Estas posições constam de um artigo de José Pedro Aguiar-Branco sobre o novo ano de 2025, com o título “O triunfo do bom senso” e que hoje foi publicado no Jornal Económico.

Segundo o gabinete do presidente da Assembleia da República, o artigo de José Pedro Aguiar-Branco foi escrito antes da divulgação da mensagem de Ano Novo do Presidente da República, durante a qual, por coincidência, Marcelo Rebelo de Sousa também apelou ao “bom senso”, embora num contexto diferente, quando se referiu à solidariedade institucional e à cooperação estratégica entre órgãos de soberania, nomeadamente Presidente da República e primeiro-ministro. Um tema não abordado por José Pedro Aguiar-Branco.

No seu artigo, o presidente da Assembleia da República pede “uma dose reforçada de bom senso, desde logo, nas palavras e nos discursos”.

“Hoje o debate público no país está extremado, hiperbolizado”, critica o antigo ministro social-democrata. Como exemplo, aponta a recente discussão em torno do “descongelamento dos salários dos políticos - o último corte do tempo da Troika que faltava reverter - como se fosse o expoente máximo da corrupção do regime”.

Sem nunca se referir a qualquer partido especificamente, José Pedro Aguiar-Branco considera no entanto que “o país não é assim”.

“As pessoas desejam liberdade, mas também segurança; querem ordem pública, mas também tolerância; escolhem a prosperidade, mas não recusam a solidariedade social; valorizam a autonomia individual, mas também a vida em comum. Projetos radicais, destemperados têm pouca tração na sociedade portuguesa. Os portugueses são moderados e querem a paz social”, sustenta.

No seu artigo, depois de desdramatizar a atual circunstância de haver um parlamento com uma composição política fragmentada, o presidente da Assembleia da República assinala que, “muitas vezes, parece que o discurso político anda longe da vida das pessoas” e “adere mais facilmente a simplificações ideológicas, ou até a projetos de engenharia social”.

Neste ponto, deixa um aviso: “Os portugueses rejeitaram sempre essas pretensões, preferem uma política realista, preferem o bom senso”.

“Nenhum de nós foi eleito para deixar tudo na mesma, e os portugueses deram-nos um parlamento onde a ação, para acontecer, tem de ser concertada, tem de ser negociada. Precisamos de conversar mais e melhor”, defende.

Neste contexto, entre outros domínios, defende uma reforma na justiça, uma política educativa que ofereça estabilidade aos alunos e autoridade aos professores, e alterações à lei das incompatibilidades que tragam “os melhores para a política”.

“Nestes como noutros domínios, as reformas far-se-ão por consenso, ou não se farão de todo”, adverte.

Neste seu artigo, José Pedro Aguiar-Branco acentua ainda que o bom senso “faz falta na política migratória”.

“Os portugueses são instintivamente solidários e estão atentos aos dramas humanos de tantos refugiados e migrantes. Será sensata a política que souber articular o rigor com o humanismo; o controlo com a capacidade de acolher; o respeito pelo outro com a necessidade de integração na nossa cultura. E que assegurar, ao mesmo tempo, um combate firme às máfias de tráfico humano e à exploração económica dos migrantes”, defende.

Na política extrema, o presidente da Assembleia da República deixa novo recado, dizendo que o papel de Portugal no mundo “não é apenas nomear pessoas para cargos internacionais”.

“É tomar o seu lugar no concerto das nações e usar a sua posição estratégica, a sua capacidade de construir pontes e o seu legado de luta pela democracia e pelos direitos humanos, para defender as suas causas e os seus interesses. Dentro da União Europeia, Portugal deve apoiar o alargamento a leste, com datas concretas e um compromisso claro. Não podemos temer o alargamento, com o argumento de que nos fará perder fundos”, acrescenta.