Quer tenha sido com a versão UK ou a versão USA, o mais provável é que já te tenhas, em algum momento, cruzado com a sitcom “The Office”. A série de comédia é uma das mais conhecidas e serviu de inspiração para muitas outras que se fizeram em todo o mundo. Mas há uns dias, estava eu à procura do conteúdo perfeito para te falar na newsletter de hoje, e cruzei-me com um título que me fez lembrar uma versão amaldiçoada desse clássico, quase como se fosse um “The Office” gone wrong num futuro distópico.
A série chama-se “Severance”, estreou há uns dias na Apple TV+, e acho que isso ajuda a perceber o porquê de não estar a ser tão falada quanto merecia. O grande protagonista da série é Adam Scott, um nome que me é muito querido pelo carinho que tenho a “Parks and Recreation”, e que aqui interpreta a personagem Matt. Para além disso, é também realizada por Ben Stiller, que, até agora, me parece ter feito um belíssimo trabalho.
Para te dar um bocadinho de contexto ao enredo (ou pelo menos o contexto possível, visto que ainda só saíram dois episódios), Matt é um dos trabalhadores da empresa Lumon, uma das maiores de Nova Iorque ligada à tecnologia, e acabou de ser promovido a chefe do departamento de Refinamento da Macrodata. Ainda que a promoção pareça uma coisa boa, Matt fica inquieto, visto que a posição era antes ocupada pelo seu work bestie, Petey, que desaparece misteriosamente.
E agora vocês estão provavelmente a pensar “Ah, mas o Matt podia simplesmente falar com o amigo e perceber porque é que ele se foi embora”. Não, não podia. E é aqui que a premissa de “Severance” nos prende. Basicamente, nesta empresa, os trabalhadores têm de ser submetidos a uma intervenção cerebral que faz com que vida profissional e vida pessoal não se misturem. Ou seja, o Matt dentro e fora da Lumon tem duas consciências completamente diferentes, sem que uma tenha qualquer noção da realidade que a outra enfrenta no dia-a-dia.
Dentro do edifício da Lumon, Matt é um trabalhador dedicado, com um dom para encontrar ‘números agressivos’ (um exercício de sinestesia é particularmente curioso), que assume a missão de desvendar o mistério do desaparecimento de Petey. Fora do trabalho, é um homem solitário e depressivo, com poucas capacidades sociais, agravadas pela perda da mulher e pela falta de identidade profissional.
Ao mesmo tempo que acompanhamos de perto os seus dilemas, são desvendados alguns detalhes sobre a origem e a logística quer da Lumon, quer do procedimento que separa o cérebro dos seus trabalhadores, através do ponto de vista de Helly, a nova estagiária que tem tudo para vir a ser a melhor aliada de Matt no futuro.
Neste mundo distópico, onde trabalho e lazer não se misturam nem para o bem nem para o mal, ao longo dos episódios, vamos percebendo as consequências que isto traz para o dia-a-dia das personagens. Se, por um lado, dá para nos assustarmos um bocadinho com a possibilidade de isto um dia se tornar real, também há vários momentos engraçados no escritório que nos roubam umas boas gargalhadas. Lá está, é como se “The Office” tivesse sido amaldiçoado.
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