Ainda em construção junto aos Passadiços do Paiva e segura por cabos de aço dispostos 175 metros acima do leito do rio, aquela que se antecipa como uma das principais atrações turísticas do distrito de Aveiro ainda só se pode apreciar ao longe, mas já exibe quase todo o gradeamento metálico que permitirá percorrê-la a pé, num trajeto que tem 516 metros de vão, e será ainda mais longo na prática, dada a curvatura aerodinâmica exigida ao tabuleiro.
O pórtico das Aguieiras é o ponto dos Passadiços mais próximo do pilar oeste da nova ponte, designada “516 Arouca”, e poucas foram as pessoas que na quarta-feira acederam a esse percurso pago ao longo das escarpas do Paiva, o que um dos zeladores da estrutura diz refletir uma afluência “muito fraca” comparativamente ao que era habitual.
“No fim de semana estivemos com lotação esgotada, mas isso também não foi nada de especial em relação ao que tínhamos antes, porque agora, com a covid-19, só podem entrar aqui 600 pessoas por dia”, contou José Amaral à Lusa, explicando que antes podia autorizar até 2.000 visitas por jornada.
O restaurante “Paiva à Vista”, a poucos metros de distância, tem a rampa de acesso decorada por fartas roseiras vináceas, mas nem elas atraem clientes à sua sala de refeições, silenciosa e vazia. Duas empregadas estão em ‘lay-off’, Lúcia Aguiar acumula o trabalho na cozinha com o serviço de mesa e, quando lhe perguntam como está o negócio, a resposta por trás da máscara é tão imediata que nem se percebe: “Péssimo”, assegura ela uma segunda vez.
“Quase não se vê por cá ninguém e, mesmo ao fim de semana, as pessoas já só pedem gelados, pregos no pão ou pica-pau, e pouco mais”, revelou. Reservas de cabidela, vitela e cabrito também não têm aparecido, apesar de a casa ter um pátio enorme com esplanada para os que mais receiem riscos de contágio pelo vírus SARS-CoV-2, e a esperança é que nos próximos meses os portugueses apostem efetivamente em destinos nacionais como Arouca, para ajudar à recuperação da economia.
“Claro que já não vai haver aquele ‘boom’ como quando os Passadiços abriram [em 2015], mas espero mesmo que isto melhore um bocado no verão e apareça mais gente. Nota-se que as pessoas agora organizam mais o passeio de forma a virem só de tarde, por exemplo, para não terem que fazer refeições fora, mas, se elas realmente fizerem turismo ‘cá dentro’ em julho e agosto, pode ser que isso compense, para a gente não desanimar”, argumentou Lúcia.
Ainda assim, a expectativa maior recai sobre a nova ponte: “Toda a gente tem curiosidade e está à espera que ela abra. Se não for uma coisa muito cara, a partir de outubro pode começar a atrair mais gente e no próximo ano já se verão alguns resultados”.
Ana Gonçalves e José Conceição visitaram na quarta-feira os Passadiços pela primeira vez, mas já prometeram regressar após a inauguração da ponte “516 Arouca” – que, segundo revelou a autarquia, “ficará concluída no início de julho e depois ainda continuará inacessível ao público até que se defina o seu modelo concreto de funcionamento”.
Ainda só tinham percorrido o primeiro dos oito quilómetros do percurso linear ao longo do Paiva e já Ana e José se mostravam entusiasmados com a paisagem, que, apesar do dia nublado, se revela por esta altura no seu auge: os verdes são intensos e bojudos porque ainda não houve calor suficiente para os amarelecer; os sobreiros seculares estão particularmente viçosos e farfalhudos; as margens do caminho estão pontuadas por margaridas amarelas, arbustos de flor branca, hastes altas de campainhas roxas e uma série de outras espécies cujo nome exato só os especialistas conhecem.
“Somos de Castelo Branco e viemos cá de propósito, mas ainda não sabíamos nada sobre esta ponte nova”, confessou Ana, reconhecendo-lhe “uma localização extraordinária”.
Mal viu ao longe a estrutura que se sustém 175 metros acima dos rápidos do Paiva, José disse logo à companheira que a queria atravessar, mas pouco depois José Amaral teve que o desenganar. O funcionário do pórtico explicou-lhe que a obra ainda não está pronta e o turista admitiu: “Estava com tanto entusiasmo que até fiquei desmoralizado”.
Ana quer regressar para testar a “516 Arouca”, mas é mais contida no ânimo, até porque já se pôs a imaginar o efeito do vento na ondulação da ponte. Mais habituado à adrenalina dos desportos de aventura, José já pensou em tudo e esclarece-a: “Se não se sentir a oscilação, a travessia nem tem graça nenhuma! Portanto, fica descansada que eu meto-te um bagacinho de manhã no café e depois não custa nada”.
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