atropelada, é muito curioso. Quando ela tinha a idade que eu tinha na altura do seu desastre, a minha mãe foi bebé Cerelac. Vinte e cinco anos antes, contracenando com um primo, a sua cara saudável fora impressa em milhares de embalagens que mostravam às famílias como era a família feliz. Vi a fotografia oficial, grande, a preto-e-branco, num álbum antigo. A minha mãe era muito parecida comigo, disse a minha avó. Não sei se nos parecíamos, se nos parecemos ou se algum dia nos pareceremos. A sua cara está cheia de acontecimentos que faltam à minha. Na altura, aceitei a comparação com gosto e alguma estranheza. Em parte, o mesmo sentimento com que explorei os outros retratos de pessoas novas e a preto-e-branco que eu só conhecia velhas e a cores. Folheei esse álbum muitas vezes, porque fomos viver com a minha avó enquanto a minha mãe recuperava do desastre.
No hospital, segundo reza a lenda, o meu pai levava-lhe fruta fresca todos os dias. Atrás, enganei-me. Afinal tenho mais uma recordação dessa altura. Um dia, fomos a Lisboa ver a minha mãe. Não me lembro de nada da visita. Só de estarmos a descer uma rua escura e estreita, à saída do hospital que hoje sei ser o S. José, e de ver à porta de uma loja, provavelmente no Martim Moniz, uma camisa branca, de manga curta, às riscas verticais com uns monstrinhos verdes, muito feios. Perguntei à minha avó se podíamos comprá-la. Para minha surpresa, disse que sim. Usei-a muito, até deixar de gostar dela. De Cerelac ainda gosto, sobretudo em manhãs de ressaca.
II
Olouco à minha frente na fila incomoda e surpreende toda a gente com a sua diatribe contra bandidos, corrupção, poderes instituídos, banco alimentar, banco central alemão, paraísos fiscais (fala nas ilhas Fiji com muita convicção), crimes «contra o infantil, o meu filho, prostituto do governo português», criminosos. Não posso pedir-lhe que se cale. É a única pessoa com a sensatez de se zangar devidamente com o mundo, e haja alguém que nos dê coragem. Precisamos de bons exemplos.
Levantei-me cedo para aqui estar, dormi mal, tenho a cara e o corpo cansados. Estamos a meio de abril e ainda não parou de chover. Trago exatamente três camisolas e dois casacos vestidos. Cachecol, guarda-chuva. O tempo está tão instável como este meu vizinho da frente, que agora me obriga a fumar o fumo do seu cigarro. Minutos depois, abrem-se as portas, e todos nós, bestas mansas, avançamos devagar, cada uma tirando a sua senha. Vejo que eu e o louco vamos para o mesmo curral. Confirmo o andar e vou para junto dos elevadores, preguiçosa e com a circulação um pouco cortada nas pernas, de meias, calças e botas de cano alto a agrilhoarem-me. O elevador chega, as portas abrem-se, não percebo se vai subir ou descer, olho para cima em busca de uma luz que mo indique. A passageira do elevador estica o braço, carrega no painel de botões interior, as portas fecham-se e o elevador desce sem que eu tenha tempo de reagir. Não sei qual de nós é mais louco, o louco oficial que berra, eu que hesito frente ao elevador parado e que nada digo quando a outra louca não hesita e o põe em movimento sem esperar por mim. Vou, então, de escadas. Antes de ver as tabuletas que me interessam, vejo uma que diz: Sala Rubi, Sala Luar, Sala Esmeralda. Setas para a esquerda e para a direita. Achei que estava numa repartição do Estado, não num motel barato. Pouco depois, percebo. São as salas onde se realizam os casamentos. Atrás de portas de vidro fosco, numa cave. É muito bonito casar à luz da lei. Também casei pelo civil, mas não consigo imaginar, falha minha, a felicidade conjugal a jorrar no meio de pessoas que ali foram tratar do cartão de cidadão, do divórcio, do registo predial, tudo à luz da luz artificial.
Chego à sala, já cheia de gente, e olho para os ecrãs. Sou a senha vinte e sete e vai na vinte e seis. Subo rapidamente as mesmas escadas por onde desci. Saio e sondo a rua. Nem sinal do meu pai. O louco lá está de novo, fumando outro cigarro. Ponho-me a pensar em estratégias para empatar a vez enquanto o meu pai não chega. Volto para dentro e pergunto ao segurança quantas senhas há de tolerância. Três. Falando mais sozinha do que com ele, digo que sou o vinte e sete e já vai no vinte e seis. Ele franze o sobrolho e vai espreitar um ecrã próximo. Não, minha senhora, era bom que fosse, mas vinte e seis é a mesa. Ainda vai no sete. Obrigada. Boas e más notícias. Fico ali à espera, então, a ver se vejo o meu pai chegar, o que acaba por acontecer. Cicerone eficiente, levo-o até aos elevadores, que agora não deixo fugir. Dá-me o jornal de distribuição gratuita, porque sim, para garantir que ando bem informada, olha que no dia treze o miradouro das Amoreiras não se paga. Está dado o tiro de partida para o seu monólogo para um ouvinte, peça que leva à cena vezes sem conta há muitos anos, setenta e sete, cabeça de cartaz coberta de cabelos brancos. Senha nove, já não é mau. Procuramos lugar, mas só há cadeiras avulsas, em nenhuma das filas há duas juntas. Um jovem, talvez cabo-verdiano, percebe e muda para uma dessas cadeiras, libertando um par. Sorrio-lhe duplamente. A minha gratidão quer ser também um pedido de desculpas pelas vezes em que os nossos concidadãos o trataram mal por preconceito. Na troca de olhares, que dura um segundo, gostaria de lhe dizer que não perca a esperança na humanidade. Estou cansada mas o coração está em forma. Ou não tivesse eu tirado a manhã para vir ajudar o meu pai a tratar de burocracia. Apercebo-me da soberba dos meus pensamentos e fico envergonhada. Dez. Volto a sintonizar a rádio pai. Diz-me um disparate qualquer sobre um primo nosso, reafirma as mesmas convicções de sempre com as mesmas palavras de sempre. Teremos de esperar bastante, ainda bem que estamos sentados. À nossa frente, um pilar forrado a pedra verde-esmeralda com um padrão regular é a única coisa bonita num raio de cinquenta metros, onze, e, ao fundo, os guichets. Mesmo diante de nós, a tal mesa vinte e seis. A funcionária move-se sem pressa. O painel vai apitando e mostrando números novos, mas o talho avia fregueses com vários pedidos, não só o do cartão, e há muitos apitos em fal- so. Enquanto o meu pai fala e o oiço pela metade, mexo os olhos para confirmar cada apito. Doze. Mais um tiro no porta-aviões. A senhora na fila de assentos à nossa frente, na casa dos sessenta, está absorta num jogo ridículo no seu telemóvel e pouso os olhos nela, treze, à falta de melhor que fazer.
O meu pai agora fala-me de um encontro fortuito com uma rapariga que o abordou, uma jornalista, falou-lhe num casting. Digo rapariga porque até aos quarenta anos vocês me parecem todas raparigas, tu és uma rapariga, a tua irmã também, além de que vocês as duas parecem mais novas do que são, e vejo-vos sempre como umas meninas, sobretudo a tua irmã. E então a jornalista, pai. Ah, a jornalista, uma rapariga muito bonita. Uma rapariga do teu género, que tu e a tua irmã também são muito bonitas. E aqui lembro-me de ele em tempos me ter dito que eu estava muito bonita no dia do meu casamento, «ainda mais bonita do que és». Bom, e a tua irmã, então, quando se arranja, como quando vai a entrevistas. Precisa é de perder algum peso. Mas é do stress, é normal, com a ansiedade. E começa a ficar cheio de pena, o que me incomoda. Mas então a jornalista, pai, deixe lá a Sofia, e penso no Trump e na Ivanka e em como a pena pode ser um sentimento tão poderoso como a luxúria. Pergunto-lhe pela jornalista não por querer saber, porque ele vai acabar por me contar, e vai acabar por não ter interesse nenhum, catorze, quero apenas mudar de assunto e tentar que a conversa tenha algum nexo, mesmo que haja patranhas pelo meio. Então a jornalista, imagina tu, diz-me que sou um homem muito bonito. E ela também era bonita, e sabes como sou galanteador e então disse-lhe a menina também é muito bonita. E ela diz-me que gostava que eu, quinze, participasse num casting. Agora o louco oficial entra na sala e senta-se numa das cadeiras livres, ao lado da mulher que brinca com o jogo colorido no seu telemóvel. O louco olha com cara séria, muito séria, para a funcionária da mesa vinte e seis, ameaçando-a de morte com os olhos. Há mais guichets a virar frangos, mas ele decidiu odiar aquele cubículo em particular. Talvez não devessem, dezasseis, pôr as cadeiras de frente para as mesas, cria tensão. E então o casting, pai, que tal. A rapariga disse-me que era pago, bem pago, e perdi logo o interesse todo, e então comecei por lhe dizer que era pintor, e ela disse que já sabia, o que me surpreendeu, e disse-lhe que tinha estado a pintar e que estava cansado e que íamos adiar sine die. Ah sim, pai? Pois. Dezoito. Quando foi daquele filme que fiz para a Gulbenkian, pagaram-me bem, oitocentos euros ou lá o que foi. E eu sei perfeitamente a que filme se refere. Há quinze anos, quando ainda não havia euros, uns garotos com uma bolsa ou para um concurso da Gulbenkian filmaram-no num bar do Bairro Alto, certa noite, perdido de bêbado, a executar o seu monólogo ensopado para ouvinte nenhum e chamaram àquilo um filme e deram-lhe um título tirado de um poema de Herberto Helder. Em troca, deram-lhe apenas um livro do poeta e uma cassete VHS, que, orgulhoso, nos legou. Na curta, muito mal iluminada e com um som roufenho, o meu pai, tombado sobre si mesmo na cadeira, parece o louco na cadeira agora à nossa frente, dizendo qualquer coisa sobre os talibãs, e que Jesus também era um talibã, só que um talibã do amor. Vinte e um. Sabes que o Herberto não gostou nada. Não gostou que tivessem usado o nome de um poema seu, nem que tivessem ido buscar um ator tão parecido com ele. Vinte e dois. Durante algum tempo, o meu pai disse-se ator e cineasta por causa da curta. De repente, um vislumbre dos políticos que empolam o currículo com títulos académicos inventados. Nunca mais viu a gravação e, se a revis- se, hoje, perceberia o triste feito. Não atrasa nem adianta fazê-lo, nem eu tenho já a cassete. O cão alçou a pata contra a fila de DVD onde ela morava, acabando arrumada no lixo.
O louco encartado sai da sala, vinte e três, e no guichet vinte e sete as funcionárias do vinte e seis e do vinte e sete fazem um pequeno espetáculo de marionetas para que uma criança de cinco anos olhe de frente para a câmara. Ela, com medo e com zanga, recusa-se. A mãe intima, já sem paciência, olha para o boneco, Rodrigo, e o miúdo nada, e alguém lá dispara e ele está a olhar de lado, com cara de birra, e a mãe tira-o do banquinho onde o tinha empoleirado, pegando no filho ao colo com zanga e com mimo. Rodrigo, lisboeta, condenado a dez anos de amuo desfocado no cartão. Vinte e quatro. Sim, já não sei como foi que ele soube, talvez pela filha, a Gisela. Conhecemo-nos ainda eu não conhecia a tua mãe. Eu ia na rua da Escola Politécnica e há uma rapariga muito bonita que me chama, senhor, senhor, e diz-me que sou muito parecido com o pai dela. E eu disse-lhe: não me diga que é filha do poeta Herberto Helder, com quem eu realmente era muito parecido e até confundido, e ela puxa do documento de identificação e prova que é. Fizemos logo ali uma grande amizade, e fomos tomar café. Apesar da diferença de idades, dezassete anos, como eu para a tua mãe, demo-nos muito bem. E aqui mudo mentalmente de estação, porque já sei o que me vai contar a seguir, e embora seja tudo inocente e ela até acabe por se apaixonar é pelo melhor amigo do meu pai, não me interessa ouvir a história da rapariga que se encantou com o homem muito parecido com o pai dela. Vinte e cinco. Só que agora dá-me um dado novo a que presto atenção. Sempre gostei muito de miradouros, sabes? Pergunto-me quem não gosta e a que propósito mo diz, se vai guinar e falar-me outra vez nas Amoreiras. E naquela noite fomos ao Sheraton, que tinha um pub no último andar, para ver a vista. Só que nos enganámos a carregar no botão do elevador e em vez de sairmos no piso do bar saímos no do restaurante. Adivinha quem estava a cantar para os clientes? A Simone de Oliveira. Talvez a «Desfolhada». E ficámos a ouvir. E aqui ele ensaia cantarolar a canção, muito mal, e apita o vinte e seis. Nem sinal do louco à nossa frente. Pego no louco ao meu lado, antevendo que avançarão na chamada, o que acontece. Coube-nos a mesa vinte e seis. Sou especialmente gentil com a senhora para que tudo corra bem, esse velho contrato social, e porque sei que o louco virá reclamar o seu lugar a qualquer momento e temos de nos aliar.
A funcionária pede os documentos ao meu pai, que os mostra. Para confirmar que ele é ele, pede-lhe que diga o nome próprio da mãe. O meu pai recita o nome completo da minha avó. A funcionária faz-se desentendida e pede o nome próprio, próprio. E ele mostra-se atrapalhado, pois se já o disse. E torna-se aquela criança de cinco anos que não sabe ou não quer olhar para a câmara e torna-se aquela criança de cinco anos que eu fui, atrapalhada quando lhe disseram que era impossível ser aquele o nome da minha mãe. Tive de ir confirmar. E não era. Vim a descobrir que a minha mãe tinha um nome que ninguém usava para a chamar. E o meu pai lá disse Eulália, e retomámos o programa das festas. Frente à câmara, para ser fotografado, a funcionária diz-lhe que não se mexa, e ele confirma que não se mexerá fazendo que não com a cabeça. A fotografia sai-lhe com a cara virada para o lado. Fica muito contente com o resultado, nunca gostou de olhar de frente para a objetiva. Pareço o Hemingway. Vamo-nos parecendo com outras pessoas à medida que o tempo passa, diz-me. Só posso concordar. A seguir, as impressões digitais. O equipamento é demasiado moderno para os seus dedos antigos. A funcionária sugere que ele passe ambos os indicadores nas laterais do nariz. É para os engordurar e facilitar a leitura eletrónica, mas ele acha que é superstição da funcionária e faz-lhe a vontade, divertido. Máquinas tão avançadas e impessoais mas ainda a precisarem de ser ensebadas. Enquanto pagamos, o louco reentra em cena, pistoleiro no saloon. Troca de olhares mortífera entre ele e a do vinte e seis, que o manda passear. Quando o nosso processo chega ao fim e nos levantamos, já está ele a ser atendido noutro balcão e já está o meu pai a falar-me da religião Bahá’í, do Irão, que tem ensinamentos humanistas muito bonitos e cujos devotos são perseguidos ainda hoje, e a contar-me que conheceu uma família Bahá’í em Lisboa, na rua da Escola Politécnica, há cinquenta anos, que tinham uma loja de tapetes persas. A história alonga-se, mas pelo menos é nova. O pai, viúvo, morreu na loja, um ataque de coração fulminante. Caiu com conforto, penso eu, prática. A filha, Guiti, nome próprio que significa «universo», foi para o Brasil. Os irmãos foram cada um para seu lado. Uns metros mais adiante, debaixo de chuva, eu e o meu pai fazemos o mesmo.
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