Neste Congresso da Batalha, distrito de Leiria, a intervenção de hoje de Francisco Assis foi mais aplaudida do que aquela que proferiu na reunião magna de 2016, apesar de ter voltado também desta vez a criticar a solução política deste Governo suportado no parlamento pelo Bloco de Esquerda, PCP e PEV.
Desta vez, para não ouvir apupos dos delegados socialistas, como aconteceu em 2016, Assis misturou as suas objeções à solução de Governo apoiado pela esquerda com referências a qualidades pessoais do secretário-geral do PS e primeiro-ministro.
"A solução [de Governo] é má, mas o primeiro-ministro é bom. Imagino o grande primeiro-ministro que poderás ser sem esta limitação da geringonça", disse, dirigindo-se a António Costa, que se riu com as palavras do antigo líder parlamentar socialista e um dos rostos do PS que representam a ala direita deste partido.
A intervenção de Francisco Assis foi também marcada por uma breve picardia com o presidente da Mesa do Congresso, Carlos César, depois de este o ter advertido que a sua intervenção já ia em oito minutos, em vez dos três estipulados.
"Carlos César, há quatro anos não usei da palavra. Fica a contar esse tempo. É uma devolução do tempo que não me deste há quatro anos", reagiu Francisco Assis, numa alusão ao diferendo que o levou a abandonar sem falar esse Congresso de 2014 na Feira Internacional de Lisboa (FIL).
A intervenção do cabeça de lista socialista nas europeias de 2014 começou com palmas na sequência do elogio à ação política e cívica do fundador do PS António Arnaut, que faleceu na segunda-feira.
Depois, Assis entrou nos temas de atualidade política, avisando os delegados que continua a discordar da atual solução governativa, embora, na sua opinião, tal não tenha feito de si "um homem distante do PS".
"Não mudei de opinião, mas há uma coisa que tenho de reconhecer: As minhas expetativas mais negativas não se confirmaram e isso deve-se em grande parte à capacidade de liderança de António Costa. Sei que não estão de acordo comigo, mas acho, francamente, que António Costa anestesiou muito o PCP e o Bloco de Esquerda, o que foi bom para Portugal", considerou.
Numa crítica implícita à ala esquerda do seu partido, o eurodeputado socialista advertiu que as coisas na vida "não são a preto e branco".
"Acho que o PS deve sair deste Congresso com a ambição de ganhar as eleições legislativas, mas não venho aqui dizer que deve triunfar com maioria absoluta, porque não é sério, tendo em conta as dificuldades de um só partido atingir essa fasquia com o nosso sistema eleitoral", justificou.
Mas o PS, de acordo com Assis, deve aspirar ganhar para "recuperar a centralidade na vida política nacional".
"O PS deve governar sozinho com disponibilidade para falar à sua esquerda e à sua direita, como várias vezes fez no passado. Não devemos ter a nossa autonomia estratégica e política limitadas por entendimentos preferenciais, seja com os partidos à nossa esquerda, seja com os que estão à nossa direita", vincou o eurodeputado socialista.
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