O chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas tem feito dois discursos nesta data, um mais solene, de manhã, numa cerimónia militar em território português, e outro mais emotivo, ao fim do dia, perante comunidades portuguesas no estrangeiro - ou, como prefere dizer, no "território espiritual" da nação.
Este modelo inédito de dupla comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas foi lançado logo no ano da sua posse, 2016, em articulação com o primeiro-ministro, António Costa, e até agora decorreu entre Lisboa e Paris, entre o Porto e o Brasil e entre os Açores e os Estados Unidos da América.
Nesta quarta edição, entre Portalegre e Cabo Verde, Marcelo Rebelo de Sousa tentará, uma vez mais, com a ajuda do fuso horário, fazer as duas intervenções no próprio dia 10 de Junho, o que implica operações logísticas complexas para assegurar a atempada deslocação de todos os envolvidos entre os dois locais das celebrações.
O Presidente da República não quis seguir a tradição de longas cerimónias de condecorações no Dia de Portugal, preferindo distinguir pontualmente militares ou personalidades da emigração portuguesa, e optou por discursos curtos, de cinco a dez minutos, no máximo.
"Portugal" foi a palavra mais usada pelo chefe de Estado, 20 vezes nas cerimónias militares e 51 vezes perante os portugueses e lusodescendentes no estrangeiro. "Povo" aparece também em destaque, ao todo, 21 vezes, e "pátria" doze vezes.
O elogio aos emigrantes é uma constante. Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu sempre o seu "exemplo" de trabalho, em Paris, no Rio de Janeiro e em São Paulo, assim como em Boston, Providence e New Bedford. E tornou-se uma marca sua engrandecer os portugueses e Portugal proclamando-os "os melhores".
"Os Estados Unidos da América são um grande país, mas Portugal ainda é maior. Nós temos o melhor país do mundo", declarou, por exemplo, em Boston, no ano passado.
No seu primeiro 10 de Junho como Presidente da República, em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa assinalou a data no Terreiro do Paço, em Lisboa, que era o palco das celebrações no tempo do Estado Novo, e fez uma intervenção a aclamar "o povo armado" e "não armado" construtor da identidade nacional e o papel das Forças Armadas para a liberdade e a independência.
No ano seguinte, a cerimónia militar decorreu no Porto, onde abriu o seu discurso defendendo um Portugal "independente do atraso, da ignorância, da pobreza, da injustiça, da dívida, da sujeição" e "livre da prepotência, da demagogia, do pensamento único, da xenofobia e do racismo".
Em 2018, em Ponta Delgada, na ilha açoriana de São Miguel, o chefe de Estado afirmou Portugal como um país destinado a um "universalismo fraternal", que prefere "a paciência dos acordos, mesmo se difíceis, à volúpia das roturas, mesmo se tentadoras" e "o multilateralismo realista ao unilateralismo revivalista".
Marcelo Rebelo de Sousa terminou esse discurso com os primeiros versos do hino nacional: "Heróis do mar, nobre povo, nação valente, imortal".
O Presidente da República designou o jornalista João Miguel Tavares, natural de Portalegre, para presidir à comissão das comemorações do 10 de junho deste ano.
Em 2016, o escolhido para essa função foi o professor universitário e investigador João Caraça, doutorado em Física Nuclear, que é natural de Lisboa e dirigia, na altura, a delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris.
Em 2017, o presidente da comissão organizadora do Dia de Portugal foi o médico, professor universitário e investigador Manuel Sobrinho Simões, que é natural do Porto. E no ano passado, foi o escritor e filósofo açoriano Onésimo Teotónio Almeida, professor catedrático da Universidade de Brown, em Providence, Rhode Island.
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