“Assédio abafado, abaixo o patriarcado” ou “Senhor reitor, responsabilize por favor” foram duas das várias mensagens que se ouviram na Alameda da Cidade Universitária, em defesa das vítimas de assédio sexual e moral e por medidas que responsabilizem os agressores.
O protesto, convocado pelo Movimento Contra o Assédio no Meio Académico de Lisboa na semana passada, acontece dois dias depois de terem sido noticiados dezenas de casos na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e as denúncias não foram esquecidas.
“Não foi por causa disso que fizemos a manifestação”, começou por dizer Inês Nowak, uma das fundadoras do Movimento, para acrescentar que o problema do assédio existe na sociedade em geral e, por isso, repete-se em várias universidades.
Para Inês Nowak, o objetivo do protesto foi, sobretudo, consciencializar a comunidade académica para essa realidade quase sempre silenciosa e que, coincidentemente, saiu esta semana da sombra com as notícias relacionadas com a Faculdade de Direito.
“Não é por não haver uma queixa ou por não haver uma percentagem ou uma estatística que não acontece. Não há essa estatística porque as vítimas têm medo, têm medo porque não confiam no procedimento de queixa e têm medo das represálias”, sublinhou.
Sobre as denúncias na Faculdade de Direito, que surgiram da abertura de um canal para que os estudantes pudessem apresentar queixa, Inês Nowak, que também é aluno daquela instituição, disse esperar que seja um passo para começar a falar do assunto.
Esse canal de denúncias partiu da iniciativa do Conselho Pedagógico da instituição e Milene Silva, membro do órgão, considerou que foi um passo que deve ser replicado por todas as universidades.
“A união das instituições com os alunos é essencial”, disse, justificando que “os alunos sozinhos também não conseguem trabalhar”.
Miguel Afonso, presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa, partilha a mesma opinião e recorda até a crise estudantil de 1962 para sublinhar a importância da mobilização dos estudantes.
“Da mesma forma que há 60 anos atrás, neste mesmo espaço da cidade, os estudantes defenderam os seus direitos, os estudantes da Universidade de Lisboa e de outras instituições estão aqui a fazer exatamente o mesmo sobre as questões atuais”, afirmou, acrescentando que “casos como estes têm de ser acautelados pelas nossas instituições”.
Em 2019, a Federação Académica de Lisboa já tinha promovido um estudo sobre a violência sexual no meio académico que revelou que um em cada três universitários da região de Lisboa tinha sido vítima de assédio.
A mesma Federação não subscreveu formalmente o manifesto que originou o protesto de hoje, mas o seu presidente não quis faltar e fez que estão de ir à Cidade Universitária demonstrar o seu apoio.
“Achei importante estarmos aqui a manifestar a nossa solidariedade para com todas as vítimas e testemunhas do assédio e, acima de tudo, nacionalizar este problema que nos toca a todos com comunidade académica”, disse o dirigente.
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