Questionada pela agência Lusa a propósito do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), que aponta para um aumento da criminalidade grupal e associa o fenómeno à cultura do 'hip-hop', a psicóloga defende: "O que parece mais óbvio é que os grupos delinquentes, o consumo de substâncias, os estilos musicais, o estilo de vestuário, o afastamento da escola e a dificuldade em sair de círculos de pobreza, partilham cenários e co-existem".
"Então, em função do que estamos a estudar, encontramos relações! Mas, na verdade, mais parecem 'clusters'/agrupamentos de circunstâncias que levam aqui ou ali", acrescentou, referindo um trabalho em que participou há uns anos sobre os estilos de vida dos adolescentes e os seus comportamentos, designadamente o consumo de substâncias.
A especialista da Universidade de Lisboa, que coordenou a 'task-force' das Ciências Comportamentais criada por causa da pandemia e que já participou em diversos projetos de investigação na área da saúde mental, promoção da saúde e estilos de vida, diz que o confinamento imposto pela pandemia "foi um stressor para todos" e admite: "é plausível que, em algumas pessoas, leve ao retraimento e sintomas depressivos; noutras à transgressão, e essas trajetórias são partilhadas em grupos que depois tomam características distintivas".
Defende que este "desequilíbrio" pós-pandémico tem de ser abordado "com seriedade" e insiste que é preciso "ver como apoiar o restabelecimento de um reequilíbrio".
Segundo os dados do RASI revelados na quarta-feira, a criminalidade grupal foi uma das que mais cresceu entre 2020 e 2021, com um aumento de 7,7%, estando associado a este fenómeno a cultura do ‘hip-hop’ como principal forma de expressão.
O documento, aprovado na reunião do Conselho Superior de Segurança Interna e entregue na Assembleia da República, refere que na área da criminalidade grupal houve 4.997 participações registadas em 2021, mais 359 do que no ano anterior.
De acordo com o relatório, a criminalidade grupal está sobretudo associada a grupos de jovens, entre os 15 e os 25 anos de idade, com “vasto historial criminoso centrado essencialmente na prática de roubo, furto, ofensa à integridade física e ameaça, durante o período noturno”.
Associada, em parte, à criminalidade grupal, o ano passado registou também um aumento da delinquência juvenil, praticada por jovens entre os 12 e os 16 anos.
De acordo com os dados do relatório, o total de ocorrências neste âmbito passou de 1.044 em 2020 para 1.120 em 2021, o equivalente a um aumento de 7,3% depois de ter diminuído no ano passado.
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