Considerada por muitos a mais terrível das guerras, a Primeira Guerra Mundial rebentou no século passado, a 28 de Julho de 1914. Durou mais de quatro anos, envolveu as principais potências da Europa e, ainda hoje, lança o pânico e ameaça fazer estragos.
Há menos de três meses foram encontradas 168 bombas da Primeira Guerra Mundial numas escavações em Longwy, perto da fronteira de França com o Luxemburgo. Foram necessários dois dias para a equipa de especialistas do Instituto Nacional de Investigações Arqueológicas Preventivas retirar os projéteis em segurança.
Um ano antes, em York, no Reino Unido, Rachel e Simon viajaram mais de um quilómetro com uma bomba da Grande Guerra no banco de trás do carro, aos solavancos, convencidos que tinham encontrado uma bilha de gás no lixo. A habitação do casal e as de mais 30 pessoas tiveram de ser evacuadas pelos serviços de emergência e diversas estradas foram cortadas por questões de segurança.
Em Outubro de 2021, outra descoberta. Desta vez, 1500 bombas da Primeira Guerra enterradas numa plantação de batatas obrigaram a evacuar a cidade francesa Levergies. Quatro dias para retirar as 28 toneladas de explosivos, mais de 100 pessoas e 15 especialistas em desarmar bombas participaram na operação. Se uma bomba rebentasse, rebentavam todas.
O rol de achados podia continuar: 31 Maio 2018, duas crianças de nove e dez anos, Paige e Sage, nadavam no Lago Lobdell, Michigan, quando encontram uma bomba da Primeira Guerra Mundial; 23 de Agosto de 2017, a neve derretida deixa à vista uma bomba nos Alpes, na zona turística de Trento, Itália; 15 de Novembro de 2014, o exército belga desativa mais uma das muitas bombas que vão sendo encontradas no país, agora em Melle, perto de Gante. Evacuadas 12 ruas, cerca de mil residentes, num raio de 480 metros.
A lista é extensa, mas nem sempre os encontros imediatos são com bombas. Em Potsdam, cidade que faz fronteira com Berlim, um grupo de operários ficou com irritações respiratórias e teve de ser assistido depois ter esbarrado com ampolas antigas, com agentes químicos, na obra em que trabalhava.
Quase mil alunos tiveram de ser retirados de duas escolas nas proximidades. As autoridades acreditam que os químicos encontrados serviam para testar a eficácia de máscaras de gás militares. Mas em Brandemburgo a descoberta de bombas, minas terrestres e granadas já é quase normal. De acordo com especialistas, 10% dos milhões de bombas lançadas sobre a Alemanha durante a guerra não explodiram.
Mas há achados ainda mais raros (e não tão perigosos). Em Novembro de 2020, em plena pandemia, um casal encontrou uma pequena cápsula com uma mensagem de pombo-correio enquanto passeava no campo em Orbey, França.
Apesar de escrita a lápis, mais de 100 anos depois o texto continuava legível, com a descrição de combates na região de Ingersheim, então cidade alemã, provavelmente em 1916. Hoje, cápsula e mensagem podem ser vistos no Musee Memorial Le Linge, em Orbey.
E nas guerras de hoje, que perigos deixamos para trás (ou para a frente)? As bombas de fragmentação são um deles.
As dez armas mais mortais da Grande Guerra
Na Primeira Guerra Mundial foram usadas algumas das armas mais mortais conhecidas até então. Os europeus entraram no conflito à espera de cargas de cavalaria tradicionais, mas a realidade revelou-se bem diferente: foi preciso enfrentar submarinos, metralhadoras e produtos químicos letais.
À medida que a guerra avançava, a indústria bélica avançava também, com desenvolvimentos devastadores, do velhinho arame farpado ao zepelim, do tanque Mark V ao submarino U-93. Acredita-se que foram usados mais de 3.000 substâncias químicas como arma, 50 delas no campo de batalha.
Criadas, modificadas e melhoradas, as armas da Primeira Guerra Mundial não causaram apenas baixas, mas criaram terror psicológico entre tropas e civis. Táticas e estratégias antigas foram perdendo importância à medida dos métodos trazidos pela inovação tecnológica.
Cravar, despedaçar, incinerar e asfixiar, tudo era válido para avançar sobre o inimigo. Estima-se que tenham morrido perto de 18 milhões, quase dez milhões de militares (tantos quanto a população portuguesa) e oito milhões de civis. Mais de 21 milhões de pessoas ficaram feridas. Esta é, por ordem decrescente, a lista das dez armas mais mortíferas de então.
10. Arame farpado O arame farpado foi inventado para abrigos de gado durante o século XIX e foi durante a Primeira Guerra Mundial que encontrou o seu caminho. Estima-se que só na Flandres tenha sido instalado o equivalente a um milhão e quinhentos mil quilómetros de arame farpado, 40 vezes o diâmetro da Terra.
Assassino, o arame farpado serviu para defender trincheiras e marcar terras de ninguém. Era usado pelos soldados, muitas vezes enterrado e com várias linhas, para atrair o inimigo para zonas de abate, carregadas de artilharia e explosivos.
9. Lança-chamas Desenvolvido em 1901, pelo alemão Richard Fiedler, franceses e ingleses também utilizaram os seus próprio modelos, mas com constrangimentos por causa das dificuldades do emprego e da extrema vulnerabilidade do seu portador (na Alemanha usaram presos para fazer este trabalho).
Tão devastador quanto a arma era o efeito psicológico que causava: o horror dos gritos dos soldados a arder e o cheiro a carne humana queimada tiveram consequências traumáticas. Apesar da repulsa, os lança-chamas, arma de curto alcance, ganharam popularidade.
8. Big Bertha Projetado em 1911, começou a ser produzido no ano seguinte. Na altura, era a mais poderosa peça de artilharia móvel e foi usada pelas forças alemãs para avançar pela Bélgica em 1914. Conseguia disparar projéteis com até 809 quilos a nove quilómetros de distância.
O nome Big Bertha foi uma homenagem a Bertha Krupp von Bohlen e Halbach, dona da Krupp, empresa que fabricou a arma. Durante o cerco de Liège, na Bélgica, um destes projéteis destruiu totalmente o Fort de Loncin (um dos 12 fortes construídos em volta da cidade), demonstrando a sua capacidade. O nome passou a ser utilizado pelos Aliados para toda a artilharia pesada alemã.
7. Fokker triplano É talvez o avião mais famoso da Primeira Guerra Mundial e foi a resposta alemã/holandesa ao conhecido triplano britânico Sopwith.
No total, foram produzidas 320 máquinas. O avião ganhou notoriedade quando foi pilotado pelo "Barão Vermelho" (Manfred von Richthofen), que abateu pelo menos 70 pilotos Aliados.
6. Maxim MG 08 Um aperfeiçoamento da metralhadora inventada por Hiram Maxim em 1884, a primeira totalmente automatizada, adoptada em 1908 (daí o nome) e que se manteve ao serviço alemão até 1942, altura em que foi retirada.
Na Batalha do Somme, travada em Julho de 1916 pelo exército do Império Britânico e de França contra a Alemanha, terá provocado 21.000 baixas só do lado britânico. A metralhadora disparava uma média de 500 tiros por minuto e tinha um alcance entre os 2.200 e os 4.000 metros. A arma tinha um mecanismo de arrefecimento, uma manga que envolvia o cano e que continha cerca de 4,5 litros de água.
5. Gás mostarda Arma química que provoca lesões na pele e nos pulmões, produzida pela primeira vez em 1822, em Inglaterra, através da mistura de etileno e dicloreto de enxofre. Os alemães usaram o primeiro gás mostarda em 1917. Ficou conhecido pelos Aliados como hot stuff ou apenas "H" até ao final da guerra.
O gás mostarda não era facilmente detetado, a menos que num ataque direto. Quando os soldados sentiam o cheiro, geralmente era demasiado tarde. As máscaras existentes raramente eram adequadas, e o gás passava pelos filtros. Era o "rei dos gases", mas havia outros. Estima-se que os agentes químicos tenham feito mais de 1,3 milhões de vítimas na Grande Guerra, 100 mil mortais).
4. Fosgénio e gás lacrimogéneo Os franceses foram os primeiros a usá-los em combate contra os alemães. O gás lacrimogéneo não foi pensado para matar, mas para incapacitar o inimigo, e abriu a porta a produtos químicos letais, como o cloro.
É aqui que entra o fosgénio, um gás incolor e altamente tóxico, com cheiro a feno fresco. Muito venenoso, uma vez absorvido pelo organismo transforma-se e liberta ácido clorídrico, tóxico para as células. O efeito pode fazer-se sentir apenas 48 horas depois da exposição e é o líquido acumulado nos pulmões que vai provocar a morte. Calcula-se que das 100 mil mortes provocadas por gás, 85% tenham sido provocadas pelo fosgénio.
3. Tanque Mark V Foi o último e maior tanque a servir na Primeira Guerra Mundial do lado britânico, uma versão atualizada do modelo IV. Tenha as mesmas características externas, mas um sistema de transmissão mais potente, a gasolina e eletricidade, e embraiagem múltipla. A autonomia era de 70 quilómetros, com uma capacidade para 450 litros de combustível, o suficiente para cerca de 10 horas em terreno acidentado.
O Mark V estreou-se na Batalha de Hamel, ofensiva do exército australiano e do exército americano sobre as forças alemãs. Antes do fim da guerra o tanque ainda foi usado em oito grandes combates.
2. Zepelim Um dos primeiros balões a ser usado na guerra, criado por um oficial alemão na reforma, o conde von Zeppelin. Os zepelins cheios de hidrogénio, capazes de viajar a cerca de 85 quilómetros por hora e de transportar até duas toneladas de bombas, eram usados inicialmente pelos alemães contra a marinha britânica (superior à alemã). À medida que a guerra foi avançando, os balões revelaram-se vulneráveis devido ao hidrogénio inflamável.
1. Submarinos (U-boot) "Unterseeboot", literalmente barco-submarino, é a designação dada pela marinha alemã aos seus submarinos, com a letra U seguida de um número. Em Maio de 1915, o U-20 afundou o RMS Lusitânia, um navio de passageiros britânico. O ataque a civis - 1.195 mortos, dos quais 123 americanos -, provocou comoção a nível internacional, apesar de se acreditar que a embarcação transportava dez toneladas de armas a bordo.
Este acontecimento poria a opinião pública americana contra a Alemanha e foi um fator importante no envolvimento dos Estados Unidos na guerra. No final de Janeiro de 2017, a Alemanha anuncia que os seus submarinos atacariam os navios mercantes sem qualquer pré-aviso, o que deu origem à primeira batalha no Atlântico.
O arsenal mais ameaçador da atualidade
Quando o presidente russo, Valdimir Putin, decidiu invadir a Ucrânia, a 24 de Fevereiro de 2022, uma grande parte dos observadores esperava uma progressão rápida e demolidora. Quase um ano e meio depois, houve avanços e recuos, mas a superioridade militar da Rússia não se confirmou (devido à ajuda do Ocidente).
Se a estratégia é fundamental no curso de uma guerra, para o conflito conta ainda a moral de soldados e civis, os aliados e, claro, o armamento utilizado. Dos cocktails molotov às bombas de fragmentação, estas são as armas que estão a fazer a diferença na guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
10. Javelin FGM-148 O míssil antitanque portátil de fabrico americano já tinha sido usado na Guerra do Iraque e tornou-se símbolo da ajuda ocidental à Ucrânia. O míssil, com um alcance de 4.500 metros, pode aniquilar uma coluna de blindados.
Produzido pela Lockheed Martin em parceria com a Raytheon, uma das vantagens é a facilidade do uso. Outra é o baixo custo: cada míssil custa 70 mil euros e a unidade de lançamento perto de 115 mil euros.
9. M142 Himars Significa high mobility artilery rocket system [sistema de artilharia de mísseis de alta mobilidade]. De alta precisão, tem um alcance de 70 a 560 quilómetros, dependendo da munição, e acomoda três: motorista, artilheiro e chefe de lançamento. Pode lançar seis foguetes quase em simultâneo e mudar rapidamente de posição.
De fabrico americano (Lockheed Martin), o Himars teve dois efeitos principais: forçar os russos a afastar os depósitos de munições, dificultando a logística, e utilizar mísseis de longo alcance para atingir alvos como pontes. O custo unitário estimado é de quase cinco milhões de euros.
8. Bayraktar TB2 O drone de design turco (Baykar) custa perto de 5,5 milhões de euros e tornou-se um dos veículos aéreos não tripulados mais conhecido do mundo. Considerado relativamente barato, regista o ataque em vídeo e num abrir e fechar de olhos alguns filmes tornaram-se virais, nesta era TikTok. Com 6,5 metros de comprimento, tem uma autonomia de 27 horas, um alcance de 150 quilómetros e - este parece ser o ponto fraco - uma velocidade máxima de 220 quilómetros por hora.
Mas há outros, como o drone kamikaze Switchblade. Projetado pela AeroVironment e usado por vários ramos das forças armadas dos Estados Unidos, é pequeno suficiente para caber dentro de uma mochila. É lançado por um tubo, voa para a área alvo e detona a sua ogiva com a colisão.
7. Bombas de fragmentação Conhecidas por causar grande número de vítimas, quando são accionadas libertam uma quantidade de projéteis ou fragmentos mais pequenos, que se espalham rapidamente. Costumam ser atiradas de médias e grandes altitudes. Muitas não explodem imediatamente e, como as minas, podem rebentar anos mais tarde, continuando a matar e a mutilar mesmo depois do fim da guerra.
A alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, garante que a Rússia já usou bombas de fragmentação na Ucrânia em ataques a áreas com civis “pelo menos 24 vezes”. Agora a Ucrânia é acusada do mesmo pela Rússia.
6. Mi-24 É um helicóptero de ataque produzido pela fábrica de helicópteros russa MIL. Pode ser equipado com metralhadoras ou mísseis ar-terra e ar-ar. Atinge os 335 quilómetros por hora e tem um alcance de 450 quilómetros.
De grande tamanho, as versões mais impressionantes são os Mi-25 e Mi-35. Os pilotos soviéticos chamam-lhes "tanque voador". O mais letal, no entanto, continua a ser o KA-52, "alligator", da Kamov, que custa cerca de 4 milhões de euros.
5. Sukhoi Su-34 Fabricado pelos russos pela Sukhoi, empresa do grupo United Aircraft Corporation, este avião caça-bombardeiro é utilizado para ataques terrestres, aéreos ou navais. Pode identificar alvos até 100 quilómetros de distância e atingir uma velocidade de 1.900 quilómetros por hora, com um alcance de quatro mil quilómetros e uma autonomia de dez horas.
Até Março deste ano registaram-se 19 casos de Su-34 russos perdidos, danificados ou abandonados desde o início da invasão da Ucrânia.
4. BM-21 Grad Trata-se de um lançador múltiplo de rockets a partir de um camião, também de fabrico russo. BM significa boyevaya mashina, "veículo de combate" e grad significa granizo.
É utilizado por mais de cinquenta países em dezenas de variantes e serviu dezenas de guerras. A Rússia tem vindo a substituir o Grad de forma ostensiva desde o início da década de 2010, especialmente pelo sistema Tornado, mas o BM-21 continua a ter amplo uso. Dispara até 40 quilómetros e pode lançar até 40 rockets em 20 segundos.
3. Armas termobáricas (ou bombas de vácuo) Consideradas das armas de guerra mais brutais, utilizam o oxigénio para gerar uma explosão de alta temperatura, com uma onda de duração mais longa e, muitas vezes, incêndio associado.
Não são adequadas para uso subaquático, altas altitudes ou condições climáticas adversas. São particularmente eficazes contra trincheiras, túneis, bunkers e cavernas. Estes mísseis explodem em duas fases: no lançamento e quando tudo é sugado na direcção do ponto de ignição.
2. Mísseis hipersónicos São vários os países que estão a tentar desenvolver esta tecnologia, mas os projetos têm vindo a ser abandonados porque não há ligas que consigam resistir ao atrito. A Rússia gaba-se de já os ter usado contra a Ucrânia, a Coreia do Norte, os Estados Unidos e o Irão garantem já ter realizado testes com êxito. Segundo especialistas, os mísseis hipersónicos representam um desafio para os radares devido à sua alta velocidade e grande capacidade de manobra: são capazes de atingir cinco vezes a velocidade do som, ou seja, mais de 6.100 quilómetros por hora.
O tipo usado pela Rússia é o Kinzhal (ou Kinjal), que significa punhal em russo, com oito metros de comprimento. Estes mísseis, que voam mais baixo do que os convencionais, conseguem atingir alvos até 2.000 quilómetros de distância, mas estão longe de corresponder à definição de hipersónico - capazes de voar nas camadas mais baixas da atmosfera sem se incendiar. O Kinzhal são mísseis aerobalísticos e têm sido interceptados e destruídos, exatamente porque quando voam mais baixo já vão a uma velocidade muito inferior.
1. Bomba atómica Uma guerra nuclear é o receio de todos. O primeiro teste, realizado pelos Estados Unidos, aconteceu em Trinity e marcou a entrada na Era Nuclear: libertou a mesma quantidade de energia do que cerca de 20 mi toneladas de TNT. Uma arma termonuclear moderna, com pouco mais de um quilo, pode produzir uma explosão equivalente a mais de 1,2 milhões de toneladas de TNT.
Ou seja, um pequeno dispositivo nuclear, do tamanho de uma bomba tradicional, pode arrasar uma cidade inteira através da explosão e por incêndios e radiação subsequentes. As armas nucleares são consideradas armas de destruição em massa. Duas bombas nucleares (Little Boy e Fat Man) foram utilizadas na Segunda Guerra Mundial, quando os EUA bombardearam as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Morreram mais de 200 mil pessoas, a maioria civis.
Há mais 20 países em guerra no mundo
A Rússia já dedica 20% do seu orçamento à Defesa e a Ucrânia 40% - dados que não são comparáveis, se tivermos em conta quer a dimensão dos dois Estados, quer a ajuda dos aliados. No entanto, estes dois países estão longe de ser os únicos em guerra e no mundo há atualmente conflitos armados em mais 19 nações.
Quando a invasão da Ucrânia fez uma ano, o secretário-geral da ONU afirmou que a guerra "causou a maior crise de violação de direitos humanos conhecida". No que toca a ataques à Declaração Universal dos Direitos Humanos, António Guterres não tem poupado esforços e todas as semanas lança avisos: Iémen, Haiti, Síria e Myanmar são apenas alguns exemplos.
No Iémen a guerra já provocou cerca de 250 mil mortos em nove anos, mais da metade por desnutrição, falta de assistência média e de infra-estruturas básicas. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) estima que 5 milhões de iemenitas estão à beira da fome e 2,3 milhões de crianças menores de cinco anos sofrem de desnutrição aguda. Já morreram 10 mil crianças como consequência direta dos combates.
O Haiti vive uma crise política de grandes proporções desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, a 7 de Julho de 2021. Os grupos armados controlam mais de 60% da capital, Porto Príncipe, onde cerca de 4,7 milhões de pessoas passam fome. Um levantamento recente da ONU mostra a violência dos gangues: só em 2022, mais de 1.400 pessoas foram mortas e outras tantas raptadas, violadas ou feridas.
A guerra civil na Síria começou em 2011 e já fez mais de 400 mil mortos, arrasou cidades e envolveu vários países estrangeiros. Há mais de 200 mil pessoas desaparecidas, além do êxodo provocado pelos conflitos. A população síria passou de 21 milhões em 2010 para menos de 15,4 milhões.
Myanmar enfrenta uma grave crise desde o golpe de Estado de Fevereiro de 2021, quando uma junta militar derrubou o governo da Prémio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi e decretou estado de emergência até hoje. Já morreram mais de 2.900 pessoas na repressão militar contra os dissidentes e mais de 18 mil foram detidas. Suu Kyi, de 76 anos, foi condenada a 33 anos de prisão, num processo considerado uma "farsa".
A República Democrática do Congo é um dos países mais pobres do mundo. No leste, a zona mais violenta, as milícias atacam, apesar da presença de 18 mil soldados das Forças de Manutenção da Paz da ONU. Os conflitos já provocaram a migração de cerca de 600 mil pessoas. O ressurgimento do M23, apoiado pelo Ruanda, ameaça uma guerra generalizada na região.
Os ataques do 11 de Setembro de 2001, que fizeram quase 3.000 mortos nos EUA, desencadearam uma série de guerras e de intervenções no Médio Oriente, nomeadamente no Afeganistão. Após quase 20 anos de guerra, as forças americanas retiraram-se do país em Agosto de 2021 e abriram espaço para o regresso dos talibãs.
Mas há outros países com conflitos ativos: Turquia (conflitos armados com curdos); Azerbaijão (disputa com Arménia da região Nagorno Karabakh); Paquistão (militância islamita); Índia (conflito com o Paquistão em Caxemira); Líbia (guerra civil); Somália (conflito militar-civil); Etiópia (guerra do Tigré); Sudão do Sul (guerra civil); República Centro-Africana (conflito armado); Moçambique (terrorismo interno); Nigéria (guerra do Biafra); Mali (conflito armado civil). E, desde ontem, mais um, o Níger (golpe de Estado).
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