Até para os mais distraídos, nomes como "Mr. Bean", "Johnny English" ou "Blackadder" não são indiferentes. Foi com eles que Atkinson se tornou numa figura amada no mundo inteiro, especialmente com "Mr. Bean", que se tornou numa das melhores personagens de humor de sempre, e possivelmente na mais conhecida em todo o mundo.
É incrível como uma personagem praticamente muda (criada com o seu amigo Richard Curtis, autor de "Love Actually", "Notting Hill", "About Life") foi capaz de, através das suas decisões e trejeitos, cativar tanta gente em tantos lugares:
14 episódios de 20 minutos transmitidos ao longo de 5 anos (juro que achava que eram mais);
E ainda 2 filmes que fizeram quase 500 milhões de dólares de bilheteira ("Mr. Bean em Férias" continua a ser uma das minhas comédias favoritas);
"Johnny English", "Blackadder" e a participação mais secundária de Rowan em filmes como "Love Actually" são prova de que ele também é capaz de ser engraçado com as palavras, apesar de, em criança, lhe ter sido diagnosticada uma gaguez que, ao que tudo indica, foi o showbiz que ajudou a ultrapassar.
Em "Man vs Bee", também co-criado pelo ator, vemos o melhor das facetas humorísticas que demonstrou ao longo da sua carreira. Aqui, a personagem de Atkinson é Trevor, um homem que acabou de arranjar um novo emprego como ‘housesitter’, que não tem propriamente uma tradução para português, mas é alguém que é contratado por um casal ou família para tomarem conta da sua casa enquanto estão fora em férias.
Depois de infortúnios em empregos anteriores (uma alegada embirração com um carrinho de compras) e um divórcio que o afastou da família, Trevor tenta agora recompor-se na vida e esta parece a oportunidade de que estava à procura. O problema é que aquilo que tinha tudo para ser uma tarefa simples acaba por virar muito mais complicado do que estava à espera.
A casa pela qual fica responsável pertence a um casal milionário que não só tem as tecnologias mais avançadas para tudo (desde a torneira do lava-loiça ao sistema de segurança), como tem espalhado pela casa obras de arte no valor de milhões, que têm de ser cuidadosamente tratadas. E há um cão chamado Cupcake pelo qual também fica responsável e que tem uma série de cuidados entre alergias, timings rigorosos e uma coleira também ligada a algumas das tecnologias da casa.
Mas, calma, há um manual com todas as instruções para que em caso de alguma dúvida, Trevor possa rapidamente saber o que tem de fazer.
A incógnita nesta série é uma abelha que logo no primeiro episódio entra pela casa adentro e vai fazer com que a personagem fique louca a tentar caçá-la da mesma forma que Walter White tenta apanhar uma mosca naquele episódio de "Breaking Bad". Em primeiro lugar, admiro o conceito de tentar apanhar uma abelha, quando a tendência normal (pelo menos deste que vos escreve) é fugir a sete pés ao primeiro zumbido que se aproxima da orelha. Em segundo lugar, também gostei da decisão da série de nos mostrar, logo nos minutos iniciais, uns flashforwards de que como vai terminar.
Há destroços, há coisas a arder, há Trevor em tribunal, mas não sabemos os acontecimentos e decisões que nos levam até aí sem ser que uma abelha animada com um CGI meio manhoso (mas que se aceita) vai desempenhar algum tipo de papel. Ver a série é uma experiência de ver uma situação aparentemente banal a escalar para níveis de caos inesperados, tudo por causa de uma irritação com um bicharoco.
E Rowan está na sua melhor forma nas maneiras ridículas que utiliza para apanhar a abelha, nos remendos que tenta fazer à casa, na forma como lida com a sua tecnologia e nas desculpas que dá ao casal milionário, às pessoas que lhe aparecem à porta e à família. Sabemos que o desfecho não vai ser bom, mas há algo na série que nos faz querer acompanhar o percurso. E episódios de 12 minutos também ajudam.
“Man vs Bee” é atualmente a 2.ª série mais vista da Netflix
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