Uma estilista norte-americana colocou à venda uma camisola idêntica à poveira como sendo sua e com influência mexicana. A peça, que custa 60€ em Portugal, está à venda por 695€ no site de Tory Burch — que a Forbes colocou na lista das 100 mulheres mais ricas do mundo em 2020. A história, conta a RTP, foi descoberta há mais de um mês por um poveiro a viver nos Estados Unidos, que avisou a autarquia da Póvoa do Varzim, que por sua vez alertou a empresa norte-americana.

"Documentámos com fotografias desta camisola que já temos desde o séc. XIX. Enviámos tudo e não obtivemos qualquer resposta. E verificámos esta semana que fizeram uma espécie de limpeza nas descrições, colocando só o nome Sweater Tunic, mas não fazendo qualquer referência quer à Póvoa do Varzim quer a Portugal, que era o que nós pretendíamos, uma vez que efetivamente é o nosso património", explicou à estação pública Ricardo Silva, presidente da União de Freguesias da Póvoa do Varzim.

A camisola poveira é feita de maneira manual com lã da Serra da Estrela e demora cerca de 50 horas até ficar pronta. Como frisa a RTP, cada camisola é única e está em processo de certificação. Os motivos bordados e o ponto de cruz estão associados à pesca e à ruralidade minhota. Já foi até utilizada por Grace Kelly e serviu de inspiração a uma coleção do estilista Nuno Gama.

As redes sociais da estilista estão repletas de comentários de portugueses indignados com a desonestidade demonstrada por Tory Burch — algo que levou a que fosse emitido um pedido de desculpas público na sua conta do Twitter.

"Pedimos sinceras desculpas aos portugueses. Ficámos a saber que atribuímos erroneamente uma camisola da nossa colecção Primavera 2021 como inspirada na Baja - México. Foi um erro não termos feito referência às bonitas e tradicionais camisolas de pescador tão representativas da cidade da Póvoa de Varzim. Estamos a corrigir este erro de imediato, e iremos fazer notar e honrar o facto de que esta camisola foi inspirada nas tradições portuguesas", escreveu.

Não só pediu desculpas na rede social, como a marca mudou a descrição no site onde vende camisola. Agora, refere "camisola inspirada na Póvoa de Varzim", colocando inclusive uma descrição da origem das camisolas poveiras e um pedido para clicar num link que redireciona para o site da autarquia. Antes das críticas, a influência era mexicana.

No entanto, o Expresso salienta que a marca ainda não explicou de "onde veio a ideia para as camisolas, onde são produzidas, quantas vendeu". Aliás, o semanário adianta mesmo que uma ação judicial estava para ser aberta até a autarquia ser contactada por uma representante legal da marca em Portugal, que tentou criar um protocolo que pusesse "fim à situação". No entanto, a questão não está resolvida.

Aires Pereira, presidente da Câmara da Póvoa do Varzim, explica ao semanário que o problema da autarquia nunca esteve no preço pedido pela Burch, mas no facto de se estar a utilizar um produto feito na Póvoa e usá-lo como se fosse da sua autoria. Por isso, vê com bons olhos um "protocolo duradouro", que permita apoiar o centro de produção das camisolas, na Póvoa. Ou seja, a Câmara não pretende ser indemnizada, ainda que a possibilidade de um processo judicial seja real, caso esse "protocolo duradouro" não se viabilize.