O Presidente da República, o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, o chefe da Armada, almirante António Silva Ribeiro, o Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas, general Pina Monteiro, e todos à volta, agarravam-se como podiam para se equilibrarem aos 50.º graus de inclinação naquilo que é a “ponte de comando” do submarino, numa manobra a fazer lembrar o filme “Caça ao Outubro Vermelho”.
Tudo não passou da encenação de um ataque, claro, ao largo da Baía de Cascais, mas Marcelo estava impressionado. E gostou. “Muito bom, muito bom”, não se cansava de repetir numa tarde em que a sua boca não se abriu para qualquer comentário político sobre as autárquicas de domingo.
Nem um comentário às sucessivas viragens a estibordo ou bombordo, que o mesmo é dizer esquerda e direita.
Hoje não houve comentários às eleições como não havia submarinos norte-americanos a perseguir submarinos soviéticos, apesar de o “Arpão” se dirigir para o mar onde frequentemente se cruzam submarinos russos, que a Marinha acompanha quando atravessam ao largo de águas portuguesas.
Este foi o momento de emoção a bordo do submarino que nos próximos dois meses vai ajudar na missão da União Europeia a tentar travar as redes de contrabando e tráfico humano e evitar que morram pessoas na travessia de países de Norte de África para o Sul da Europa.
Palavras só as teve para os militares que hoje mesmo rumam pela Costa Sul até ao Mediterrâneo. Serão 25 dias debaixo de água, só com os periscópios para ver à volta, o que se passa. Dar informações sobre os barcos que passam, com ou sem imigrantes. E pouco mais se disse sobre a missão porque as ordens ainda não chegaram e são “classificadas”.
Marcelo agradeceu-lhes “em nome de Portugal” uma missão que, disse, prestigia as Forças Armadas portuguesas e dá “respeitabilidade internacional” ao país.
Depois de um abanão, causado pela ondulação, que desequilibrou militares e civis, Rebelo de Sousa elogiou a “capacidade de reação rápida” dos militares.
De política é que nem uma palavra. De Cascais, onde chegou à hora marcada, depois de desembarcar do “Arpão” para uma lancha da Autoridade Marítima, Marcelo já tinha à sua espera uma ronda de reuniões com os partidos políticos, um dia depois das eleições autárquicas que deram a vitória ao PS e em que o PSD saiu derrotado.
Na ponte de comando, o ministro Azeredo Lopes, com um sorriso, ainda sugeriu que a ronda poderia ser feita ali, no “Arpão”, mas Marcelo encolheu os ombros e não respondeu.
Por Nuno Simas / Agência Lusa
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