Damasco, capital da Síria, foi invadida por rebeldes, que tomaram o poder de Basher al-Assad, no último domingo, dia 8 de dezembro. Logo após as primeiras horas desta invasão foram milhares os sírios que se deslocaram à célebre prisão de Sednaya, a 30 quilómetros de Damasco. Tudo para tentarem encontrar sinais de vida de entes queridos, que não viam há anos e não sabiam se estariam vivos ou mortos. E ali foram encontrados corpos torturados e centenas de prisioneiros "praticamente esqueléticos".

Sednaya é tida como a maior prisão política da Síria e para onde eram enviados os opositores da família Assad, sendo mesmo conhecida neste país como 'matadouro humano'. Foi inaugurada em 1986 e de acordo com várias ONG estima-se que ali tenham sido enforcadas mais de 15 mil pessoas.

Este estabelecimento começou a receber presos apenas em 1987, 16 anos depois do início do governo do presidente Hafeez al-Assad (1930-2000), pai de Basher. A prisão era dividida em dois edifícios, o primeiro, o branco, apenas para militares desertores, e o segundo, o vermelho, para opositores do governo. No total, as duas infraestruturas poderiam albergar quase 20 mil pessoas.

Antes do início da guerra civil, em 2011, a maioria dos prisioneiros eram islamitas, que antes tinham combatido as tropas norte-americanas no Iraque, encorajadas pelo regime Assad, que posteriormente os aprisionou, quando regressaram a casa, de forma a evitar que estes ameaçassem o governo. Para ali foram enviados também milhares de manifestantes, activistas, jornalistas, médicos, trabalhadores humanitários ou estudantes.

Alguns prisioneiros que conseguiram sair de Sednaya contaram que não estavam autorizados a olhar para os guardas, a falar ou a fazer qualquer barulho, mesmo durante a tortura. Em caso de alguma infração, seriam privados de água, poderiam ter de dormir nus, entre outras provações.

Dizem os mesmos que os guardas recolhiam os corpos dos que morreram durante a noite e levavam-nos para um hospital militar, onde as suas mortes foram registadas como casos de insuficiência cardíaca ou respiratória.

Alguns ex-funcionários, que terão falado à Amnistia Internacional, revelaram que os presos eram torturados para depois confessarem algum crime, sendo levados depois a julgamentos que duravam "dois minutos".  Todas as semanas, a Amnitia revela que os guardas retiravam grupos de até 50 pessoas das suas celas, dizendo-lhes que estavam a ser transferidos para outras prisões. Contudo, eram sim vendados, espancados na cave da prisão e depois enforcados a meio da noite. Os funcionários da prisão chamaram aos enforcamentos em massa “a festa”.

Já ex-prisioneiros salientaram também que no edifício vermelho eram frequentemente submetidos a métodos de tortura, como espancamentos, violações e privação de alimentos. Já o edifício branco era utilizado para execuções, nomeadamente enforcamentos. Várias ONG acreditam que ali, onde também existia um crematório, terão sido executadas mais de 30 mil pessoas.

De acordo com o monitor de guerra do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, pelo menos 100 mil pessoas foram mortas sob tortura ou devido às péssimas condições nos centros de detenção da família Assad.

Desde o início do conflito, o governo do Presidente Basher al-Assad tem sido acusado de violações dos direitos humanos e de casos de tortura, violação e execuções sumárias.