Eram umas três da manhã. Os resultados da primeira volta das presidenciais brasileiras indicavam a vitória de Jair Bolsonaro, candidato da extrema-direita, com mais de 46% dos votos — ficando, por pouco, abaixo da linha dos 50%, que eliminaria a necessidade de uma segunda volta. Num bar em Salvador da Bahia, discussão acesa. Romualdo Rosário da Costa, 63 anos, influente mestre de capoeira, conhecido como “Moa do Katendê” é esfaqueado doze vezes, depois de se assumir contra Bolsonaro.
No meio da discussão, o autor, identificado como Paulo Sérgio Ferreira de Santana, de 36 anos, terá deixado o bar para ir a casa buscar uma faca. Quando voltou, deu doze facadas nas costas de “Moa do Katendê”. O mestre de capoeira morreu ali mesmo. Um sobrinho, de 51 anos, que o tentou defender, acabou no hospital, ferido num braço.
O alegado autor do ataque, fugiu para casa. Deixou um rasto de sangue, que indicou à polícia onde o encontrar. Deram com ele na casa de banho, com uma mochila com roupa, pronto a escapar, dizem as autoridades brasileiras.
O ataque motivou reações de várias figuras destacadas da sociedade brasileira, como Gilberto Gil, Caetano Veloso ou Daniela Mercury.
No Instagram, Caetano Veloso começou por escrever que Moa era um “amigo e foi uma das figuras centrais na história do crescimento dos blocos afro de Salvador. Estou de luto por ele. Não olho redes sociais. Abri o Yahoo! pra chegar ao email e vi a foto de Moa, sorrindo, o que me fez parar, meio alegre de vê-lo, e ter a terrível notícia” do ataque.”Fundador do Badauê, compositor, mestre de capoeira, Moa vive na história real da cidade e deste país”, completa o músico baiano.
Já esta terça-feira, à Globo, Caetano Veloso prossegue o alerta: "O assassinato de Moa do Katendê é um sinal de que a gente não deve seguir com força no caminho que as pessoas ilusoriamente pensam que é a superação, quando é atraso. É volta. É medo da responsabilidade e da civilização”.
Também nas redes sociais, Gilberto Gil diz que Moa se torna “uma das primeiras vítimas fatais dessa devastadora onda de ódio e intolerância que nos assalta nesses dias de hoje”. “Nosso luto e nossa esperança de que a sua imolação não tenho sido em vão e que nos ajude a encontrar a pacificação logo ali adiante!”, conclui.
A primeira volta das presidenciais brasileiras, no passado domingo, deixaram o candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL) muito perto de ser o substituto de Michel Temer. Com mais de 49 milhões de votos, o ex-militar chegou perto (46,05%) da marca dos 50%, que evitaria uma segunda volta.
Assim, terá de enfrentar Fernando Haddad (PT), o sucessor de Lula da Silva, que arrecadou pouco mais de 31 milhões de votos, ficando ainda longe do candidato do PSL, com 29,24% das preferências.
A segunda volta, ou turno, como lhe chamam os brasileiros, está marcada para 28 de outubro.
Comentários