“Há um descontentamento forte meu e de alguns colegas em relação à forma como o processo [de Boaventura de Sousa Santos] foi conduzido. Deixámos de nos rever na instituição e saímos”, confirmou à agência Lusa o ex-diretor António Sousa Ribeiro.

António Sousa Ribeiro foi diretor do CES até meados do ano passado, altura em que a instituição decidiu convocar eleições antecipadas, tendo-lhe sucedido Tiago Santos Pereira.

Para além de António Sousa Ribeiro, desvincularam-se hoje do CES os investigadores João Arriscado Nunes, Adriana Bebiano, Maria Irene Ramalho e Graça Capinha.

Segundo este grupo de cinco investigadores seniores, o processo que culminou com a demissão do ex-diretor emérito Boaventura de Sousa Santos “caracterizou-se pela denegação sistemática do princípio fundamental da presunção de inocência, não tendo, assim, assegurado cabalmente o direito à defesa de que qualquer acusado deve beneficiar num Estado de Direito”.

“Nomeadamente, a decisão de não aguardar pelas conclusões do processo judicial em curso deixa transparecer em definitivo uma linha de ação inaceitável por parte dos órgãos de gestão de uma instituição em que os investigadores que agora se desvinculam deixaram de se rever”, justificaram.

Já no final de novembro, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos anunciou que renunciou ao título de diretor emérito do CES, do qual é sócio fundador.

Três investigadoras que passaram pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra denunciaram situações de assédio num capítulo do livro intitulado “Má conduta sexual na Academia - Para uma Ética de Cuidado na Universidade”, o que levou a que os investigadores Boaventura de Sousa Santos e Bruno Sena Martins acabassem suspensos de todos os cargos que ocupavam no CES, em abril de 2023.

O CES acabou por criar, uns meses depois, uma comissão independente para averiguar as denúncias, tendo divulgado o seu relatório quase um ano depois, em 13 de março de 2024, que confirmou a existência de padrões de conduta de abuso de poder e assédio, por parte de pessoas em posições hierarquicamente superiores, sem especificar nomes.

De acordo com o relatório então divulgado, à comissão independente foram denunciadas 14 pessoas, por 32 denunciantes, num total de 78 denúncias.

Uma semana depois, um grupo de 13 mulheres instou, num documento assinado por todas, as autoridades judiciárias portuguesas a investigarem com urgência as alegadas condutas criminosas mencionadas no relatório.

No final de setembro, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos intentou uma ação cível para tutela da personalidade no Tribunal Cível de Coimbra, com a qual procura assegurar a proteção do seu bom nome e honra, face a acusações de um coletivo de mulheres.

O julgamento no qual Boaventura de Sousa Santos procura assegurar a proteção do seu bom nome e honra, face às acusações do coletivo de mulheres, teve início a 15 de novembro.