Num palco montado no Rossio, no final da manifestação em Lisboa que durou cerca de hora e meia desde a Alameda, André Ventura pediu a todos que gritassem o que “a Europa inteira tem de ouvir a partir de Lisboa”.
“Aqui mandamos nós, aqui mandamos nós, aqui mandamos nós”, repetiu inúmeras vezes.
O líder do Chega admitiu que “uma manifestação não fará a transformação que Portugal precisa”, mas considerou que o protesto de hoje “é o tiro de partida”.
“O país costuma dizer que uma andorinha não faz a primavera, uma manifestação não faz a primavera. Mas é essa primavera lusitana, é essa primavera portuguesa que eu quero que vocês tenham no coração a partir de hoje: o maior movimento de sempre, de reconquista da alma nacional, de reconquista da nossa identidade e de reconquista desta bandeira”, disse.
Na audiência, ouviram-se gritos de “Reconquista, reconquista”, que é também o nome de um grupo ultranacionalista de extrema-direita.
Durante o comício e ao longo da manifestação, foram também audíveis os gritos de “Remigração é solução”, outro conceito utilizado pela extrema-direita para o retorno forçado de imigrantes aos países de origem.
No palco, Ventura não usou este termo, mas defendeu que não é ser radical defender que “quem comete crimes deve ser devolvido à sua terra”.
“A esses, sejam eles quem forem nós dizemos: deportação, deportação, deportação”, afirmou.
Num discurso de cerca de meia hora e sem qualquer referência a outros temas de atualidade, como o Orçamento do Estado, o líder do Chega agradeceu aos milhares de pessoas que se juntaram hoje ao protesto do partido, aos voluntários que formaram cordões de à volta dos manifestantes e às forças de segurança, que garantiram que “o direito à manifestação fosse respeitado”.
“Uma grande parte do país queria que hoje não corresse bem. Mas correu”, considerou.
A manifestação contra a imigração convocada pelo Chega registou momentos pontuais de tensão, na Avenida Almirante Reis, um deles com duas detenções, mas, em grande parte do tempo, assemelhou-se a uma grande ‘arruada’ de campanha.
No seu discurso no Rossio, Ventura voltou ao exigir ao Governo “o controlo das fronteiras” e a repetir que Portugal vai a caminho de “15% de população imigrante”.
“Um país sem fronteiras não é um país. É um terreno e uma bandalheira a céu aberto. A nossa luta é por este país e é para defender as fronteiras deste país”, disse.
O líder do Chega pediu que não se comparassem os emigrantes portugueses com os imigrantes que agora chegam ao país, defendendo que os primeiros “foram para trabalhar” e “nunca procuraram regras especiais”.
“O que está a acontecer em Portugal é um país que decidiu, em vez de promover a natalidade dos portugueses, permitir que aqui entrasse toda a gente sem qualquer controlo, sem regra e sem qualquer critério”, disse, rejeitando o rótulo de racista ou xenófobo.
Ventura disse receber queixas de pessoas de insegurança por todo o país e disse já não reconhecer um país onde “há tiroteios e facadas à luz do dia”.
“De repente, pouco a pouco, da habitação à saúde, passando pela nossa segurança, nós esquecemos o lema que devia estar no nosso coração sempre. É que Portugal tem que estar em primeiro lugar. E que os portugueses têm que estar em primeiro lugar.”, apontou.
No final, deixou um apelo aos que hoje se juntaram no protesto do Chega: “Não tenham medo. Eles vão invadir-vos de medo nos próximos meses. Eles vão invadir-vos de medo nos próximos anos”, disse, sem explicitar a quem se referia.
“Mas as grandes transformações da história sempre aconteceram assim. Com um país que deixa de estar adormecido e passa a acordar”, afirmou.
O comício terminou por volta das 18:00 e foi o culminar de uma manifestação que tinha saído da Alameda perto da 16:00, com milhares de pessoas a percorrerem cerca de 2,7 quilómetros entre os dois pontos em hora e meia.
Durante todo o percurso, dezenas de voluntários e funcionários do Chega, com coletes amarelos, faziam uma caixa de segurança na frente e nas laterais da manifestação, que foi sempre acompanhada por muitos elementos PSP.
Ventura foi sempre na linha da frente da marcha, ladeado por deputados e dirigentes do partido. No início, um grupo que integrava o líder do movimento de extrema-direita 1143, Mário Machado, tentou colocar-se logo atrás do presidente do Chega, mas foi impedido pelos seguranças do partido, seguindo mais atrás.
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