Na missão Comet Interceptor (Intercetor de Cometa, em tradução livre), que tinha lançamento inicialmente previsto para 2028, participa a astrobióloga portuguesa Zita Martins, que faz parte da equipa internacional que vai analisar os dados que depois forem recolhidos.
Com esta missão, promovida pela ESA em colaboração com a congénere japonesa JAXA, os cientistas pretendem obter respostas sobre a origem da vida na Terra a partir de um cometa que nunca se aproximou do Sol e, por isso, se manteve inalterado desde a sua formação.
Em comunicado, a ESA refere que "a fase de estudo" da missão "está concluída" e que a construção da sonda principal "começará em breve", depois de ter sido selecionado o consórcio contratante.
A missão inclui uma sonda principal e duas mais pequenas que observarão o cometa de vários ângulos. Uma das sondas mais pequenas está a cargo da agência JAXA.
A Comet Interceptor vai colocar a sonda principal a 1,5 milhões de quilómetros da Terra, na direção contrária ao Sol.
Em conjunto com telescópios terrestres, um deles a ser construído no Chile, o aparelho irá permitir detetar um cometa proveniente da Nuvem de Oort, região nos confins do Sistema Solar, e eventualmente corpos interestelares que entraram no Sistema Solar pela primeira vez e estão na trajetória de aproximação ao Sol.
Assim posicionada, a sonda principal será um "ponto de espera" a um desses cometas, disse anteriormente à Lusa Zita Martins, professora no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, e especialista no estudo da origem da vida na Terra.
Depois de identificar o cometa até então desconhecido, a sonda viajará durante meses ou anos pelo espaço para estar no sítio e no momento certos para intercetar o cometa quando este cruzar o plano da elíptica, o plano da órbita da Terra em relação ao Sol.
Duas sondas mais pequenas serão libertadas da sonda principal antes de se aproximarem do cometa. São estes dois aparelhos que vão circundar o cometa e recolher o máximo de informação possível, incluindo sobre a composição da sua superfície, a forma e estrutura.
Todos os dados obtidos serão transmitidos para telescópios terrestres através da sonda principal com a qual comunicam.
Para Zita Martins, intercetar um cometa primitivo é como entrar na "máquina do tempo", uma vez que possibilitará desvendar quais "as moléculas orgânicas" disponíveis no início da formação do Sistema Solar e, assim, dar pistas mais concretas sobre a origem da vida na Terra.
"Apanhar" tais cometas tem sido difícil, uma vez que só podem ser detetados quando se aproximam do Sol pela primeira vez, deixando pouco tempo para planear e enviar uma missão espacial na sua direção.
Os cometas, vulgarmente descritos como "bolas de gelo sujas", têm na sua composição, além de gelo, poeira, fragmentos rochosos, gás e compostos orgânicos (estes últimos terão chegado à Terra fruto do impacto dos cometas na superfície terrestre).
Missões espaciais anteriores estudaram cometas que entraram várias vezes no Sistema Solar e passaram perto do Sol, que produziu alterações na sua superfície, escondendo a sua aparência original.
A sonda europeia Rosetta orbitou durante dois anos, entre 2014 e 2016, o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, que viaja entre as órbitas da Terra e de Júpiter. Foi a primeira vez que uma sonda orbitou um cometa e teve um módulo robótico na sua superfície.
A missão Comet Interceptor será lançada à boleia de uma outra, a Ariel, também da ESA, que vai estudar a composição química da atmosfera de exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar) já descobertos e que conta também com a participação de cientistas portugueses.
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