O parlamento britânico voltou hoje a chumbar o Acordo de Saída do Reino Unido da UE (com 391 votos contra e 242 votos a favor), decisão que surge após reuniões de última hora entre a primeira-ministra britânica, Theresa May, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em Estrasburgo, França, onde decorre uma sessão plenária do Parlamento Europeu.

Em declarações à agência Lusa, o eurodeputado centrista Nuno Melo afirmou ver “com muita preocupação” esta nova rejeição, “porque a UE não pode estender a mão a quem mantém as duas mãos nos bolsos e é um bocadinho isso que hoje acontece”.

Para o eurodeputado Paulo Rangel, do PSD, “a situação está cada vez mais complexa”.

“Para mim não há surpresa nenhuma neste chumbo, era uma coisa expectável, porque a primeira derrota foi por 200 votos e, portanto, seria extremamente difícil ultrapassá-la agora”, admitiu.

Paulo Rangel assinalou o impasse em que se fica, “porque, no fundo, o parlamento britânico ditará uma saída com acordo, mas não aceita o acordo que tinha sido negociado por todas as partes”, o que, no seu entender, “criará aqui um imbróglio grande”.

Já a eurodeputada Marisa Matias, do BE, reconheceu que este segundo chumbo era “já expectável”, sendo que, desde o início, o ‘Brexit’ é “uma soma de impasse, de indecisões, devido à forma como foi preparado este processo ou não foi preparado”.

Marisa Matias notou, porém, que “o Parlamento, a Comissão Europeia e, em particular, o negociador, Michel Barnier, fizeram o caminho até ao final no sentido da obtenção de um acordo”.

Questionada sobre próximos passos, a parlamentar recusou fazer previsões porque “todas falham e o que se está a assistir é a navegar à vista e deixar para trás o povo britânico com tamanha irresponsabilidade”.

Também irresponsável é o adjetivo usado pelo eurodeputado socialista Pedro Silva Pereira para este processo.

“Tivemos hoje mais um episódio desta aventura irresponsável do ‘Brexit’ e cada vez que vemos um episódio confirmamos a ideia de que houve quem envolvesse o Reino Unido numa aventura, sem medir as consequências, com total irresponsabilidade, e pretendendo uma quadratura do ciclo, isto é, sair da UE, e que as coisas continuassem como dantes”, disse, em declarações à Lusa.

A seu ver, o único cenário possível é o do adiamento da data de saída: “Nem concebo outro”, frisou

Visão diferente manifestou o eurodeputado do PCP João Ferreira, que vincou que “a questão essencial, mesmo com estes desenvolvimentos mais recentes, é que a vontade do povo britânico deve ser respeitada”.

“O povo britânico pronunciou-se de forma livre e soberana por uma saída do Reino Unido e esta decisão deve ser respeitada e esta saída deve ser efetivada”, reforçou João Ferreira.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, não conseguiu fazer passar o acordo apesar dos três documentos adicionados na segunda-feira que o Governo considerava terem as alterações necessárias para conseguir uma maioria de deputados favorável.

O Acordo de Saída negociado com Bruxelas foi submetido ao parlamento britânico pela segunda vez, depois de ter sido chumbado em 15 de janeiro.

Depois da votação e rejeição de hoje, os deputados britânicos votam na quarta-feira a possibilidade de o Reino Unido sair da União Europeia sem acordo.

Também na quarta-feira, haverá um debate no Parlamento Europeu sobre os novos desenvolvimentos do processo.