Os The Black Mamba, com a música “Love is on my side”, venceram esta noite a 55.ª edição do Festival da Canção e vão representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, em maio, nos Países Baixos.

O grupo foi escolhido de entre um grupo de dez finalistas, que incluía os Karetus & Romeu Bairos, Joana Alegre, Fábia Maia, Valéria, Carolina Deslandes, NEEV, Pedro Gonçalves, Sara Afonso e EU.CLIDES, apurados em duas semifinais, nos dias 20 e 27 de fevereiro, nos estúdios da RTP, em Lisboa.

Os The Black Mamba receberam a segunda melhor votação do público, empatando a 20 pontos com Carolina Deslandes, com a música “Por um triz”. Segundo as regras, em caso de empate, prevalece a votação do público (que deu menos pontos a Carolina Deslandes).

Carolina Deslandes vencera a votação do júri nacional, que juntou os votos das sete regiões do país. Recorde-se que na final o peso das votações é repartido entre os telespectadores e um júri, com representantes de sete regiões de Portugal Continental e ilhas.

Este ano, a votação do público bateu um novo recorde. Segundo os apresentadores, Vasco Palmeirim e Filomena Cautela, mais de 70 mil pessoas votaram nos dez finalistas.

As semifinais da 65.ª edição do festival Eurovisão da Canção estão marcadas para os dias 18 e 20 de maio e, a final, para o dia 22 do mesmo mês. Este ano, não há risco de o concurso, que reúne representantes de 41 países, não acontecer, visto que os concorrentes vão gravar as atuações nos seus países.

"Fizemos história"

Com “Love is on my side” Portugal leva à Eurovisão, pela primeira vez, uma canção integralmente em inglês, cantada por Tatanka, o vocalista dos The Black Mamba.

Tatanka é um dos fundadores dos The Black Mamba, banda formada em 2010 e que se move no universo dos blues, da soul e do funk. Em paralelo com os The Black Mamba, Tatanka iniciou uma carreira a solo em 2016, “num registo mais pessoal e de regresso às suas raízes, contando histórias e apresentando temas originais em português”. O álbum de estreia, “Pouco Barulho”, chegou em 2019.

"Fizemos história ao ser os primeiros a levar um tem em inglês à Eurovisão", disse o vocalista numa primeira reação à vitória. "Os únicos comentários não tão bons que tínhamos nas redes eram sobre a cantiga não ser em português”, disse Tatanka em resposta às perguntas dos jornalistas, colocadas por Joana Martins na emissão online do evento.

Durante a curta entrevista, Tatanka explicou ainda a origem do tema, inspirado na história verídica de uma mulher que a banda conheceu em Amesterdão durante a digressão de 2018. "Esta é a história dela. Saiu dos países do leste cheia de sonhos, cheia de paixões, depois [teve] problemas de toxicodependência que a levaram à prostituição. Apesar de a vida ter sido tão chunga para ela, ela sempre acreditou que o amor sempre esteve do seu lado. A história é essa história", explicou o autor e intérprete do tema vencedor.

“Temos esperança que ela oiça e diga: isto é a minha história", acrescentou.

Representar Portugal na Eurovisão é "uma honra" e uma "oportunidade para levar a nossa música além fronteiras".

"Não vires costas à cultura"

A reabertura da Cultura foi tema nesta final do Festival da Canção, ainda antes deste ir para o ar. Em jeito de antevisão da noite, Vasco Palmeirim sublinhou a importância desta edição "num contexto tão complicado como o da pandemia". O Festival da Canção é um "palco importante para os artistas mostrarem o que mais gostam de fazer", dizia o apresentador no Telejornal.

Já Romeu Bairos, o intérprete de "Saudade", tema dos Karetus, pediu que não se vire costas à Cultura. A mensagem estava estampada no colete do músico açoriano que, no final da atuação, despiu o casaco de forma a ficar visível o que tinha para dizer.

O apelo surge na mesma semana em que foi lançada a campanha da APEFE (Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos) subordinado ao mote "Será que os primeiros vão ser os últimos?".

No manifesto, que é acompanhado por vários vídeos, recorda-se que a cultura é um dos setores mais afetados pela pandemia em Portugal, registando quebras superiores a 80% durante o último ano.

"A poucos dias de conhecermos o 'calendário do desconfinamento' que será apresentado pelo Governo no próximo dia 11 de março, os mais de 130.000 trabalhadores do sector, só podem exigir que a cultura e todos recintos culturais, não sejam agora os últimos a retomar a sua actividade e remetidos para uma espera ainda mais penalizadora para um sector já tão duramente castigado", refere o comunicado publicado hoje na página oficial da APEFE.

Noite de homenagens

Numa homenagem ao fadista Carlos do Carmo, que morreu no primeiro dia deste ano, o guitarrista José Manuel Neto acompanhou Ricardo Ribeiro, Ana Moura e Camané na interpretação das canções nascidas em 1976, ano em que o fadista representou o país na Eurovisão.

Em 1976 a RTP optou por fazer o Festival da Canção em moldes inéditos, até então. O concurso foi aberto a todos os compositores que concorreram sob pseudónimo; o júri de seleção quando escolheu as oito canções não sabia quem as tinha composto e Carlos do Carmo foi convidado para interpretar todos os temas.

Esta noite voltou a ouvir-se "Estrela da tarde" (poema de Ary dos Santos e música de Fernando Tordo), "Uma flor de verde pinho"  (poema de Manuel Alegre e música de José Niza) e "No teu poema" (música e poema de José Luís Tinoco).

Dino D'Santiago juntou-se depois ao tributo com uma versão desconstruída de "Os Putos".

Em noite de celebrações, os Clã, acompanhados por Cláudia Pascoal e Filipe Sambado, que conhecem bem o palco do Festival, aceitaram o desafio e reinventarem  canções de três discos de referência no panorama musical em Portugal e que completam agora 50 anos.

De "Mudam-se os tempos mudam-se as vontades", primeiro álbum a solo de José Mário Branco, ouviu-se "Mudam-se os Tempos" e "O Charlatão"; de "Cantigas do Maio", de José Afonso, "Coro da Primavera" e "Maio Maduro"; e de "Os sobreviventes", de Sérgio Godinho, foram escolhidas "Que Força é Essa" e "Maré Alta".

Sérgio Godinho juntou-se, depois, ao trio de vozes para cantar "O Novo Normal", tema em jeito de reflexão composto durante o primeiro confinamento.