Se por um lado, a percentagem feminina a concorrer ao sufrágio deste ano pouco alterou desde as eleições de 2014 (31%), por outro lado, aumentou significativamente o número de mulheres a concorrer ao cargo de vice-governadora, com 73 mulheres na corrida, e quatro mulheres na disputa pela vice-presidência brasileira.
As candidatas à vice-presidência nas Eleições de 2018 são Ana Amélia pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Kátia Abreu do Partido Democrático Trabalhista (PDT), Manuela D'Ávila pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e Sônia Guajajara que concorre pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
Já para o mais alto cargo do Estado, para Presidente da República, apenas duas mulheres disputam esta corrida.
Marina Silva concorre à presidência pelo partido Rede Sustentabilidade. Tem 60 anos, nasceu no Acre e já foi ministra do Meio Ambiente e senadora pelo estado onde nasceu. Esta é a terceira vez que Marina concorre à Presidência.
Vera Lucia é a outra mulher a disputar as presidenciais e encabeça o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Vera nasceu em Pernambuco, tem 50 anos, é formada em Ciências Sociais e é a primeira vez que se candidata à presidência.
O TSE contabilizou um aumento percentual de 9,4% no número de candidaturas femininas e de 8,7% das masculinas a cargos políticos. No entanto, mesmo com um crescimento das concorrentes femininas, a proporção entre homens e mulheres a disputarem um cargo público praticamente não mudou.
Em 2018 foram implementadas novas regras eleitorais com o intuito de mudar a realidade da representação feminina na política brasileira. Entre as novas regras estão destinar pelo menos 5% do Fundo Partidário para incentivar a participação das mulheres na política e disponibilizar 30% do tempo de televisão e de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha para as candidatas que disputem as eleições de outubro.
Segundo a cientista política Malu Gatto, professora da University City of London [Universidade Cidade de Londres, em português], em entrevista à BBC Brasil, este aumento de mulheres nos cargos políticos deriva de duas estratégias distintas dos partidos: garantir mais verba do fundo eleitoral e agradar a um grupo importante do eleitorado.
Para Malu Gatto, existe uma discrepância entre o número de candidaturas femininas e o real apoios dos partidos a essas mulheres que se candidatam, acrescentando que a culpa da baixa representatividade das mulheres nas eleições não é do eleitor.
"O que a gente vê é que, com a cota de género, os partidos começaram a nomear mulheres, mas não apoiam as candidaturas. Tem muitas mulheres registadas, mas elas não estão de facto a fazer campanha", afirmou a professora à BBC Brasil.
Entre os partidos com menor número de candidatas mulheres está o Partido Pátria Livre (PPL) com 28% de representação feminina, o Democratas (DEM) com 28,8% e o Partido Social Liberal (PSL) com 29,2%, partido esse que é encabeçado por Jair Bolsonaro, o candidato às presidenciais que obtém a maior percentagem de rejeição junto do eleitorado feminino.
Considerado uma pessoa polémica, que desperta paixões, ódios e controvérsia, Bolsonaro já foi condenado por injúria e apologia ao crime de violação após ter afirmado publicamente que uma colega parlamentar não merecia ser violada porque era muito feia.
A ofensa foi proferida contra a deputada Maria do Rosário após uma sessão na câmara baixa do Parlamento brasileiro, em 2003, quando, após uma discussão, Bolsonaro declarou que a deputada não merecia ser violada: “porque ela é muito feia, não faz meu género, jamais a violaria. Eu não sou violador, mas, se fosse, não iria violar porque não merece”.
E são as mulheres que mais se têm oposto ao candidato da extrema-direita, mobilizando vários meios para tentar impedir uma possível vitória de Bolsonaro.
Depois de terem criado um grupo na rede social Facebook, denominado “mulheres unidas contra Bolsonaro”, que rapidamente atingiu os 3 milhões de participantes, segundo a revista exame, o eleitorado feminino pretende levar o protesto também para as ruas.
Com protestos marcados por todo o país contra o candidato do PSL, as mulheres podem mesmo definir as eleições presidenciais brasileiras.
Segundo dados de uma sondagem realizada pela plataforma Datafolha e pelo jornal O Globo, 39,4 milhões de mulheres (51% do eleitorado feminino) ainda não sabem em quem votar. A percentagem representa o dobro do que acontece com o eleitorado masculino.
Cerca de 60% dessas mulheres moram em cidades do interior.
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