O projeto, que será apresentado no "I Encontro de Doença Celíaca" do Centro Hospitalar de Leiria, que decorre na quinta-feira no auditório do Hospital de Santo André, em Leiria, pretende ser "pioneiro não só na abordagem da parte do diagnóstico para sensibilizar os profissionais de saúde para um diagnóstico mais fácil e célere", mas também levando a que "o ambiente hospitalar seja favorável e de confiança para o doente celíaco", explicou a nutricionista Ângela Carvalho, salientando a importância de opções de alimentos sem glúten nas máquinas de ‘vending' do hospital.
A ideia do projeto surgiu de Estela Vicente, doente celíaca, que desafiou o hospital a dar atenção a estes utentes. "Sinto necessidade de fazer alguma coisa para que as próximas gerações não tenham de passar por aquilo que passei", explicou.
Estela Vicente foi diagnosticada com a doença celíaca há três anos, depois de muitos anos em sofrimento. "Passei um processo doloroso, longo, e sofri imenso até chegar a este diagnóstico", contou.
Segundo a utente, a "moda" de fazer uma alimentação isenta de glúten tem prejudicado os doentes celíacos. "O glúten está muito vulgarizado e vende. Nós, celíacos, não temos beneficiado absolutamente nada desta publicidade e acabamos por ser discriminados, porque pensam que é um capricho. Cabe-nos desmitificar e fazer com que os outros percebam um bocadinho o que é a doença celíaca".
As dificuldades destes doentes podem ser tão simples como um jantar num restaurante ou em casa de amigos. "Não é comer apenas comida isenta de glúten. Há a contaminação cruzada que tem de ser evitada. O glúten é volátil e basta alguém comer pão ao meu lado que pode contaminar os meus alimentos", explicou Estela Vicente.
Aliás, em casa, nem a torradeira pode partilhar com a família. Por isso, "este projeto inclui também a formação em manipulação de alimentos", acrescentou Ângela Carvalho, revelando que pretendem também criar um grupo de apoio aos doentes celíacos da região de Leiria.
A doença celíaca é uma patologia "autoimune que afeta o intestino delgado, podendo ter também outras manifestações extra digestivas", explicou a gastrenterologista Sandra Barbeiro, especificando que "está relacionada com uma reação ao glúten, que são umas proteínas que estão presentes em alguns alimentos".
Segundo a especialista, a maior parte dos casos "apresenta manifestações típicas como diarreia, dor abdominal e anemia. Nas crianças pode até existir atraso no crescimento". Mas "alguns os sintomas podem ser apenas alterações cutâneas ou alterações analíticas ligeiras e por isso dificulta o diagnóstico".
Sandra Barbeiro admitiu que também existe "alguma falta de conhecimento de outras áreas sem ser a gastrenterologia e em pensar este diagnóstico, o que pode atrasar um bocadinho o diagnóstico".
No serviço de Gastrenterologia do CHL são seguidos entre 40 a 50 doentes celíacos. "Não temos uma noção real do total de utentes. A prevalência da doença celíaca parece ser cerca de 1% da população".
Os doentes celíacos podem vir a sofrer de "subnutrição, doenças ósseas graves, como osteoporose, e a nível intestinal podem desenvolver-se linfomas ou neoplasias do intestino delgado".
Apesar de ser uma doença hereditária, com um "componente genético associado", Sandra Barbeiro alertou que "não é por ser portadora que irá ter a doença".
Por outro lado, "não existem evidências que se exclua o glúten da dieta quando os celíacos ou portadores dos anticorpos estão assintomáticos".
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