Para além de Portugal, o estudo, publicado na revista Scientific Reports, revela que a Baía da Biscaia e o norte de África são também destinos de inverno de uma parte da população de tubarões-frade "britânicos", enquanto outra parte permanece nas imediações das ilhas britânicas e da Irlanda.
Cientistas da universidade de Exeter, no Reino Unido, anunciaram que recorreram a sistemas sofisticados de rastreamento por satélite para fazerem "o mais detalhado estudo até ao momento" sobre as movimentações migratórias de inverno dos tubarões-frade no Atlântico nordeste, difíceis de estudar porque passam pouco tempo junto à superfície e frequentam habitualmente águas afastadas de terra.
Os investigadores colocaram transmissores em 70 tubarões, dos quais 28 transmitiram dados durante mais de cinco meses e revelaram que a maioria dos tubarões viajou para águas ao largo de Portugal, Espanha e norte de África, enquanto um número menor passou o inverno na baía da Biscaia.
Os dados recolhidos revelaram que os tubarões que se deslocaram para sul partiram no final do verão e início do outono e regressaram às ilhas britânicas no final da primavera e início do verão.
O estudo publicado hoje confirma indícios recolhidos em anos recentes e refutam a ideia, aceite até há pouco tempo, de que os tubarões-frade hibernavam em águas britânicas e da Irlanda.
O tubarão-frade ('Cetorhinus maximus'), que pode atingir 10 metros de comprimento, é a segunda maior espécie de peixe existente nos oceanos, a seguir ao tubarão-baleia ('Rhincodon typus'), que pode atingir os 15 metros. Apesar do tamanho, ambas as espécies alimentam-se essencialmente de plâncton.
A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classifica globalmente os tubarões-frade como espécie "vulnerável", mas a população do Atlântico nordeste está oficialmente classificada como "em perigo".
"Saber onde estes animais vivem nas diferentes épocas do ano permite compreender melhor as ameaças que enfrentam. É informação essencial para a proteção da espécie, sobretudo a confirmação de que se afastam bastante de águas britânicas, o que significa que os esforços de proteção e conservação têm de ser internacionais", afirma num comunicado da universidade de Exeter Philip Doherty, o investigador principal do estudo.
Philip Doherty adianta que "em termos de ameaças de origem humana, pensa-se normalmente na pesca comercial como o principal risco para estes animais de grande porte, mas questões como colisões com navios, lixo, e ruído são também fatores importantes".
Outro dos investigadores que realizaram o estudo, Matthew Witt, refere no artigo publicado na Scientific Reports que "é ainda desconhecido se cada tubarão faz a mesma migração todos os anos ou se alteram o comportamento segundo fatores como condição física, ciclos reprodutivos ou disponibilidade de alimentos".
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