Guerra no Oriente Médio
Israel prossegue a sua ofensiva militar contra o Hamas na Faixa de Gaza, como represália do ataque sem precedentes do movimento palestiniano de 7 de outubro de 2023 em território de Israel, que deixou 1.207 mortos do lado israelita, a maioria civis, e 251 reféns levados para Gaza.
Vários dirigentes do Hamas morreram, sobretudo o líder Ismail Haniyeh, a 31 de julho, em Teerão, numa explosão atribuída a Israel, e seu sucessor Yahya Sinwar, morto em Gaza em 16 de outubro por soldados israelitas.
A ofensiva de Israel ultrapassou os 45.000 mortos em Gaza em meados de dezembro, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.
As negociações de cessar-fogo não tiveram êxito e o território — onde quase 100 reféns permanecem em cativeiro, 34 deles declarados mortos pelo Exército israelita — está assolado numa grave crise humanitária.
No Líbano, por outro lado, Israel concordou no final de novembro, com a mediação dos Estados Unidos e França, com uma trégua com o movimento pró-iraniano Hezbollah, que em 8 de outubro de 2023 começou a disparar projéteis contra o norte do território israelita em solidariedade ao Hamas.
O cessar-fogo chega após dois meses de guerra, nos quais Israel realizou uma campanha maciça de bombardeamentos aéreos contra o sul do Líbano e o sul de Beirute, redutos do Hezbollah, bem como contra alvos no leste e no norte do país. Paralelamente, o Exército israelita lançou uma ofensiva terrestre no sul do Líbano desde 30 de setembro contra o Hezbollah, um aliado do Irão.
Em represália às mortes do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, num bombardeamento em Beirute, em 27 de setembro, e de Ismail Haniyeh, o Irão lançou a 1 de outubro 200 mísseis contra Israel, que em resposta atacou instalações militares iranianas a 26 de outubro, suscitando a ameaça de um conflito regional.
Segundo o Ministério da Saúde libanês, mais de 4.000 pessoas morreram no Líbano desde outubro de 2023. Do lado israelita, 82 soldados e 47 civis morreram na guerra contra o Hezbollah, segundo dados oficiais.
Queda de Bashar al Assad
Na Síria, a ofensiva relâmpago de uma aliança rebelde liderada pelo grupo islamista Hayat Tahrir al Sham (HTS), iniciada em 27 de novembro, conseguiu derrubar em apenas 11 dias o presidente Bashar al Assad, num país devastado por 13 anos de guerra civil. O autocrata, abandonado por seus aliados Irão e Rússia, fugiu para Moscovo.
Entre os símbolos da queda de Damasco está a libertação dos prisioneiros de Sednaya, a temida penitenciária na qual milhares de opositores da dinastia Assad, que governou o país durante mais de 50 anos, foram detidos, torturados e assassinados.
O novo governo responsável pela transição anunciou que as novas autoridades garantirão os direitos de todas as religiões no país, em resposta às preocupações das minorias e da comunidade internacional a respeito do passado jihadista de alguns grupos rebeldes, incluindo o HTS.
Israel efetuou centenas de bombardeamentos contra áreas militares na Síria, com o objetivo, segundo o governo, de impedir que arsenais de armas "caíssem nas mãos de elementos terroristas". Também ocupou a zona desmilitarizada das Colinas de Golã anexadas.
O regresso de Donald Trump
Apesar de ser conhecido pelos seus opositores como um perigo para a democracia, Donald Trump obteve uma vitória contundente em 5 de novembro sobre a democrata Kamala Harris, que entrou na disputa após a desistência do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Embora as sondagens previssem um resultado apertado, Trump venceu nos sete estados considerados os mais disputados. O Partido Republicano também conquistou a maioria na Câmara de Representantes e no Senado.
O magnata de 78 anos, cuja campanha foi marcada por duas tentativas de assassinato, quatro acusações judiciais, uma condenação criminal e o apoio do multimilionário Elon Musk, tomará posse a 20 de janeiro.
Ainda a Ucrânia
Após a sua contraofensiva mal sucedida em 2023, a Ucrânia — invadida pela Rússia de Vladimir Putin a 24 de fevereiro de 2022 — lançou um ataque surpresa na região da fronteira russa de Kursk.
Mas essa aposta ousada, que procurava forçar Moscovo a desviar as suas tropas do leste ucraniano, parece ter fracassado.
A Rússia respondeu com ataques intensos, e colocou as forças ucranianas, em menor número e com menos armas que os russos, sob pressão, especialmente na frente oriental no Donbass. A Coreia do Sul, juntamente à Ucrânia e o Ocidente, confirmaram a presença de soldados norte-coreanos a apoiar as forças russas.
Kiev utilizou mísseis de longo alcance americanos e britânicos contra o território russo pela primeira vez em novembro, após obter o aval de Washington e Londres.
A Rússia respondeu atacando a Ucrânia com um míssil balístico hipersónico de médio alcance de última geração, sem ogiva nuclear, e prometeu intensificar esses ataques se Kiev continuar a atacar a Rússia com mísseis ocidentais.
Putin também ameaçou bombardear os países que fornecem este armamento à Ucrânia, citando o possível uso de armas nucleares.
Repressão na Rússia
Vladimir Putin iniciou o seu quinto mandato na Rússia em maio, após vencer uma eleição presidencial que o Ocidente denunciou como uma paródia da democracia.
O seu principal opositor, Alexei Navalny, morreu em fevereiro sob circunstâncias obscuras na prisão no Ártico, onde cumpria uma longa pena por "extremismo".
A 1 de agosto, os países ocidentais e a Rússia realizaram a maior troca de prisioneiros desde o fim da Guerra Fria, incluindo o jornalista americano Evan Gershkovich e o ex-fuzileiro naval Paul Whelan, ambos libertados por Moscovo.
Desde então, a repressão dos opositores à guerra na Ucrânia não parou, com inúmeros processos por "sabotagem", "traição" ou "terrorismo" que terminaram com penas severas.
Paris e a festa olímpica
Os Jogos Olímpicos de Paris foram uma pausa agradável nas celebrações durante o verão no hemisfério norte, com a sua espetacular cerimónia de abertura no rio Sena e o regresso de Céline Dion interpretando entre lágrimas a canção 'Hymne à l'amour'.
Os eventos desportivos emocionaram o público e coroaram atletas como o francês Léon Marchand, a americana Katie Ledecky ou o brasileiro Gabriel dos Santos Araújo (atleta paralímpico) na natação, a ginasta americana Simone Biles ou o sueco do salto com vara Armand Duplantis.
Em Portugal foram campeões olímpicos Iúri Leitão e Rui Oliveira no Madison Masculino de ciclismo de pista, a segunda medalha olímpica para Portugal nesta modalidade, depois da prata de Iúri Leitão, no Omnium Masculino, dois dias antes, também em Paris.
Nestes jogos também o campeão olímpico Pedro Pichardo trouxe uma medalha de prata no Triplo Salto Masculino e Patrícia Sampaio conquistou o bronze no judo.
Seca e incêndios na América do Sul
Uma seca histórica que os especialistas associam à mudança climática gerou um recorde de mais de 400.000 incêndios na América do Sul em 2024.
No Brasil, ecossistemas como a Amazónia, o Pantanal e o Cerrado foram os mais atingidos, tendo mais de 234.000 focos até outubro, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
As chamas devastaram mais de 22 milhões de hectares entre janeiro e setembro, 150% a mais que no mesmo período do ano passado, segundo o órgão de monitoramento MapBiomas.
O fumo dos incêndios atingiu as principais cidades brasileiras, e chegou até Buenos Aires e Montevideu com o fenómeno conhecido como "chuva negra".
A Bolívia também foi muito afetada, com 7,2 milhões de hectares destruídos apenas na província de Santa Cruz, quase o dobro do ano anterior, segundo o governo.
Além dos incêndios que atingiram Bogotá e Quito, a Colômbia e o Equador sofreram uma seca que levou a longos períodos de cortes de energia e racionamento de água.
Segundo as autoridades, alguns dos incêndios deste ano também foram criminosos. O pior deles foi o de fevereiro, em Viña del Mar, no Chile, que causou a morte de 137 pessoas e destruiu milhares de casas.
Inundações mortais
As ondas de calor causadas pela mudança climática continuaram, com o seu rastro de altas temperaturas, secas e inundações mortais.
O sul e o leste da Espanha sofreram enchentes devastadoras, sobretudo a região de Valência, onde mais de 220 pessoas morreram.
No Brasil, pelo menos oito pessoas foram mortas nas tempestades que atingiram partes do centro e sudeste do país em outubro.
Em meados de novembro, a tempestade tropical Sara deixou dois mortos nas Honduras e outros dois na Nicarágua, e uma onda de destruição em outras partes da América Central.
Um setembro anormalmente quente coincidiu com chuvas extremas e inundações em todo o mundo: a tempestade Boris atingiu a Europa Central, o furacão Helena alcançou o sudeste dos Estados Unidos e os supertufões Yagi (Vietnã, Laos, Tailândia, Mianmar) e Bebinca causaram estragos na Ásia.
Desaceleração da China
A China lançou uma série de medidas nas últimas semanas do ano para apoiar o crescimento, incluindo a redução das taxas de juros oficiais e o aumento do limite de endividamento dos governos locais.
A segunda maior economia do mundo viu o seu crescimento ser prejudicado por uma crise imobiliária e pelo fraco consumo interno.
Também enfrenta disputas comerciais complicadas com EUA e União Europeia, depois de acentuados aumentos nas tarifas americanas sobre veículos elétricos, baterias e painéis solares chineses no final de setembro, enquanto Bruxelas impôs impostos aos automóveis elétricos chineses.
Pequim respondeu com "medidas antidumping temporárias" contra bebidas alcoólicas europeias, incluindo o conhaque francês.
Novamente a extrema direita europeia
As eleições europeias de junho confirmaram um avanço da direita nacionalista e radical na França, Alemanha, Bélgica, Áustria, Países Baixos e Itália.
Na Áustria, o Parlamento elegeu uma figura da extrema direita como líder pela primeira vez em outubro, após a vitória histórica do Partido da Liberdade (FPÖ) nas eleições legislativas de setembro. O partido ficou de fora das negociações para formar um governo por falta de aliados.
Em França, uma frente republicana formada para as eleições legislativas impediu que o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional chegasse ao poder, mas desencadeou uma crise política.
A Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita, venceu uma votação regional pela primeira vez em setembro e obteve bons resultados em outras duas.
Dezenas de cidades em Inglaterra e na Irlanda do Norte foram abaladas por atos contra a imigração alimentados por agitadores de extrema direita.
A polêmica reeleição de Maduro na Venezuela
O radical de esquerda Nicolás Maduro foi proclamado presidente reeleito da Venezuela para um terceiro mandato consecutivo (2025-2031) nas eleições de 28 de julho, um resultado confirmado pelo Supremo Tribunal de Justiça, embora a contagem detalhada dos votos ainda não tenha sido publicada, como estabelecido por lei.
A sua reeleição é contestada pela oposição liderada por María Corina Machado, que afirma ter uma cópia de mais de 80% dos registros de votação que publicou em num site para demonstrar o triunfo do seu candidato, Edmundo González Urrutia.
A proclamação de Maduro gerou protestos nos quais 28 pessoas morreram e 200 ficaram feridas.
González Urrutia pediu asilo em Espanha a 8 de setembro, depois que um mandado de prisão ser emitido contra ele.
EUA, União Europeia e a maioria dos países latino-americanos não reconheceram a reeleição de Maduro. Washington reconheceu González Urrutia como "presidente eleito" da Venezuela em novembro, um passo seguido no Equador e Itália e pelo Parlamento Europeu, que concedeu o Prêmio Sakharov ao opositor e María Corina Machado.
Maduro anunciou que assumirá o seu novo mandato a 10 de janeiro. González Urrutia também declarou que tomará posse no mesmo dia na Venezuela.
Herdeiro político do líder socialista Hugo Chávez, Maduro assumiu a presidência pela primeira vez em 2013.
Redes sociais controladas
As práticas nas redes sociais foram avaliadas de perto em 2024.
Preso no final de agosto na França, o fundador e diretor-executivo do Telegram, Pavel Durov, foi acusado de rejeitar qualquer tipo de moderação na sua aplicação de mensagens. A Justiça acusa-o pela passividade diante da divulgação de conteúdos criminosos.
O X, antigo Twitter, foi suspenso no Brasil por 40 dias em agosto, depois do seu proprietário, Elon Musk, se recusar a fechar dezenas de contas da extrema direita acusadas de espalhar desinformação. O serviço foi reativado em outubro, após a plataforma atender às exigências do Supremo Tribunal Federal relacionadas com o combate à desinformação.
Nos Estados Unidos, uma lei votada em abril obriga o proprietário chinês do TikTok a ceder esta rede social antes de 19 de janeiro. Segundo Washington, a plataforma permite às autoridades chinesas recolher indevidamente dados de utilizadores americanos. Caso a empresa não cumpra tal medida, o aplicativo será banido nos EUA.
A União Europeia investiga se o TikTok facilitou possíveis manipulações russas nas eleições presidenciais anuladas na Romênia.
A loucura da Taylor Swift
A cantora americana Taylor Swift continuou sua gigantesca digressão mundial "Eras Tour", que já ultrapassou a barreira simbólica dos mil milhões de dólares em receitas no final de 2023.
Este valor, que já representa um recorde, pode duplicar para 2 mil milhões de dólares no final da tour em dezembro no Canadá, segundo a revista profissional americana Pollstar.
Depois de percorrer os Estados Unidos e a América Latina em 2023, a "Taylormania" conquistou Tóquio, Sydney, Paris, Lisboa, Madrid e Londres este ano.
Na etapa final da sua passagem pela Europa, a cantora teve que cancelar três espetáculos em Viena após o anúncio de um possível ataque suicida.
*Com AFP
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