O Grupo Municipal do Bloco de Esquerda (BE) dirigiu no passado dia 10 de fevereiro 10 perguntas ao presidente da câmara, Rui Moreira, sobre a relação entre o Teatro Municipal e a autarquia e a interferência na autonomia da criação artística.
As perguntas surgiram dias depois de a dramaturga Regina Guimarães ter acusado a direção do Teatro Municipal do Porto de censurar um texto da sua autoria, escrito para integrar a folha de sala do espetáculo “Turismo”.
Hoje, num email enviado às redações, o grupo municipal do Bloco de Esquerda refere que a resposta que recebeu do chefe de gabinete de presidente da Câmara do Porto "é um retrato da displicência, da arrogância e da falta de sentido institucional com que o grupo político de Rui Moreira lida com quem não repete as suas opiniões".
O BE acrescenta que Nuno Santos "é chefe de gabinete, exerce funções públicas e convinha, portanto, que não se comportasse nesse papel como um 'hooligan' de uma claque".
Questionada pela Lusa, a autarquia declarou que o chefe de gabinete não vai responder ao Bloco de Esquerda através da imprensa.
No texto, aquele grupo municipal salienta que, pese embora esteja de acordo com a condenação por parte de Moreira "da censura que existiu no Teatro Municipal", não é "conivente" com "a atitude de fazer de conta que este é um debate apenas sobre o episódio da folha de sala", defendendo que o que está em causa "é mais vasto".
"É mais vasto e não vale a pena varrer para debaixo do tapete, por exemplo, o relato da atriz Sara Barros Leitão sobre a interferência da direção artística e executiva do teatro num projeto que os próprios tinham encomendado e que revela um 'modus operandi' inaceitável", sublinham.
Para o Bloco, o presidente da câmara e responsável pelo pelouro da Cultura "gastou muito tempo com formalismos para não responder ao essencial", pelo que remetem novo requerimento com as questões que querem ver esclarecidas.
"Finalmente, e depreendemos que provavelmente obscurecido pelo tom com que escreve, ou talvez fruto de uma sobreposição de questões tecnicistas e de detalhe, o Senhor Chefe de Gabinete, Dr. Nuno Nogueira Santos, acabou por não responder ao requerimento, o que é agravado pelo facto de remeter para o portal da câmara ou para a possibilidade deste grupo político da assembleia municipal assistir às reuniões do executivo, mediante autorização para tal, para ver as suas questões esclarecidas", lê-se no requerimento.
Entre as questões levantadas, o partido questiona porque é que o chefe de Gabinete da presidência da câmara assistiu aos ensaios de imprensa da peça "Turismo" e se isso acontece com todos os espetáculos".
Aquele grupo municipal pergunta ainda, por exemplo, porque convocou Moreira um Conselho Municipal da Cultura para 21 de fevereiro, não tendo incluindo este tema na ordem de trabalhos.
Na resposta a que o Bloco se refere, Nuno Santos afirma que as questões colocadas "estão constituídas a partir de pressuposto falsos, fazendo referências que não podem ser respondidas, como é o caso da que terá havido membros do executivo a assistir a um ensaio de imprensa da peça 'Turismo'".
"Não houve, que saiba a presidência e que seja do conhecimento de qualquer dos vereadores com pelouro. Desconhecemos - e não nos importa - se alguém da oposição assistiu. Cremos que não. Onde foi, então, o BE buscar tal informação? E, já agora, questiona-se: e se um membro do executivo assistisse, como assistiu o senhor presidente, a convite da presidente da OPART, a um ensaio de imprensa da Companhia Nacional de Bailado, no Rivoli? É o BE que estabelece quem pode ou não assistir a um ensaio no Teatro Municipal do Porto", lê-se na missiva.
O chefe de gabinete salienta ainda que o presidente da autarquia não se inibiu, na reunião do executivo, de "dar os esclarecimentos que entendeu, onde entendeu e quando entendeu", acrescentado que o BE, que não tem assento no executivo municipal, querendo pode assistir na bancada do público a tais reuniões".
Nuno Santos remete a resposta às restantes questões para a estrutura orgânica do Município, aprovada em Assembleia Municipal, "sendo a independência do diretor artístico do Teatro Municipal garantida, por muito que possa custar ao Bloco de Esquerda, pelo facto de ter sido escolhido por concursos público".
O chefe de gabinete acrescenta que o Teatro Municipal tem uma direção artística "que funciona nos exatos termos sufragados, duas vezes, em eleições autárquicas", sendo "nesses termos e perante as regras da democracia, que continuará a funcionar".
Comentários