Will.I.Am, músico e filantropo, partilhou numa das conversas da tarde, a importância da educação na sua vida — ele que aprendeu a escrever código recentemente — e na mobilidade social. “A educação que eu recebi foi transformacional”, começou por dizer, explicando que vem de um bairro muito pobre na zona este de Los Angeles, EUA.
Partindo do seu exemplo, explicou como criou a “i.am.angel foundation”, há 11 anos, em parceria com Laureine Powell Jobs. “Ensinamos aos miúdos ciência de computadores, róbotica e autonomia”, contou. Tudo sem que estes jovens tenham de sair deu bairro ou comunidade.
“Temos de garantir que estes jovens aprendam algoritmos complexos e como os treinar, para que os algoritmos os beneficiem. Porque, à medida que estes algoritmos estão a ser treinados, todos sabemos quem são as pessoas que não fazem parte dessa conversa. Como tal, todos sabemos quem vai sair prejudicado. É importante que não se repita a injustiça que temos atualmente”.
Alexandro Tappi, diretor de investimento (Fundo Europeu de Investimento, anunciou, em vídeo, que, no âmbito de um novo projeto para apoiar competências e educação para estudantes e formandos, o FEI irá assinar o primeiro acordo com a Fundação José Neves.
“Os mercados estão a mudar, as indústrias estão a mudar e os indivíduos têm adaptar-se a essas mudanças. Como tal, é fundamental que melhorem as suas competências e educação”, referiu.
Já James Higa, antigo chief of staff de Steve Jobs e agora filantropo, conversou com José Neves sobre uma preocupação que ambos assumiram partilhar: a lacuna entre a nova economia (digital) “e tudo o resto”.
“Como acha que podemos ajudar a preencher essa lacuna e qual o papel da filantropia, do conhecimento e educação digital para garantir que há um futuro equitativo para todos nós?”, questionou o líder da Fatfetch.
“De muitas formas, criar a tecnologia é a parte fácil”, respondeu Higa. “O papel da filantropia é preencher a lacuna da desigualdade, em que algumas pessoas têm a tecnologia e outras não. Esta é a questão definitiva da nossa geração”, continuou.
“O caminho que temos pela frente é fazer chegar estas ferramentas a toda a gente para que todos tenham os mesmos meios”, defendeu o antigo chief of staff de Steve Jobs.
“Fechar essa lacuna de oportunidade, porque o verdadeiro poder, o verdadeiro motor, a verdadeira criatividade, está nas nas pessoas. Quando dermos às pessoas as ferramentas é que veremos uma explosão de inovação e criatividade”.
Pedro Santa Clara, professor universitário e diretor da 42 Lisboa, "a maior revolucionária escola de programação", trouxe um cunho mais académico à tarde de conversas. Na sua talk, o professor começou por dizer que “nos próximos dez anos vamos assistir a uma revolução, a educação mudará mais nos próximos dez anos do que nos últimos mil”.
Este “exagero” aplica-se ao exemplo que deu de seguida. “Se algum professor da Universidade de Bolonha, que está prestes a completar 1000 anos, viajasse no tempo ia sentir-se em casa. A tecnologia da educação mudou muito pouco neste século, continuamos a colocar um professor à frente de um grupo de alunos a debitar conhecimento e no fim a fazer um teste ou um exame”.
“Esta linha de montagem que temos em todo o sistema educativo, funciona particularmente mal”, criticou.
“Agora temos tecnologia, podemos pensar em maneiras mais eficazes”, defendeu, dizendo depois que acredita "que as coisas vão mudar muito nos próximos anos”.
“Vamos assistir, nos próximos anos, a uma proliferação de diversos modelos de educação, que vão dar resposta aquelas que são as necessidades do futuro, e novos players”.
A fechar Naomi Campbell. A modelo, empresária e fundadora da organização de apoio a causas ambientais e humanitárias Fashion for Relief, falou sobre o seu trabalho filantrópico, em particular com a Fundação Nelson Mandela.
“Aprendi muito com ele e continuo a aprender, porque há coisas que vou recordando, coisas que ele me dizia. Sinto que a presença de Nelson Mandela é hoje mais importante do que nunca, neste momento em que lidamos com a quarentena, em que estamos confinamos e isolados. Penso no que ele terá sentido ao passar 27 anos confinado e isolado”.
A modelo e empresária contou ainda a história da Fashion for Relief, e de como utilizou a sua carreira e o mundo da moda para ajudar populações que estão a recuperar de desastres. Criada nos anos 90, a iniciativa teve, depois do Furacão Katrina, em Nova Orleães, uma segunda vida.
“O conceito evoluiu a partir daí. Continuamos a concentrar-nos na assistência pós-catástrofe, mas emergências, em conjunto com outras fundações e organizações que estão no terreno e que podem prestar esse auxílio imediatamente. Agora expandimos e também organizamos cimeira”.
José Neves questionou, a terminar, a modelo sobre qual será a prioridade do seu trabalho filantrópico. Campbell não se demorou: “É muito simples: é a educação”.
“A educação é a chave. Temos de ensinar competências às próximas gerações. Temos de investir no globo. Não dizer “global” e dizer de fora o continente africano e a Índia. É preciso chegar a esses lugares, a esses mercados emergentes. Temos de respeitar a cultura e de lhes dar um lugar à mesa.”.
O evento, a partir do Porto e com apresentação de Catarina Furtado, contou ainda com as intervenções do banqueiro António Horta Osório, de Niklas Zennström (fundador do Skype e da capital de risco Atomico) e de Jean-Philippe Courtois (vice-presidente executivo e presidente para a área de Global Sales, Marketing and Operations da Microsoft).
Ao lado do fundador da Farfetch, também Carlos Oliveira e António Murta, presidente executivo e administrador não executivo da fundação, respetivamente, foram os anfitriões da pequena conferência.
Reveja aqui:
Transformar Portugal através da educação orientada para o futuro
A Fundação José Neves (FJN), hoje apresentada, arranca com cinco milhões de euros para financiar bolsas de estudo para formações de nível superior a 1.500 estudantes nos próximos dois anos, com o objetivo de transformar Portugal numa sociedade de conhecimento.
Com o mote "Transformar Portugal através da educação orientada para o futuro", FJN arranca com dois programas: o ISA FJN — Income Share Agreement e o Brighter Future.
Para o ISA - FJN (Income Share Agreement), a fundação de José Neves vai investir cinco milhões de euros em "bolsas reembolsáveis" que vão apoiar os primeiros 1.500 estudantes a ter acesso a formações em mais de 100 cursos de 22 instituições de educação em Portugal.
Disponível a partir desta terça-feira, o Brighter Future consiste num portal de informação sobre educação e competências e que permite disponibilizar a toda a gente de forma gratuita informação factual sobre empregabilidade de cursos, salários, variação salarial dentro de uma mesma profissão, competências necessárias para profissões, disponibilidades regionais, entre outros dados.
De acordo com o números hoje apresentados, são mais de 200 milhões de registos provenientes de mais de 2500 ficheiros e fontes de dados. Em parceria com o INE, Universidade do Minho e de Aveiro resulta em mais de 50GB de dados e 200 gráficos de análise e 400 indicadores.
"Queremos começar a gerar impacto hoje e ter impacto a curto médio e longo prazo. Daqui a dez, vinte, trinta anos, queremos olhar para trás e medir esse impacto. Este é o primeiro passo de uma jornada", começou por dizer.
"Nunca lançaríamos a Fundação para fazer um evento e para falar de boas intenções, queremos começar a ajudar as pessoas, medir os resultados e prestar contas", salientou José Neves na conversa de apresentação.
Primeiro empresário português a integrar a Giving Pledge
Horas antes do lançamento oficial, num encontro com a imprensa, José Neves revelou que foi aceite na Giving Pledge, uma iniciativa de Bill e Melinda Gates e de Warren Buffett para filantropos que prometeram doar mais de 50% da sua fortuna. "No meu caso, foi dois terços”, revelou José Neves citado pelo 'Público'. O líder da Farfetch torna-se assim o primeiro empresário português a integrar este movimento lançado em 2010.
Rob Rosen, diretor do departamento de parcerias filantrópicas da Fundação Bill e Melinda Gates, em Seattle, deu, na conferência de lançamento da FJN, as boas vindas a José Neves.
“É com prazer que vemos a Fundação José Neves a investir também em áreas vitais, em prol do povo português”, disse.
“Com o compromisso de José, contamos agora com o compromisso de 211 pessoas de 24 países. Este grupo encontra motivação no desejo de partilhado de apoiar as pessoas e as comunidades cadenciadas em todo o mundo”, explicou.
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