
Uma importante autoridade ucraniana disse à AFP na terça-feira que Kiev fechou um acordo com Washington para a exploração desses recursos, cujo texto pode ser assinado já na sexta-feira.
O Kremlin reagiu esta quarta-feira e sublinhou que aguarda as "declarações oficiais".
Um fundo comum
O presidente norte-americano insiste que quer "recuperar o dinheiro" da ajuda concedida à Ucrânia desde o início da guerra, há três anos.
Fontes ucranianas referem que a proposta inicial de Washington equivalia a "extorquir-nos 500 mil milhões de dólares", quatro vezes o valor da ajuda de Washington até agora, de 120 mil milhões de dólares, segundo dados do Instituto Kiel para a Economia Mundial (IfW Kiel).
O presidente ucraniano rejeitou o acordo, recusando-se a assinar um documento que pesaria sobre "dez gerações de ucranianos".
Segundo uma fonte ucraniana informada sobre o conteúdo do acordo e contactada pela AFP na noite de terça-feira, a reivindicação financeira dos EUA não está no texto neste momento.
O documento prevê a exploração conjunta dos recursos minerais da Ucrânia pelos americanos e ucranianos e que os seus lucros sejam aplicados num fundo comum aos dois países.
Segundo a autoridade ucraniana, os americanos concordaram em remover "todas as cláusulas que não nos convinham, em particular a referente aos 500 mil milhões".
Porque é que os EUA querem os minerais da Ucrânia?
Minerais críticos "são a base da economia do século XXI", explicou o Dr. Muggah, diretor da SecDev à BBC. Estes minerais são essenciais para a energia renovável, aplicações militares e infraestrutura industrial e desempenham "um papel estratégico crescente na geopolítica e geoeconomia", disse ele.
Além disso, os EUA estão interessados num acordo sobre os recursos minerais da Ucrânia porque querem reduzir a dependência da China, que controla 75% dos depósitos de terras raras do mundo, de acordo com o Geological Investment Group, uma empresa de consultoria de mineração sediada na Ucrânia.
Em dezembro, a China proibiu a exportação de alguns minerais de terras raras para os EUA e limitou as exportações de minerais para os EUA no ano anterior.
Uma formulação vaga em relação à segurança
Como condição, Kiev pede aos aliados garantias de segurança, ou seja, um mecanismo político-militar que desencoraje a Rússia de lançar um novo ataque no futuro.
A Ucrânia acredita que a melhor garantia seria a adesão à NATO, um cenário rejeitado por Washington e considerado uma linha vermelha pelo Kremlin.
Outra exigência ucraniana é o envio de tropas de manutenção da paz, assim que um cessar-fogo for acordado com a Rússia.
Os Estados Unidos deixaram claro que não enviarão tropas próprias, embora acolham com satisfação o envio de soldados de países europeus.
O texto do acordo sobre minerais incluiria uma referência à segurança da Ucrânia, mas nenhuma garantia concreta. A questão está atualmente em negociação, segundo a autoridade ucraniana contactada pela AFP.
"Esta é uma cláusula geral, que indica que os Estados Unidos vão investir numa Ucrânia soberana, estável e próspera, e trabalharão por uma paz duradoura", disse.
Quais os minerais em causa?
A Ucrânia é responsável por cerca de 5% dos recursos minerais do mundo. Aqueles nos quais Trump está particularmente interessado não estão a ser explorados, são de difícil acesso ou estão localizados em território ocupado pela Rússia.
A Ucrânia produz três minerais essenciais em particular: manganês (oitavo maior produtor mundial, segundo o World Mining Data), titânio (11.º maior produtor do mundo) e grafite (14.º maior produtor), essencial para baterias elétricas.
A Ucrânia é responsável por "20% dos recursos mundiais estimados desse mineral", segundo o Serviço Geológico Francês (BRGM, na sigla em francês).
Segundo a mesma fonte, a Ucrânia é também "um dos principais países da Europa em termos de potencial" para a exploração de lítio, essencial na fabricação de baterias para carros elétricos.
A Ucrânia afirma ter "uma das maiores reservas" de lítio da Europa, embora não esteja a ser explorada atualmente. Explorar esses depósitos exigiria investimentos colossais.
Como exemplo, o governo ucraniano aponta que apenas a exploração da mina de Novopoltavske, na região de Zaporizhzhia, exigiria um investimento de cerca de 300 milhões de dólares.
Estima-se que haja cobre, chumbo, zinco, prata, níquel, cobalto e metais de terras raras. Mas tudo isso está em território ocupado pelos militares russos, e o Kremlin descartou ceder áreas sob o seu controlo.
Vladimir Putin disse, no entanto, que é a favor que os americanos invistam nessas zonas ocupadas.
Outro exemplo é a mina de Shevchenkivske, que contém lítio, tântalo, nióbio e berílio e está localizada a menos de 10 km da frente de batalha, no setor, Pokrovsk, onde o Exército russo ganha terreno das forças ucranianas há meses.
*Com AFP
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